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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Corrupção é o maior problema do país, diz Datafolha



Essa é a primeira vez que os brasileiros colocam a conduta criminosa no topo do ranking

Redação, 29/11/2015, www.veja.com.br


Sede da Petrobras, no centro do Rio de Janeiro. A Operação Lava Jato descobriu o escândalo de corrupção entre funcionários da estatal, políticos e grandes empreiteiras.

Realizada nos dias 25 e 26 em todo o país, 34% dos eleitores da Datafolha colocaram a corrupção como o principal problema do Brasil na atualidade. Logo em seguida, saúde aparece com 16%, desemprego com 10%, educação e violência com 8%, cada um, e economia com 5%. A pesquisa aconteceu em meio à Operação Lava Jato, que começou apurando a atuação de doleiros em 2014, cresceu com a descoberta de um esquema criminoso na Petrobras envolvendo funcionários da estatal, grandes empreiteiras e políticos, e depois se estendeu para o setor elétrico. A pesquisa foi publicada em reportagem do jornal Folha de S. Paulo na edição deste domingo.
O Datafolha investiga a principal preocupação dos brasileiros desde 1996, ainda durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso na Presidência. Durante o período tucano (até 2002), o tema líder no ranking de principais problemas foi o desemprego, com o recorde de 53% no fim de 1999. Em algumas rodadas, fome/miséria apareceu em segundo lugar na lista de preocupações, assunto citado por apenas 1% atualmente. Desemprego continuou em primeiro lugar no ranking até o fim do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006.
Sob Lula e FHC, corrupção nunca foi apontada como o principal problema do país por mais de 9% do eleitorado. O tema começou a ganhar força em junho de 2013, primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, mês de enormes protestos de rua pelo país com pautas variadas, da tarifa do transporte à violência policial. Naquele momento, a corrupção foi citada como maior problema por 11%, recorde na série histórica do Datafolha até então.
(Da redação)

A presidente é Dilma, mas quem governa é Lula



Por Augusto Nunes, 24/11/2015,
 www.veja.com.br

Texto de J.R. Guzzo publicado na revista EXAME

É coisa sabida há muito tempo que o Brasil, depois de todos os tipos de experiência, vive agora um novo modelo de organização política – a República sem presidente. No Diário Oficial, o cargo é atribuído à cidadã Dilma Rousseff, que vai às assembléias-gerais da ONU, por exemplo, ou a outros eventos sociais em que é requerida a presença de algum tipo de presidente da República, mas no mundo dos fatos concretos ela não preside nada há mais de um ano, pelo menos.
Deixou de exercer as funções de chefe do governo e da nação em algum momento de sua inesquecível campanha eleitoral de 2014, quando reduziu a Presidência a uma operação de marketing destinada unicamente à sua própria reeleição — junto com isso, usou sem a menor cerimônia o Tesouro Nacional para ganhar votos e terceirizou o governo para todos os diabos que lhe financiaram os 300 milhões de reais gastos em sua campanha. Depois de empossada no segundo mandato, e preocupada apenas em não ser deposta, nunca chegou de fato a governar; até hoje ninguém sabe o que Dilma quer, nem ouviu dela nada que pudesse ser chamado de “idéia”. De uns tempos para cá, enfim, deixou caracterizado o abandono de cargo — hoje não é ela quem demite e nomeia sequer os próprios ministros. “Fora Dilma”? Ela já foi. Ainda está lá de corpo presente, mas não está. Quem está é o ex-presidente Lula.
Um dos primeiros resultados desta situação já é bem visível para o público em geral: é nele, Lula, que vale a pena prestar atenção quando se pensa em governo no presente momento. Não resolve tudo sozinho, claro, mesmo porque ninguém resolve, e não pode resolver tudo como quer, mas não há nenhuma outra força maior do que a sua neste infeliz segundo mandato de Dilma Rousseff; é pura perda de tempo, no fundo, ficar procurando razões junto a uma presidente cujo impeachment já foi virtualmente aplicado por seu criador. Tudo bem, mas acompanhar os movimentos de Lula não parece estar sendo muito útil para se ver a situação com mais clareza, a começar pela economia. O que o ex-presidente pretende fazer? O mais provável é que nem ele saiba direito — ou melhor, até sabe o que quer, mas em termos concretos ainda não sabe como chegar lá.
Lula (e mais um monte de gente) tem certeza de que não dá para ficar olhando passivamente uma recessão de 3% ao ano, como está acontecendo em 2015 — um desastre de tamanho inédito que não pode ser aceito para 2016, 2017 e sabe-se lá quanto tempo mais. Não pode ser aceito, sobretudo, pelo próprio Lula. Seria um veneno provavelmente fatal para o projeto mais importante, talvez o único, que tem: voltar à Presidência da República nas eleições de 2018, pois está convencido de que nem ele, nem o PT conseguirão sobreviver politicamente fora da máquina do governo. Seu retorno ao Palácio do Planalto seria também o atalho mais eficaz, aparentemente, para ele se livrar de sua atual coleção de problemas potenciais perante a Justiça Penal. Assim estamos, portanto: a economia tem de se recuperar com urgência, pois com recessão não existe Lula em 2018.
A complicação é de bom tamanho, pois as estratégias do ex-presidente para reagir às calamidades fabricadas por sua criatura não inspiram maior confiança, pelo menos até agora. Lula parece acreditar que, demitindo o ministro Joaquim Levy e colocando algum outro em seu lugar (tem se falado muito em seu velho parceiro Henrique Meirelles), o grosso do problema vai embora. Imagina, também, que o governo pode liquidar a recessão assinando medidas administrativas — menos juro, mais crédito, menos competição, mais favores a empresas que prometem “empregos”, menos saneamento fiscal, mais gasto público, mais dívida, mais imposto. Acha que resultados duvidosos do passado são garantia de sucesso futuro — e continua convencido de que, no fundo, tudo se resolve com “comunicação” e “imagem”.
Sai Dilma e entra Lula, pelo que se vê — mas, na prática, o que isso pode resolver? Vai ser preciso combinar com a realidade, e aí sempre fica difícil.

Bom só para ele



O deputado Celso Russomanno é flagrado pela terceira vez pagando empregados com dinheiro do contribuinte

Por Kalleo Coura, 29/11/2015,
   
REINCIDENTE SERIAL  - Russomanno, sobre o seu terceiro flagrante: “Não fiz nada de irregular”

Estando “bom para ambas as partes...” O bordão criado nos anos 90 para um quadro de defesa do consumidor de um programa de TV ele repete até hoje. De lá para cá, no entanto, muita coisa mudou na vida de Celso Russomanno. Ex-office boy, ex-colunista social e apresentador de TV, ele entrou para a política, elegeu-se deputado federal pelo PSDB, candidatou-se a prefeito de Santo André pelo PPB, a governador de São Paulo pelo PP e, em 2012, a prefeito da cidade pelo PRB. Na ocasião, chegou a ocupar o primeiro lugar na disputa (terminou em terceiro, fora do segundo turno). Agora, tentará a sorte novamente como candidato à prefeitura de São Paulo, e, desta vez, larga como favorito, com 34% das intenções de voto, segundo o instituto Datafolha. A vida de Russomanno deu muitas voltas, mas certas práticas do deputado permaneceram imutáveis.
Na semana passada, uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo revelou que ele mantém ao menos cinco servidores públicos, remunerados com verba parlamentar, como funcionários da entidade que preside em São Paulo, o Instituto Nacional de Defesa do Consumidor (Inadec). Não é a primeira vez que o deputado recorre à prática de usar dinheiro do contribuinte para pagar seus empregados. Nem a segunda.
De 1997 a 2001, quando era deputado federal, Russomanno designou a assessora de gabinete Sandra de Jesus para dar expediente em sua produtora, a Night and Day. Pela prática, foi condenado por peculato pela Justiça Federal em fevereiro do ano passado. Recorreu da decisão.
Em 2010, o deputado incluiu Fabiane Brejan no quadro de funcionários de seu gabinete na Câmara. Na prática, porém, Fabiane atuava como coordenadora de sua campanha ao governo de São Paulo. Ela entrou com uma ação trabalhista contra o ex-patrão e ainda o acusou de assédio moral. Em 2012, as partes firmaram um acordo pelo qual Russomanno aceitou pagar 205 000 reais à ex-funcionária.
Pego agora em seu terceiro flagrante, Russomanno se diz injustiçado. "De irregular, não estou fazendo absolutamente nada", afirma. Sua versão é que seu escritório político (a que os deputados têm direito) e o Inadec funcionam no mesmo endereço, mas os servidores não trabalham no instituto. A afirmação é posta em xeque por uma atendente que dá expediente na entidade, Márcia Renata de Mattos. Ela recebe 5 095 reais mensais como funcionária de gabinete do deputado e pode ser vista no local orientando compradores lesados em busca de ajuda. Como paladino dos consumidores, Russomanno está se saindo um ótimo lesa-contribuinte. Mas se está bom para ele...

domingo, 29 de novembro de 2015

República de bandidos



Por Augusto Nunes, 27/11/2015,
 www.veja.com.br

Editorial do Estadão:
                                          
Ninguém melhor do que a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, para expressar o sentimento de frustração que atinge em cheio os brasileiros: “Na história recente da nossa pátria, houve um momento em que a maioria de nós acreditou no mote segundo o qual a esperança tinha vencido o medo. Depois, nos deparamos com a Ação Penal 470 (o mensalão) e descobrimos que o cinismo tinha vencido aquela esperança. Agora se constata que o escárnio venceu o cinismo”. Nessa síntese está toda a trajetória dos embusteiros petistas que, desde a primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, prometeram fazer uma revolução ética e social no Brasil e agora, pilhados em escabrosos casos de corrupção, caçoam da Justiça e da própria democracia.
O mais recente episódio dessa saga indecente, ao qual Cármen Lúcia aludia, envolveu ninguém menos que o líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral. Em conluio com o banqueiro André Esteves, o petista foi flagrado tentando comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, que ameaçava contar o que sabia sobre a participação de ambos no petrolão.
As palavras de Delcídio, capturadas em áudio gravado por um filho de Cerveró, são prova indisputável da naturalidade com que políticos e empresários se entregaram a atividades criminosas no ambiente de promiscuidade favorecido pelo governo do PT. Como se tratasse de uma situação trivial – a conversa termina com Delcídio mandando um “abraço na sua mãe” –, um senador da República oferece dinheiro e uma rota de fuga para que o delator que pode comprometê-lo e o seu financiador suma do país. Os detalhes são dignos de um arranjo da Máfia e desde já integram a antologia do que de mais repugnante a política brasileira já produziu.
Delcídio garantiu a seus interlocutores que tinha condições de influenciar ministros do Supremo Tribunal Federal e políticos em posições institucionais destacadas para que os objetivos da quadrilha fossem alcançados. O senador traficou influência. Mas o fato é que, hoje, as ramas corruptas que brotam do sistema implantado pelo PT se insinuam por toda a árvore institucional – com raras e honrosas exceções, entre elas o Supremo, que vem demonstrando notável independência.
Exemplo do contágio é que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), estão sendo investigados pela Lava Jato. A nenhum dos dois ocorreu renunciar a seus cargos para que não sofressem a tentação de usar seu poder para interferir no processo, como já ficou claro no caso de Cunha. Renan, desta vez, tentou manobrar para que fosse secreta a votação do Senado que decidiria sobre a manutenção da prisão de Delcídio, na presunção de que assim os pares do petista o livrariam, criando uma blindagem para os demais senadores – a começar por ele próprio. Temerosos da opinião pública, os senadores decidiram votar às claras e manter Delcídio preso.
Enquanto isso, o PT, com rapidez inaudita, procurou desvincular-se de Delcídio, dizendo que o partido “não se julga obrigado a qualquer gesto de solidariedade”, já que o senador, segundo a direção petista, agiu apenas em favor de si próprio. Se Delcídio tivesse cometido seus crimes para abastecer os cofres do PT, seria mais um dos “guerreiros do povo brasileiro”, como os membros da cúpula do partido que foram condenados no mensalão e no petrolão.
O PT e o governo não enganam ninguém ao tentar jogar Delcídio aos leões. O senador era um dos principais quadros do partido, era líder do governo no Senado e um dos parlamentares mais próximos da presidente Dilma Rousseff e de Lula. Sua prisão expõe a putrefação da política proporcionada pelo modo petista de governar.
Também ninguém melhor do que a ministra Cármen Lúcia, que resumiu a frustração dos brasileiros de bem, para traçar o limite de desfaçatez e advertir a canalha que se adonou da coisa pública sobre as conseqüências de seus crimes: “O crime não vencerá a Justiça” e os “navegantes dessas águas turvas de corrupção e das iniqüidades” não passarão “a navalha da desfaçatez e da confusão entre imunidade, impunidade e corrupção”. É um chamamento para que os brasileiros honestos não aceitem mais passivamente as imposturas dos ferrabrases que criaram as condições para que se erigisse aqui uma desavergonhada república de bandidos.