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quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Em Brasília, 25.000 protestam contra Dilma, Lula e Renan

Ao estender a mão para a presidente, peemedebista entrou na mira dos manifestantes. Ato na capital federal igualou o público de abril

Por Marcela Mattos e Laryssa Borges,
 de Brasília, 16/08/2015, www.veja.com.br


Cerca de 25.000 pessoas, conforme estimativa da Polícia Militar protestaram neste domingo na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, contra o governo da presidente Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores. Depois de estender a mão ao governo na semana passada, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), entrou na mira dos manifestantes, que defenderam a derrubada de "todos que se recusam a combater o PT". Já o ex-presidente Lula foi "homenageado" com um boneco de 12 metros de altura vestido de presidiário. Os manifestantes pediram a prisão do petista.

Sem nenhum incidente registrado pela PM, os manifestantes iniciaram a concentração por volta das 9h30 em frente ao Museu Nacional e marcharam em direção ao Congresso pedindo o afastamento da presidente Dilma. O ato foi encerrado por volta das 13 horas.

Ao longo do percurso, vários jingles foram entoados, entre eles "Olê, olê, vamos pra rua para derrubar o PT" e o hit "Saudação à mandioca", uma analogia a um dos mais notórios tropeços retóricos protagonizados por Dilma, ao saudar a mandioca e o milho no lançamento dos Primeiros Jogos Mundiais dos Povos Indígenas.

Os gritos pelo fim do atual governo, motivados principalmente pelo escândalo bilionário de corrupção na Petrobras, foram revezados com aplausos ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz as investigações do esquema, à oposição e à democracia. Em frente ao Congresso Nacional, os organizadores dos protestos, entre eles o grupo Vem pra Rua, leram um manifesto direcionado aos parlamentares, ministros do Tribunal de Contas da União (TCU), ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e à presidente Dilma. O texto destaca o apoio às ações da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça e pede aos congressistas "coragem" para acatarem os pedidos de impeachment. O documento também faz um apelo para que o TCU, ao julgar as contas de Dilma, "não decepcione a nação".

O movimento pacífico reuniu um público diverso, formado por familiares, estudantes e idosos. Até mesmo aqueles que trabalharam durante o evento pediram o afastamento de Dilma. O vendedor de bebidas Henrique Silva, 24 anos, anunciava a venda de água enquanto pedia o fim do governo petista. "Todo mundo vê o que a Dilma está fazendo. Ela está roubando e tirando do povo, que está passando sufoco", disse. O arquiteto Antônio Asteca, 68, esteve na Esplanada em 2005, na esteira do escândalo do mensalão, pedindo o impeachment de Lula. Dez anos depois, volta às ruas com a mesma causa: "Estou aqui de novo protestando contra a corrupção do PT. Nada mudou", afirmou.

Apesar de o governo ter previsto uma baixa na quantidade de participantes na terceira manifestação do ano, a capital federal repetiu a marca de abril, quando, pela primeira vez, os movimentos passaram a defender o impeachment de Dilma. Os organizadores comemoraram a adesão e, ironizando a confusa explicação da presidente ao tratar sobre os números do Pronatec Aprendiz, disseram que, em setembro, vão dobrar a meta.

Governo - Desde o início da manhã, a presidente Dilma recebe relatos do andamento das manifestações em todo o país. Os boletins ficam a cargo do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Uma reunião entre a petista e a coordenação política foi marcada para as 17 horas, no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência.


quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Eles não têm vergonha na cara

Vergonha é uma das palavras mais pronunciadas no Brasil. Não é por excesso. É por falta

Por Augusto Nunes, 25/06/2017,
www.veja.com.br

DE ONDE VÊM AS PALAVRAS
Texto de Deonísio da Silva
A Constituição do Brasil poderia ter apenas dois artigos: “Art. 1º Todo brasileiro é obrigado a ter vergonha na cara. Art. 2º Revogam-se as disposições em contrário”.
Este modelo de Constituição foi proposto pelo historiador Capistrano de Abreu, professor do Colégio Pedro II, no Rio.
Vergonha veio do Latim verecundia, palavra composta dos étimos vereri, ter medo respeitoso, presente também em reverência, reverendo, reverendíssimo etc. E cundia, abundância, indica que este medo respeitoso é muito grande. Mais do que medo, é temor, pois não há lei que pegue sem temor de que à transgressão segue a punição, o castigo. Dante conseguiu mais católicos com o medo do Inferno como descrito na Divina Comédia do que os padres com seus sermões! E o castigo deve vir rápido. “O castigo vem a cavalo” é outro de nossos ditados. Vem a cavalo porque o cavalo foi o meio de transporte mais rápido até o trem, inventado apenas no século XIX!

Vergonha é uma das palavras mais pronunciadas no Brasil. Não é por excesso. É por falta. Será que somos um povo sem-vergonha? Muitos autores atestam que o povo tem muita vergonha, mas nossa classe dirigente tem pouca ou nenhuma.
Há controvérsias, como sempre. A falta de vergonha não é exclusividade de nenhum dos três poderes. Embora seja costume nacional atribui-la apenas aos políticos, ninguém pode negar que o brasileiro adora uma sem-vergonhice.
Todo sem-vergonha teve muitos que votaram nele para que fosse eleito! E eleito quer dizer escolhido! Quem escolheu o sem-vergonha, é sem-vergonha também ou foi enganado? Por isso, é importante o eleitor saber se está bem representado, se soube escolher. Porque depois não adianta se queixar! Nem do vice! Pois no Brasil, desde Floriano Peixoto, vice assume! José Sarney assumiu, Itamar assumiu e Michel Temer assumiu! Três vices assumiram desde 1985. De dez em dez anos, em média, no Brasil um vice assume!
Entretanto, uma das mais severas admoestações feitas a nós, brasileiros, desde a infância, proferidas por pais, irmãos mais velhos, avós, outros parentes, professores e amigos, está contida numa pergunta singela: não tem vergonha na cara, não?
Ninguém tipificava o crime ou conferia a lei ou o artigo onde o sem-vergonha se encalacrara. O infeliz reconhecia a transgressão, tão logo fosse admoestado e procurava emendar-se. Hoje, ele recorre!
O bordão “é uma vergonha” tornou-se ainda mais popular depois de tomado como fecho-padrão pelo jornalista Boris Casoy em seus comentários na apresentação de telejornal.
Mas por que “vergonha na cara?”. Aí é que está. Ditados muito antigos dão conta de que facada, tiro, porrada e bomba são menos graves do que um tapa na cara. O tapa (no Sul é masculino) e a tapa (no Norte é feminino) são humilhantes em qualquer estado brasileiro.
O soco, murro de mão fechada, não é tão humilhante. Olho roxo pode ser sinal de valentia. Nem o famoso pontapé na bunda é mais humilhante do que receber um tapa na cara. Capistrano de Abreu observa que, de acordo com as crenças populares, “Nosso Senhor tudo sofreu, mas não teve pontapés” e que “os escravos reclamavam” deste castigo, pois “pontapé é pra cachorro”.
O problema está na cara! César, quando em guerra civil contra Pompeu, recomendou a seus soldados, quase todos veteranos, que procurassem feri-los no rosto (Miles, faciem feri!). Vaidosos de sua juventude e beleza, os recrutas de Pompeu debandariam como, de fato muitos deles o fizeram. Morrer em combate, tudo bem! Mas voltar com o rosto sangrando por ter apanhado na cara, não!

Nem faltou a justificativa bíblica de que Deus fez o Homem à sua imagem e semelhança. As cortes católicas trouxeram para o Brasil o conceito de que a cara da pessoa é sagrada.

Em suma, está na cara que ter vergonha na cara é importante sob qualquer ponto de vista. E é indispensável que os brasileiros que perderam a vergonha – eis aí outra expressão muito interessante – voltem a tê-la. E voltem a tê-la na cara!

Trapaça enxuta

A “reforma política” é mais um grande momento na história nacional da vigarice

Por J.R. Guzzo, 11/08/2017,
 www.veja.com.br

Sempre que aparece no noticiário a informação de que os políticos deste país estão fazendo alguma coisa “enxuta”, você já pode contar: estão preparando mais um golpe do vigário contra os seus interesses, e particularmente contra o seu bolso. A palavra “enxuta”, no dialeto do governo e de todos os partidos, sem exceção, quer dizer que a medida a ser tomada vai se resumir a meia dúzia de coisinhas que não resolvem absolutamente nada daquilo que teria realmente de ser resolvido; em compensação, essas mesmas coisinhas sempre trazem benefícios materiais, diretos e imediatos para suas excelências. Esse modus operandi, como se diz nas delegacias de polícia, tem uma dupla vantagem. De um lado, fornece aos senhores parlamentares da extrema esquerda, da extrema direita e do extremo centro uma desculpa prévia por não aprovarem as providências que tinham a obrigação de aprovar – afinal, trata-se de uma coisa “enxuta”, resumida, e, portanto não há espaço para incluir ali as decisões importantes, que precisam ser estudadas com calma e devem ser tomadas com prudência, no futuro. De outro lado, permite que eles enfiem no projeto, sem chamar muita atenção, as mudanças que realmente estão querendo para já – as mais urgentes e mais rentáveis. Como se trata de uma operação “enxuta”, da qual nem vale a pena falar muito, fica mais fácil esconder os seus truques lá dentro: se tivessem de socar de uma vez só tudo o que ambicionam, estariam correndo o risco de uma overdose.

A “reforma política” prestes a ser apreciada pelo Congresso é mais uma bela obra na arte de roubar no jogo com a desculpa de “fazer o possível agora, e o ideal mais tarde”. Na realidade, o que se tem é safadeza já, e o correto nunca. Essa reforma é o que há, em matéria de mudança “enxuta”. Não vai mexer (fica para “depois”, a partir de 2020, 2030, etc.) em nenhuma das aberrações mais infames da atual legislação eleitoral – fim do voto obrigatório, fim do horário político obrigatório no rádio e tevê, fim dos partidos de aluguel, fim dos vices e por aí afora. “Não é o momento” para mudar nada disso, dizem os nossos representantes. Considerou-se um exagero, por exemplo, exigir que um partido tenha pelo menos 3% dos votos nas eleições para continuar existindo – ou melhor, para continuar metendo no bolso o dinheiro que o erário distribui através do “fundo partidário”. Basta que consigam 1,5%. É bom para os pequenos, claro, e para os grandes, que querem garantir a existência no Congresso de um estoque de votos sempre prontos para a compra e venda, na hora de aprovar ou rejeitar alguma coisa no plenário.

Sobra o que, então, na “reforma enxuta”? Exatamente aquilo que se podia esperar. Inventaram um negócio chamado “distritão”, que 99% da população não sabe o que é, para evitar o perigo do voto distrital, adotado em todas as democracias que funcionam – a única mudança realmente capaz de melhorar o sistema eleitoral criminoso que vigora no Brasil. Mais que tudo, naturalmente, foram direto para cima do Tesouro Nacional: propõem a criação de mais um fundo para o “financiamento público” das campanhas eleitorais, que será sustentado com os impostos pagos pelos eleitores. Estão querendo dinheiro grosso: de 3,5 a 4 bilhões de reais já em 2018, ou até cinco vezes mais os 800 milhões por ano do atual “fundo partidário”. O pai da proposta é um deputado do PT – mas os partidos adversários são cúmplices integrais desse roubo. Para completar o serviço, Sua Excelência pretende chamar essa trapaça de “fundo de financiamento à democracia”. Como se diz, é juntar o insulto à injúria.


domingo, 3 de setembro de 2017

A franquia Brasil

Por Mentor Neto, 21/07/2017,
 www.istoé.com.br

É realmente impressionante a habilidade do presidente Temer de se esquivar dos ataques dirigidos contra ele. Fosse o PT um partido sério, não essa bandinha de bate-bumbos para Lula dançar, estaria todo de bloquinho nas mãos, como residentes em um hospital, anotando as aulas do Dr. Temer sobre como se fazia política no século passado.

Neste século, infelizmente, não se criou nenhum método novo. A tentativa do PT de inovar retirando dinheiro de estatais e transferindo diretamente aos congressistas se provou completamente ineficiente.

Muito fácil de ser descoberta, além de criar ciumeira e o escambau.

Amadores.

O Mensalão, o Petrolão, o Empreiterão, a JBSona provaram que a falta de método é o problema real do PT e por isso seu projeto de se perenizar no governo não deu certo como deu para o PMDB.

Zé Dirceu que o diga.

Ou Aécio, que esqueceu a habilidade do PSDB e destrambelhadamente saiu pedindo empréstimo.

Deselegante.

Muito mais chique é se encontrar com empresários, deputados e senadores na calada da noite.

Fazer conchavos secretos, que você e eu não seríamos capazes de entender nem se escutássemos numa gravação.

Politicamente correto é trocar apoio por cargos.

E não por dinheiro vivo.

Com Temer, voltamos confortavelmente à velha política.

A política em que as empresas públicas são uma espécie de franchising.

Funciona assim:

O governo do PT entuchou um monte de apadrinhados nas empresas públicas.

Aí, de acordo com a necessidade, foi abrindo as torneirinhas de dinheiro e distribuindo o dito cujo para conseguir o que queria.

Percebe que coisa cafona?

Coisa de novo rico.

Na velha política quatrocentona é diferente.

Você entrega as estatais para serem exploradas pelos partidos.

Como quem não quer nada.

Uma franquia mesmo.

Empresas públicas, que já provaram serem minas de ouro para quem quer surrupiar dinheiro público, precisam ser cuidadas com carinho.

Você dá essa lojinha para o sujeito e explica como fazer para ganhar dinheiro.

Pode indicar parente, pode disfarçar despesa como investimento, pode até mexer no balanço.

Mas com calma, sem muita sede ao pote, para não chamar a atenção.

Se for descoberto, o partido sabe que ninguém vai protegê-lo.

Feito o acordo, o agraciado rapidamente aprende que não se trata de um caixa eletrônico, como nos anos do PT.

Na velha política, tudo funciona mais como um investimento de médio prazo.

Os políticos da velha guarda não dão o peixe. Eles ensinam a pescar.

Quando a relação está madura, é só pedir em troca o que se deseja.

Quem sabe uma aprovação? Um acordo? Um adiamento?

Um quórum aqui, um veredito ali.

Percebe? Sem a grosseira troca de dinheiro.

E só há vantagens, pois é um esquema muito mais difícil de ser investigado.

Outra vantagem é que essa rede de franquias pode ser construída até quando não se tem os cargos principais do Executivo.

Basta estar próximo do poder.

Trocar um ou outro favor por uma estatal e pronto.

O PMDB, por exemplo, está nessa posição há mais de 30 anos, imagine.

A lição é essa. Calma e perseverança.

Diferente de um PT que foi com tanta sede ao pote que deu no que deu.

Perdeu a franquia.

Na velha política, tudo funciona mais como um investimento de médio prazo. Os políticos da velha guarda não dão o peixe. Eles ensinam a pescar. Diferente do PT que foi com sede ao pote e deu no que deu


Uma república macunaímica

Por Marco Antônio Villa, 30/06/2017,
www.istoé.com.br



Não custa repetir: o impeachment de Dilma Rousseff não encerrou a crise política. Pelo contrário, simplesmente destampou a panela de pressão da crise sistêmica da democracia brasileira. As contradições políticas se aprofundaram de tal forma que a solução, relativamente tranquila, obtida após o processo de impeachment de Fernando Collor – que não foi concluído, registre-se –, não pode se repetir. 2017 não é 1992 especialmente porque agora o País passa por uma crise sistêmica, que envolve os três poderes da República. Vivemos, portanto, não uma crise política, como outras ao longo da história nacional, mas o colapso do Estado democrático de Direito.

Os três poderes estão carcomidos. As instituições não conseguem dar conta da complexidade da conjuntura. A sociedade civil a todo momento manifesta sua profunda insatisfação. Quer um Estado que funcione que: respeite a coisa pública; que seja ágil, que valorize os valores republicanos.

A sociedade civil apresenta um ar de enfado, até de apatia. Imaginava também que após o impeachment o País caminhasse para o pleno funcionamento da democracia, após a maior mobilização popular da nossa história. Acabou acreditando que as mazelas petistas e seu projeto criminoso de poder seriam extintos após a saída de Dilma. Ledo engano. Por um lado devido à permanência na estrutura do Estado dos representantes do PT e, de outro, porque não houve qualquer mudança na forma de ação da máquina governamental.

A tensão política se agravou ainda mais desde a segunda quinzena de maio. A crise sistêmica se revelou sem qualquer disfarce. Houve em algum momento da história do Brasil uma troca de acusações entre o procurador-geral da República e o Presidente da República como vimos na última semana? E um presidente, no exercício do cargo, ser denunciado por corrupção? E um presidente réu? É uma possibilidade na democracia macunaímica que vivemos.

Estamos chegando a um ponto de absoluta desmoralização das instituições, da elite política, dos padrões morais e éticos, e, pior, sem encontrar um caminho que permita sair dessa conjuntura. Não há, ao menos no momento, um caminho e nem a forma de como percorrê-lo. E onde estão os condutores? E as ideias? Algum projeto para o País? O que há então? Nada. Resta o vazio e a desesperança.