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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

MALANDRAGEM BRASILEIRA


Postado por Rogério Mendelski em 7 de janeiro de 2012 - Acontece...
O poeta e escritor Affonso Romano de Sant’Anna conta que depois de ler o livro “Carnavais, Malandros e Heróis”, do antropólogo Roberto Da Matta, viveu uma situação onde o modelo triangular – o malandro, o renunciador e o caxias – que o autor defende na sua obra, se apresentou para ele numa ida ao Detran carioca. De bermudas porque era um dia muito quente, Affonso desceu do carro e já foi advertido por um flanelinha que “o coronel não deixava ninguém entrar no prédio com aquele traje”. Ao insistir em chegar ao balcão, o poeta recebeu uma oferta de aluguel de calças compridas ou, então, que tinha alguém para pagar a sua multa mediante uma gorjeta. Como não queria voltar para casa, assumiu o papel de renunciador de seus direitos, deu uma gorjeta ao malandro para não se complicar com o coronel, possivelmente de terno e gravata, o caxias. Para completar, Affonso confessa que pagou as multas por infrações cometidas em ruas onde jamais passara. Este é um quadro ainda atual, da malandragem brasileira, presente em qualquer espaço de nosso cotidiano. Se há malandros é por que os otários complementam as ações de esperteza. De que adianta o brasileiro tentar ser esperto quando fura uma fila, dirige falando ao celular, pede nota mais alta para apresentar na despesa de viagem, sugere suborno ao policial que lhe aplicou uma multa, mente para o Imposto de Renda, quer convite para o show que pode pagar, quer emprego público sem concurso e estaciona em local proibido?  O mesmo brasileiro que se acha malandro, por entender que ser cidadão decente é careta, paga duas vezes por um seguro ( obrigatório e o total) de seu automóvel, dois tributos quando sai de férias (pedágio e IPVA), mais dois se quiser ter saúde e aposentadoria decentes (planos privados, SUS e INSS) e, ainda, tem vigilância particular para não ser assaltado. E se quiser trocar de carro paga por um veículo 1.0 o valor de um carrão de luxo nos EUA. Somos malandros apenas na aparência, renunciadores de nossos deveres de cidadão na prática e esperando sempre que os caxias burocratas inventem novos impostos. E quando chega o tempo de eleição, malandros que somos, votamos em gente mais malandra que nós.
Postado por Rogério Mendelski em 7 de janeiro de 2012 - Acontece...
Será que ser malandro no Brasil é tentar afrouxar algumas regras do sistema legal nacional que está formalizado em leis para complicar o nosso dia-a-dia? Dizem que o brasileiro sai de casa como cidadão, retorna como sobrevivente e na selva que ele depara ao abrir a porta já começa a luta. “Vou à luta”, diz ele, conforme registra Roberto da Matta. Mas ir à luta não significa dar início a uma cartilha de esperteza que tanto pode ser um atestado frio apresentado na empresa como passar com o sinal vermelho.

Um Abraço,
qui - 12.jan.2012.

A globalização da chinelagem


Postado por Juremir em 5 de janeiro de 2012 - Cotidiano
Eu sou um cara magnânimo e bacana, apesar de genial.
Nada tenho contra Michel Teló.
Até dançaria essa sua musiquinha rastaquera até encostar o traseiro no chão.
Sou chinelo. Adoro chinelagem.
Sou como o mundo.
Vivo a era da globalização da chinelagem.
Adoro funk, que é chinelagem pura.
Gosto de um bom pagode chinelo.
Não dispenso um rock chinelo.
Até tradicionalismo chinelo eu ouço, em doses comedidas.
Vejo até a chinelagem do CQC.
Aquele humor adolescente gênero MTV durante a perda do cérebro.
Sou da mídia.
E a mídia é uma máquina de produção universal de chinelagem.
Fim de ano é a glória.
Vai de Luan Santana, passando por Paula Fernandez, a Michel Teló.
só chinelagem.
É o que o nosso imaginário alcança.
Só isso?
Alguns alcançam um pouqinho mais.
É raro.
Eu  não alcanço.
A maioria tem o imaginário à altura das havaianas.
Eu também.
Michel Teló é baixaria total.
Que que tem, meu bem?
Nada.
Bacana mesmo é o pessoal brabinho: respeita o gosto dos outros.
Ou a filosofia Lyons Club tipo crítica construtiva: não gosta, não ouve, mas não fala mal.
Crítica construtiva é a maior babaquice já inventada.
Precisamos dar nome aos bois.
Michel Teló e essa musiquinha feita por seus parceiros é divertimento barato.
O cara pode ouvir, curtir, amar, mas continua sendo chinelagem.
Eu não vou ao teatro ouvir música de gravata.
Tenho certeza de que Beethoven não teria talento para emplacar “Ai se eu te pego”.
Cada um no seu quadrado.
Só que o pessoal quer legitimação.
Quer curtir a sua chinelagem sem ouvir crítica.
Gosto é o que mais se discute.
A crítica é livre.
Ouve quem quer, crítica quem pode e sente vontade.
Eu adoro as ofensas com beicinho: quem é você para falar mal do Teló, que vende horrores.
Claro que tem gente que critica só para fazer pose de intelectual.
Eu faço isso.  E quem sou eu para fazer isso?
Eu sou ninguém.
Como diria o poeta, não serei nada.
Por isso, claro, tenho todas as liberdades do mundo.
Tem o cara que reclama da generalização.
Todo cara que fala em generalização é mala.
Quer defender o seu particularzinho.
Essa musiquina do Teló está abaixo do traseiro do cusco.
Mas que ritmo.
Não consigo parar de dançar.
Vai rodar na minha festa de aniversário de 50 anos.



Um Abraço,
qui - 12.jan.2012.

Michel Teló e o imaginário dos boleiros


Postado por Juremir em 4 de janeiro de 2012 - Mídia
Ai Se Eu Te Pego
Nossa, nossa
Assim você me mata
Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego
Delícia, delícia
Assim você me mata
Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego
Sábado na balada
A galera começou a dançar
E passou a menina mais linda
Tomei coragem e comecei a falar
Nossa, nossa
Assim você me mata
Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego
Delícia, delícia
Assim você me mata
Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego
Sábado na balada
A galera começou a dançar
E passou a menina mais linda
Tomei coragem e comecei a falar
Nossa, nossa
Assim você me mata
Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego
Delícia, delícia
Assim você me mata
Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego.
*
Não é genial essa letra?
Não, não é.
É babaquice pura.
Por que faz tanto sucesso?
Por que somos babacas e nosso poder intelectual  e estético não capta muito além disso.
Por que os jogadores de futebol gostam tanto?
Porque boleiros podem ser gênios da coordenação motora e da relação espaço-tempo intuitivamente, mas têm imaginário subdesenvolvido, atrofiado, cérebro do tamanho de uma ervilha.
O universal do boleiro não favore o desenvolvimento do imaginário.
Viajam muito, mas só conhecem aeroportos, hotéis e estádios de futebol.
Quantos foram ao Louvre, em 1998, durante as folgas?
Concepção elitista?
Elitismo versus populismo.
Teló é a cara da indústria cultural, da cultura fast-food, esse babado todo.
Um lixo.
Mas a galera gosta.
Que fazer?
Fazer concurso para gari.
Afinal, o que conta é a vibração, o gozo, a felicidade.
Felicidade de bilionário da sociedade do espetáculo é barata.
Duvido que Michel Teló tenha talento para fazer uma segunda música tão medíocre.
A extrema mediocridade exige um instante de genialidade absoluta.
É como ganhar na megassena sozinho.
Não acontece duas vezes.
Teló já foi sorteado.
Criou o seu melô do vestiário.
Chapeau!
Danilo Gentilli já o defendeu.
O CQC é a mediocridade que se finge de genial.
E cola.
Teló é o Rafinha Bastos com mais talento.
Mais talento para o ridículo.
Mas como fatura!
Nós, os invejosos, só podemos criticá-los.
Que homens!
Que gênios!
Que época!
Imaginário de boleiro é tudo igual, globalizado.
De Cristiano Ronaldo a Neymar, é tudo ervilha.
O tênis não é diferente.
Só tem mais pose.
Esporte da classe média que se dá mal com a bola no pé.
Sertanejo universitário é música de quem matou a aula.
Agora estão dizendo que Teló não é o autor da sua obra-prima.´
Se for verdade, que decepção.
Teria de repassar todos os meus comentários generosos aos verdadeiros autores, os inspirados criadores desse hino à vida e à criatividade.
Não me canso de admirar a simplicidade da letra, a perfeição do ritmo, a filosofia de vida e, como se dizia antes, a mensagem.
É do cachorro!
*
Melhor ainda é a cartinha da criadora da obra-prima.
De fato, dou o braço a torcer, fui leviano.
Eu deveria ter desconfiado que não era obra para alguém conceber sozinho.
Michel Teló já caiu no meu conceito.
Um Abraço,
qui - 12.jan.2012.