Por Elio Gaspari, 07/05/2014,
A presidente do IBGE deu uma aula ao comissariado e à
oposição: a vida é arte, errar faz parte.
Com uma simples frase, a presidente do
IBGE, Wasmália Bivar, resgatou o prestígio da instituição e ofereceu uma aula
aos doutores que se apresentam como salvadores da pátria. Três semanas depois
da eclosão de uma crise provocada pelo adiamento de uma pesquisa, voltou atrás
e, perguntada pelo repórter Pedro Soares se as criticas influíram na decisão,
disse o seguinte: “Eu não vou dizer para você que não teve nenhuma influência,
seria bobagem”.
A
canção diz que “a vida é arte, errar faz parte”, mas tanto o comissariado
petista como seus adversários cultivam a soberba da infalibilidade. Quanto mais
erram, mas persistem na dissimulação ou mesmo erro.
Descobre-se
que o programa do PSB do doutor Eduardo Campos defende a “socialização dos
meios de produção”, e ele se justifica dizendo que esse texto é um eco do
programa de 1947. Nesse ano, o candidato a presidente não havia nascido. Nada
custava dizer que “seria bobagem” manter a resposta. Afinal, programa de
partido ninguém lê e, se lê, perde tempo. Se ler e acredita, cretiniza-se.
O
último texto programático dos candidatos Eduardo Campos e Marina Silva é um
cartapácio indigesto de 14,5 mil palavras. Ganha uma viagem a Londres onde está
o tumulo de Karl Marx, ou a San Francisco, onde foram jogadas as cinzas do economista
conservador Milton Friedman, quem for capaz de decifrá-lo.
O
PT e o PSDB ainda não digeriram as denúncias de seus mensalões. Num caso, os
acusados já estão na Papuda. No outro, o deputado Eduardo Azeredo renunciou ao
mandato para fugir da lâmina do Supremo Tribunal Federal. Os notáveis tucanos
mantiveram-no por algum tempo na presidência do partido. Admitir o erro e
voltar atrás nas práticas, nem pensar.
Cartel
da Alstom, Pasadena, refinaria Abreu e Lima e Alberto Yossef, para ficar em
poucos nomes, são todos casos em que os hierarcas da política defendem suas
criações até o último momento. Admitir o erro, só aas vezes, quando já foram
apanhados pelo Ministério Público ou pelas algemas da Polícia Federal. Até lá,
a culpa é da imprensa.
A
doutora Dilma, Eduardo Campos e Aécio Neves poderiam olhar para a biografia de Ângela
Merkel. Ela era um quadro inexpressivo do seu partido, protegida pelo
primeiro-ministro Helmut Kohl, um gigante da política europeia do século
passado, unificador da Alemanha contra a vontade da Rússia e dos Estados
Unidos. Ele a chamava de “minha menina”. Kohl foi apanhado num lance de caixa
dois e a doutora Merkel escreveu um artigo pedindo sua renuncia. Deu no que
deu. Limpo, seu partido já venceu três eleições.
A
doutora Wasmália atravessou a crise do IBGE sem que seus críticos atacassem sua
honorabilidade profissional ou a integridade da instituição. O mesmo não se
pode dizer da conduta do mesmo IBGE e da Fundação Getulio Vargas nos anos 70,
quando se deixaram fazer de bobos no cálculo do índice da inflação, e um dos
conselheiros da FVG (Eugenio Gudin) confidenciava que o ministro Delfim Neto
era “diabólico”.
O embuste da inflação de 1973 só foi
desmascarado anos depois, num documento do Banco Mundial, desencavado por Paulo
Francis, graças ao barulho que a imprensa fez com ele. Antes, como hoje, a
culpa foi da imprensa
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