Por Reinaldo Azevedo, 25/01/2016,
www.veja.com.br
Acho, sim, que o promotor Conserino deveria ter ouvido os investigados —
por mais que já reúna elementos — antes de deixar claro que vai denunciá-los. O
PT certamente vai acusar a sua suspeição. Mas isso tudo não é problema da VEJA
ou de qualquer outro órgão de imprensa, que devem publicar aquilo que sabem
Luiz Inácio Lula da Silva está
agora na fase do “Terror Judicial”, conforme anunciou aos blogueiros sujos de
dinheiro público. Segundo entendi, é alguém falar dele, e pimba! Tome processo!
Ok A Justiça existe, entre outras coisas, para isto: para que os que foram
agravados peçam a punição dos culpados. Vamos lá. Desta feita, o petista
promete processar a VEJA — claro!… —, e sua defesa acena com medidas
contra um promotor. Qual é a questão da hora?
Em entrevista a VEJA desta
semana, o promotor Cássio Conserino, do Ministério Público Estadual de São
Paulo, afirma que Lula e sua mulher, Marisa Letícia, serão denunciados por
lavagem de dinheiro. Não! O caso nada tem a ver com o petrolão — a não ser
lateralmente. A Bancoop, cooperativa habitacional dos bancários, que era
dirigida por João Vaccari Neto, pegou o dinheiro dos mutuários, transferiu para
o PT e deu um beiço em 3 mil associados, que nunca viram seus respectivos
apartamentos.
Alguns fortões do PT, no entanto,
tiveram sorte diferente. E Lula é um deles. O prédio do Guarujá em que está o
tríplex cuja cota ele havia comprado e alguns outros foram concluídos. A tarefa
ficou a cargo da OAS, empreiteira que é uma das estrelas do petrolão. A empresa
bancou também a reforma do imóvel, de 297 metros quadrados.
Muito bem! Lula agora nega ser o
dono do apartamento e afirma que havia apenas uma opção de compra, que não foi
exercida. Ocorre que, em 2006, ele próprio declarou a tal cota em Imposto de
Renda. Em 2010, sua assessoria confirmou que ele era proprietário do imóvel.
A VEJA, afirmou o promotor que
investiga o caso:
“Há fortes elementos, provas
documentais e testemunhais, que mostram que o ex-presidente Lula e a
ex-primeira-dama tentaram, com a ajuda da OAS, ocultar patrimônio e, por isso,
incorreram no crime de lavagem de dinheiro. A empreiteira praticou crimes de
estelionato, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica”. Mais adiante, disse:
“Lula e dona Marisa serão denunciados. Brevemente, eles serão chamados a
depor”.
O Instituto Lula emitiu uma nota
a respeito em que se lê o seguinte trecho:
“Os advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva examinam as medidas que serão tomadas diante da conduta irregular e arbitrária do promotor Cássio Conserino, do Ministério Público de São Paulo. O promotor violou a lei e até o bom senso ao anunciar, pela imprensa, que apresentará denúncia contra o ex-presidente Lula e sua esposa, Marisa Letícia, antes mesmo de ouvi-los.”
“Os advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva examinam as medidas que serão tomadas diante da conduta irregular e arbitrária do promotor Cássio Conserino, do Ministério Público de São Paulo. O promotor violou a lei e até o bom senso ao anunciar, pela imprensa, que apresentará denúncia contra o ex-presidente Lula e sua esposa, Marisa Letícia, antes mesmo de ouvi-los.”
Mais adiante, a ameaça é dirigida
à revista:
“Quanto à revista Veja, que
utilizou a entrevista do promotor para mais uma vez ofender e difamar o
ex-presidente Lula, será objeto de nova ação judicial por seus repetidos
crimes.”
Vamos ver
Na concepção jornalística do petismo, se um promotor que investiga um ex-presidente anuncia que vai denunciá-lo por lavagem de dinheiro, a informação deve ser amoitada. Isso, claro, se o alvo for um “companheiro”. Se for alguém da oposição, o site do PT já aproveita e decreta a condenação do vivente. Ora, a revista cumpriu apenas a sua obrigação.
Na concepção jornalística do petismo, se um promotor que investiga um ex-presidente anuncia que vai denunciá-lo por lavagem de dinheiro, a informação deve ser amoitada. Isso, claro, se o alvo for um “companheiro”. Se for alguém da oposição, o site do PT já aproveita e decreta a condenação do vivente. Ora, a revista cumpriu apenas a sua obrigação.
Como se sabe, aqui eu falo tudo.
Acho, sim, que o promotor Conserino deveria ter ouvido os investigados — por
mais que já reúna elementos — antes de deixar claro que vai denunciá-los. O PT
certamente vai acusar a sua suspeição. Mas isso tudo não é problema da VEJA ou
de qualquer outro órgão de imprensa, que devem publicar aquilo que sabem.
Ponto.
Na nota, os petistas admitem que
Lula tem a tal cota, mas continuam a dar a entender que ela não foi exercida.
Diz o promotor: “Há diversas testemunhas que relatam as visitas do casal
presidencial ao prédio. Mas não é só isso. Ouvi os funcionários e funcionárias
da OAS, ouvi o dono da empresa contratada para reformar o tríplex, e todos
confirmaram que dona Marisa acompanhou pessoalmente o cronograma das obras”.
É muito provável que os advogados
de Lula tentem recorrer à Corregedoria do Ministério Público Estadual para
tirar Conserino caso. Não sei se consegue. A ameaça a VEJA já virou uma espécie
de clássico. Lula acha que jornalismo maiúsculo é aquele exercido pelos blogueiros
oficialistas, alguns deles financiados por estatais.
Afinal, naquele grupo, ele pôde
dizer, sem ser contestado, que é a pessoa dotada da maior honestidade do mundo
— segundo ele, mais do que qualquer um dos presentes que lhe puxavam o saco.
Neste particular, vamos convir, ele estava certo, né? Naquele grupo, Lula era,
sem dúvida, o mais honesto, se é que vocês me entendem.
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