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quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O fim do torpor



Com exceção dos que ou perderam a capacidade de pensar ou tinham alguma boquinha estatal, os cidadãos reservaram ao PT e a Lula o mais profundo desprezo e indignação

Por Augusto Nunes, 31/08/2016,

 Editorial do Estadão

O impeachment da presidente Dilma Rousseff será visto como o ponto final de um período iniciado com a chegada ao poder de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, em que a consciência crítica da Nação ficou anestesiada. A partir de agora, será preciso entender como foi possível que tantos tenham se deixado enganar por um político que jamais se preocupou senão consigo mesmo, com sua imagem e com seu projeto de poder; por um demagogo que explorou de forma inescrupulosa a imensa pobreza nacional para se colocar moralmente acima das instituições republicanas; por um líder cuja aversão à democracia implodiu seu próprio partido, transformando-o em sinônimo de corrupção e de inépcia. De alguém, enfim, cuja arrogância chegou a ponto de humilhar os brasileiros honestos, elegendo o que ele mesmo chamava de “postes” – nulidades políticas e administrativas que ele alçava aos mais altos cargos eletivos apenas para demonstrar o tamanho, e a estupidez, de seu carisma.

Muito antes de Dilma ser apeada da Presidência já estava claro o mal que o lulopetismo causou ao País. Com exceção dos que ou perderam a capacidade de pensar ou tinham alguma boquinha estatal, os cidadãos reservaram ao PT e a Lula o mais profundo desprezo e indignação. Mas o fato é que a maioria dos brasileiros passou uma década a acreditar nas lorotas que o ex-metalúrgico contou para os eleitores daqui. Fomos acompanhados por incautos no exterior.

Raros foram os que se deram conta de seus planos para seqüestrar a democracia e desmoralizar o debate político, bem ao estilo do gangsterismo sindical que ele tão bem representa. Lula construiu meticulosamente a fraude segundo a qual seu partido tinha vindo à luz para moralizar os costumes políticos e liderar uma revolução social contra a miséria no País.

Quando o ex-retirante nordestino chegou ao poder, criou-se uma atmosfera de otimismo no País. Lá estava um autêntico representante da classe trabalhadora, um político capaz de falar e entender a linguagem popular e, portanto, de interpretar as verdadeiras aspirações da gente simples. Lula alimentava a fábula de que era a encarnação do próprio povo, e sua vontade seria a vontade das massas.

O mundo estendeu um tapete vermelho para Lula. Era o homem que garantia ter encontrado a fórmula mágica para acabar com a fome no Brasil e, por que não? No mundo: bastava, como ele mesmo dizia, ter “vontade política”. Simples assim. Nem o fracasso de seu programa Fome Zero nem as óbvias limitações do Bolsa Família arranharam o mito. Em cada viagem ao exterior, o chefão petista foi recebido como grande líder do mundo emergente, mesmo que seus grandiosos projetos fossem apenas expressão de megalomania, mesmo que os sintomas da corrupção endêmica de seu governo já estivessem suficientemente claros, mesmo diante da retórica debochada que menosprezava qualquer manifestação de oposição. Embalados pela onda de simpatia internacional, seus acólitos chegaram a lançar seu nome para o Nobel da Paz e para a Secretaria-Geral da ONU.

Nunca antes na história deste país um charlatão foi tão longe. Quando tinha influência real e podia liderar a tão desejada mudança de paradigma na política e na administração pública, preferiu os truques populistas. Enquanto isso, seus comparsas tentavam reduzir o Congresso a um mero puxadinho do gabinete presidencial, por meio da cooptação de parlamentares, convidados a participar do assalto aos cofres de estatais. A intenção era óbvia: deixar o caminho livre para a perpetuação do PT no poder.

O processo de destruição da democracia foi interrompido por um erro de Lula: julgando-se um kingmaker, escolheu a desconhecida Dilma Rousseff para suceder-lhe na Presidência e esquentar o lugar para sua volta triunfal quatro anos depois. Pois Dilma não apenas contrariou seu criador, ao insistir em concorrer à reeleição, como o enterrou de vez, ao provar-se a maior incompetente que já passou pelo Palácio do Planalto.

Assim, embora a história já tenha reservado a Dilma um lugar de destaque por ser a responsável pela mais profunda crise econômica que este país já enfrentou, será justo lembrar dela no futuro porque, com seu fracasso retumbante, ajudou a desmascarar Lula e o PT. Eis seu grande legado, pelo qual todo brasileiro de bem será eternamente grato.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Janaína Paschoal: ‘Dilma não explicou nada’



Signatária da denúncia que resultou no processo de impeachment, advogada diz que sai frustrada com explanações da petista

Por Marcela Mattos, 29/08/2016,
 www.veja.com.br

Uma das autoras da denúncia que ensejou o processo de impeachment, a advogada Janaina Paschoal criticou a primeira etapa da audiência de Dilma Rousseff no Senado nesta segunda-feira. Após as mais de três horas de manifestação, entre o discurso e o interrogatório, a jurista afirma que sai frustrada: “Dilma não explicou nada”.

“Ela está se esforçando e mostrou respeito vindo ao Congresso. Não desmereço isso. Agora, sob o ponto de vista do mérito, realmente ela não explicou nada”, afirmou Janaína.

A presidente afastada chegou nesta manhã ao Senado para fazer seu último pronunciamento antes da votação decisiva da ação por crime de responsabilidade. Ao longo dos 45 minutos de discurso, Dilma discorreu sobre seu passado como guerrilheira, disse ser alvo de uma “trama” e de um “golpe”, atacou o governo de seu sucessor, Michel Temer, e investiu no discurso do medo, colocando em xeque a continuidade de projetos sociais implementados pelo PT caso ela seja cassada. Em seguida, começou a responder às perguntas dos senadores.

“Na condição de cidadã, eu sinto uma frustração. Eu sempre tenho a esperança de que eventualmente viria uma explicação, uma justificativa, um reconhecimento de tudo que foi feito errado, e novamente não veio”, disse Janaina Paschoal. “Ela está repetindo um discurso. Não responde os fatos, repete teses criadas pelo advogado”, continuou.

Um dos momentos mais esperados desta segunda-feira é o embate direito entre a Janaina e Dilma Rousseff. A advogada, porém, afirma que vai esperar o interrogatório feito por mais de 40 senadores para decidir se fará ou não alguma pergunta para a presidente afastada. Ela minimiza qualquer tensão para o interrogatório. “As pessoas criaram um clima que não existe”, afirma.

A baixaria dos juízes do Senado



Lewandowski pediu uma “forma cortês” de falar. Mas o que se viu foi uma baixaria digna dos piores BBBs

Por Ruth de Aquino, 26/08/2016,

Começou mal o julgamento do impeachment da presidente Dilma Rousseff, acusada de crimes de responsabilidade fiscal que contribuíram para jogar o Brasil no atual descalabro econômico. A baixaria explícita se instalou na Casa mais alta de nossa República. Era de esperar. Suas Excelências se acham acima do bem e do mal e transformam um julgamento histórico em briga de rua.

Os xingamentos mútuos, puxados pela porta-bandeira Gleisi Hoffmann, retrucados pelo mestre-sala do DEM Ronaldo Caiado e incendiados pelo puxador do samba do PT Lindbergh Farias, foram contidos a custo pelo ministro Ricardo Lewandowski, que parecia atônito diante da desobediência e incivilidade dos excelentíssimos senadores, que se acusaram de imorais, drogados, assaltantes e exploradores.

“Qual é a moral deste Senado para julgar a presidente da República? Qual é a moral que têm os senadores aqui, para dizer que ela é culpada, para cassar?”, gritou Gleisi ao microfone. “Não sou assaltante de aposentado”, retrucou Caiado, referindo-se ao ex-ministro Paulo Bernardo, marido de Gleisi, acusado de fraudar empréstimos consignados. “Você é [assaltante] de trabalhador escravo”, afirmou Gleisi, abandonando o tratamento de “senhor”. Lindbergh saiu em defesa de Gleisi chamando Caiado de “canalha”, apoiado por bicheiros. Caiado mandou Lindbergh fazer exame antidoping porque o Senado não era lugar para “ficar cheirando”.

Foi um espetáculo vergonhoso, que só não saiu totalmente de controle devido à serenidade do ministro Lewandowski. Ficou claro que jamais o senador Renan Calheiros ou qualquer outro político teria autoridade para acalmar os ânimos. A baixaria digna dos piores BBBs aconteceu apesar dos alertas. No início da sessão, Lewandowski orientou que os senadores agissem como “verdadeiros juízes”. Pediu que adotassem uma “forma cortês” de falar, “polida, respeitosa”, sem violar “a honra” ou “o decoro”. E quis também o impossível: que os senadores-juízes abandonassem “opções ideológicas, preferências políticas e inclinações pessoais”, para se ater a aspectos técnicos. 

Pode ser que, diante da repercussão negativa, os pitbulls de um lado e de outro resolvam se comportar e engulam os gritos de guerra. É irônico que o único personagem a ser rebaixado – de testemunha de acusação a “informante” –, Júlio Marcelo, procurador do Ministério Público no Tribunal de Contas da União (TCU), tenha sido o mais sereno, o mais articulado, sem ceder em momento algum a qualquer provocação, especialmente do advogado e ex-ministro José Eduardo Cardozo.

Júlio Marcelo foi rebaixado a pedido do PT, por não ser isento, já que apoiara pelas redes sociais uma manifestação pró-impeachment. Mas foram despidas de paixão suas respostas sobre as pedaladas fiscais de Dilma, as mentiras na campanha de reeleição e o papel concreto da presidente no (des) comando das estatais e da economia. Uma aula para quem deseja realmente entender por que, hoje, o brasileiro é obrigado a cortar plano de saúde e escola particular, por que já faltam alimentos e remédios na praça, por que as pequenas empresas estão endividadas ou fechando e por que os mais pobres sofrem uma taxa de desemprego de 20,6%.

Dilma foi um terremoto. Era para ser um poste passageiro instalado por Lula, à revelia do próprio PT, era para ser uma transição num país com as contas em dia. Era para Dilma ser mãe do PAC, Programa de Aceleração do Crescimento, mas virou mãe do PAQ, Programa de Aceleração da Queda, como escrevi aqui há três anos. Foi quando começou a cair a máscara do assistencialismo sem futuro. O país foi às ruas contra os políticos que arrombavam cofres, depredavam nossa auto-estima e vandalizavam nossa economia. A presidente eleita, hoje ré, pede que tenham pena dela e se compara a Getúlio Vargas.

É válido o argumento de que o então vice-presidente Michel Temer não poderia se eximir de culpa. Nem ele nem muito menos o PMDB, o maior aliado dos governos petistas. Mas alegar inocência de Dilma é coisa de militante cego. Achar que Dilma não sabia nada do aparelhamento nas estatais, da promiscuidade com empreiteiras, dos superfaturamentos milionários, das escaramuças no Orçamento com fins eleitorais é uma ofensa até a ela, que sempre fez questão de centralizar todas as decisões.

Aparentemente, o PT também já abandonou a presidente afastada. Às vésperas do julgamento do impeachment, a executiva do PT rejeitou em peso, por 14 votos a 2, a proposta de Dilma de um plebiscito para antecipar as eleições presidenciais de 2018. O Partido dos Trabalhadores quer mais tempo para que o desastre dilmês passe a entrar na conta do PMDB e Lula tente voltar em 2018, prometendo o que não fez na era petista: saúde, segurança e educação de qualidade para todos. Alguém voltará a prometer ética na política?

Amiga da onça



Gleisi Hoffmann tenta enquadrar Dilma em outros crimes

Por Augusto Nunes, 30/08/2016,
 www.veja.com.br


“Por que não lhe julgam pelas obras feitas, pela infraestrutura que país tem?” (Gleisi Hoffmann, senadora do PT do Paraná, sem especificar se a presidente afastada deveria ser julgada pela implantação do trem-bala, pela transposição do Rio São Francisco, pela construção do terceiro aeroporto de São Paulo ou por alguma outra obra que só ficou pronta no Brasil Maravilha registrado em cartório por Lula e aperfeiçoado pela cabeça baldia de Dilma Rousseff)