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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Onde prospera o medo




Por Reinaldo Azevedo, 06/10/2014,
 www.veja.com.br.

Vejam este mapa, em que o vermelho indica os Estados em que Dilma Rosseff (PT) venceu; o azul, aqueles em que o vitorioso foi Aécio, e os amarelinhos, os que Marina conquistou:
Votos de pessoas beneficiadas e não beneficiadas por políticas assistencialistas valem igualmente. Ainda bem! Assim deve ser numa democracia. Votos de pessoas mais sujeitas e menos sujeitas às chantagens oficiais valem igualmente. Ainda bem! Assim deve ser numa democracia. Votos de pessoas suscetíveis a pregações terroristas e não suscetíveis valem igualmente. Ainda bem! A democracia não tem de criar restrições para o livre exercício da escolha. Mas isso não nos impede de fazer um diagnóstico.
O PT já é o maior partido de grotões do Brasil democrático em qualquer tempo. Querem ver? Dilma venceu em 15 Estados: oito estão no Nordeste, quatro no Norte, dois no Sudeste e um no Sul. Essas três exceções parecem negar a tese, mas só a confirmam. Explico por quê. Em Minas, a petista teve 43,48%, não tão distante de Aécio Neves, com 39,75%; Marina obteve 14%. No Rio, a candidata do PT alcançou 35,62%, quase o mesmo tanto da peessebista, com 31,07%; o tucano chegou a 26,84%. Os gaúchos deram à presidente-candidata 43,21%, quase o mesmo tanto que ao senador mineiro: 41,42%. Vale dizer: a vantagem do petismo não é acachapante.
Onde é que Dilma, de fato, fez a diferença e arrancou a primeira colocação: em oito estados nordestinos — a exceção é Pernambuco — e nos quatro nortistas. Nesse grupo, pasmem, a sua menor marca foi Alagoas, com 49,95%, e a maior foi no Piauí, o segundo estado com os piores indicadores sociais do país: 70,6%. A segunda maior foi no Maranhão, com 69,56% — sim, é a unidade da federação socialmente mais perversa. Assim, os dois Estados que oferecem a pior qualidade de vida à sua população são os mais “dilmistas”. Atentem para o desempenho da petista nos demais, em ordem decrescente: Ceará: 68,3%; Bahia, 61,4%; Rio Grande do Norte, 60,06%; Paraíba, 55,61%; Sergipe, 54,93%; Amazonas, 54,53%; Pará, 53,18%, Amapá, 51,1% e Tocantins: 50,24%.
Aécio obteve a sua melhor marca em Santa Catarina, com 52,89% dos votos, seguido por Paraná, com 49,79%. O Mato Grosso vem em seguida, com 44,47%, e eis que surge São Paulo, com 44,22%. O Estado deu a Aécio 10.152.688 dos seus 34.897.196 votos — isso corresponde a 29% do total; quase um terço. Minas, até agora, está em falta com Aécio. São Paulo não! Azulou de vez.

O Distrito Federal, que conhece bem o PT porque governado pelo partido e porque muito próximo de Dilma, deu à presidente o seu menor percentual: só 23,02%; o segundo menor foi justamente o colhido em terras paulistas: 25,82%.
Dois mapas ajudam a comprovar o que aqui se diz. Vejam o que aconteceu na Bahia — nas áreas em vermelho, o PT venceu:
Agora vejam Minas. Como se nota, é a “Minas Nordestina” — ou baiana — que vota majoritariamente com Dilma.
Muito bem! Aonde quero chegar? É evidente que os petistas colhem hoje os seus melhores resultados nas regiões do país que são mais dependentes do Bolsa Família. Isso não quer dizer, é evidente, que o programa tenha de acabar. Quer dizer apenas que ele precisa existir não como instrumento de um partido, mas como uma política de estado. Não é segredo para ninguém que, pela terceira eleição consecutiva, o terrorismo correu solto nas áreas mais pobres do país: “Se a oposição ganhar, o Bolsa Família vai acabar”. Ora, não era exatamente esse o sentido da campanha eleitoral do PT quando se referia à independência do Banco Central, por exemplo? Se vier, assegura-se por lá, haverá fome. É um disparate.
Eis aí mais uma impressionante ironia da história, não é? O PT, que nasceu para ser o partido das massas urbanas trabalhadoras, é hoje uma legenda que se enraíza nos grotões e que arranca a sua força do subdesenvolvimento minorado pela caridade de Estado transformada em moeda política. Há uma grande diferença entre ter o voto dos pobres e chantagear os pobres com o discurso do medo.

Esses poderes e seus podres



Por Juremir Machado da Silva, 30/09/2014,

Olho o mapa dos poderes e vejo um descalabro geral. O ministro Luís Fux (STF) concedeu auxílio-moradia de mais de quatro mil reais a toda a magistratura. Fux é o mesmo que, faz alguns meses, posava de paladino da moral e da preocupação com o dinheiro público. Depois disso, virou lobista da filha, uma patricinha de 32 anos, sem grande experiência jurídica, que tentou emplacar no cargo de desembargadora na cota da OAB. Sim, tem esse tipo de cota. Chama-se quinto constitucional. Não é racial nem de classe. Mas acaba quase sempre com brancos ricos. Olha o mapa dos poderes e vejo que esse auxílio-moradia dos togados é o segundo, pois, há pouco, houve outro, diluído sob o nome de Parcela Autônoma de Equivalência. Olho o mapa dos poderes e vejo que os togados gaúchos votarão hoje uma nova teta para eles mesmos: auxílio-alimentação. Logo eles que ganham subsídios.
Subsídio é termo inventado para pagar o judiciário com um pacote sem discriminações, o que deveria impedir novos penduricalhos. A plebe também quer poder aumentar o próprio salário. Eu quero. Olho o mapa dos candidatos e vejo, ainda vejo, ainda não se apagou na sucessão de escândalos, que Aécio Neves mandou construir aeroporto em terras da família, que Dilma, na direção da Petrobrás, autorizou um negócio absurdo de compra de uma refinaria nos Estados Unidos e que Marina Silva tem como conselheira e amiga a herdeira do Itaú. Olho o mapa dos poderes e fico sabendo que o presidente da CAPES, relevante organismo do Ministério da Educação, defende a contratação de professores para as universidades federais sem concurso sob o argumento de que os concursos são “jogos de cartas marcadas”. Uau!
O que espanta na afirmação de Guimarães, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, é a possibilidade de que ela seja verdadeira, o que se viu recentemente, num concurso transformado em polêmica e em contenda judicial, na Faculdade de Direito da UFRGS. Em lugar de se tomar providências, melhor driblar os concursos? A culpa é sempre do sofá. A oposição aproveita e grita em tom de pergunta e escárnio: “Depois do Mais Médicos, o Mais Professores”? Olha o mapa dos poderes e vejo velhos profissionais da mídia tentando abocanhar os poderes que sempre criticaram para, obviamente, fazer diferente, mas com velhas receitas que não se mostraram eficientes, embora sempre soem modernas na boca dos marqueteiros e dos empresários desejosos de pagar menos impostos sem deixar de pedir mais serviços e benefícios ao Estado via BNDES.
Olho o mapa dos poderes e vejo executivo, judiciário e legislativo sem muita independência. Um tentando adquirir as “vantagens” obtidas pelos outros em nome da isonomia e do equilíbrio do saque legal aos cofres públicos. Olho o mapa dos poderes e digo com elegância: foi-se o boi com a corda, a égua com os arreios e o magistrado com a toga. Olha o mapa dos poderes e vejo o prefeito de Porto Alegre, filiado ao PDT de Leonel Brizola, não se atrever a sancionar lei de Pedro Ruas, do PSOL, trocando o novo da Avenida Castelo Branco, homenagem a um ditador, para Avenida da Legalidade.
Vou-me embora para Palomas. Lá não tem mapa nem poderes. Mando eu.

Falta o porta-voz?




Direto ao Ponto, por Augusto Nunes, 03/09/2014,
 www.veja.com.br.

Dilma Rousseff perde o sono em dia de pesquisa e perde o controle dos nervos em noite de debate. É compreensível que se apavore ao imaginar-se conversando com um jornalista independente. Ao escapar do encontro com o excelente William Waack, a fugitiva do Jornal da Globo poupou o cérebro baldio do colapso que seria inevitavelmente consumado pelas perguntas que aguardavam a entrevistada. Confiram:
1. Os últimos índices oficiais de crescimento indicam que o país entrou em recessão técnica. A senhora ainda insiste em culpar a crise internacional, mesmo diante do fato de que muitos países comparáveis ao nosso estão crescendo mais?
2. A senhora continuará a represar os preços da gasolina e do diesel artificialmente para segurar a inflação, com prejuízo para a Petrobras?
3. A forma como é feita a contabilidade dos gastos públicos no Brasil, no seu governo, tem sido criticada por economistas, dentro e fora do país, e apontada como fator de quebra de confiança. Como à senhora responde a isso?
4. A senhora prometeu investir R$ 34 bilhões em saneamento básico e abastecimento de água até o fim do mandato. No fim do ano passado, tinha investido menos da metade, segundo o Ministério das Cidades. O que deu errado?
5. Em 2002, o então candidato Lula prometeu erradicar o analfabetismo, mas não conseguiu. Em 2010, foi à vez da senhora, em campanha, fazer a mesma promessa. Mas foi durante o seu mandato que o índice aumentou pela primeira vez, depois de quinze anos. Por quê?
6. A senhora considera correto dar dentes postiços para uma cidadã pobre, um pouco antes de ser feita com ela uma gravação do seu programa eleitoral de televisão?
O que há com Aécio Neves que até agora não formulou nenhuma dessas perguntas ─ claras, concisas e contundentes ─ em debates na TV ou no horário eleitoral? O que espera o terceiro colocado nas pesquisas (e em queda) para acrescentar à sequência de interrogações dezenas de outras amparadas no colosso de casos de polícia protagonizados pelo governo em decomposição? Por que não força a candidata à reeleição a afundar agarrada a respostas bisonhas e álibis mambembes? Para continuar sonhando com o segundo turno, Aécio deve gastar muito mais chumbo com a presidente sem rumo do que com Marina.  É Dilma a concorrente a ser batida.
A onda cavalgada por Marina parece exibir força e fôlego suficientes para alcançar a praia do Planalto. É na onda antipetista, de dimensões igualmente impressionantes, que Aécio Neves talvez consiga surfar. Aí reside a chance derradeira. O PT está cada vez mais grisalho e enrugado. Sumiu o Lula que instalava postes em qualquer gabinete. Quase todos os companheiros candidatos a governador estão mal no retrato. Alguns patinam ofegantes na zona do rebaixamento. Em São Paulo, por exemplo, Alexandre Padilha, nulidade produzida e dirigida pelo chefe supremo, nem chegou aos dois dígitos.
Até agora, os milhões de indignados com os fora da lei no poder não têm porta-voz na temporada de caça ao voto. Nenhum candidato à Presidência ou a governos estaduais traduz o que vai pela mente e pela alma dos humilhados e ofendidos por 12 anos de corrupção, descaramento, cinismo, inépcia, cafajestagem, arrogância, vigarice, cupidez, imoralidade, pouca vergonha, acasalamentos promíscuos com escroques internacionais, agressões à liberdade e ao Estado Democrático de Direito. Fora o resto.
Na paisagem eleitoral, falta o candidato da indignação. Talvez haja tempo para que Aécio Neves se transforme no que desde sempre deveria ter sido e não foi.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Sempre as mesmas desculpas?



 

Em vídeo, Tarso Genro diz que eleição é muito difícil e há em curso um ‘golpe contra a democracia’.

No Rio Grande do Sul, o petista enfrenta um duro segundo turno com José Ivo Sartre (PMDB).

POR MARIA LIMA. 15/10/2014,
www.ogLobo.com.br.
BRASÍLIA — No mesmo tom do secretário geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que considerou a eleição da presidente Dilma Rousseff “delicadíssima”, o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), gravou um vídeo para a militância petista distribuir, alertando que vivem um processo eleitoral muito difícil e que há em curso “um golpe político” contra a democracia e a eleição de Dilma. No recado dirigido aos companheiros e cidadãos e cidadãs “que prezam a democracia”, ele pede a distribuição do vídeo gravado de dentro de um carro, com o semblante assustado.
Genro, que enfrenta um duro segundo turno com o peemedebista José Ivo Sartori, acusa a imprensa de manipular os depoimentos da delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Yousseff. Nos depoimentos divulgados, e que a presidente Dilma também chamou de “golpe”. Os dois investigados mencionaram o secretário de finanças do PT, Vaccari Neto, como o elo da distribuição da propina milionária que teria abastecido políticos do PT, PP e PMDB desde 2006.
“Estamos num processo eleitoral muito difícil. Há uma campanha organizada pela grande mídia contra a eleição da presidenta Dilma, que está alcançando já as raias de uma manipulação eleitoral agora no segundo turno”, acusa Tarso, completando:
“Isso que está acontecendo agora é uma manipulação eleitoral brutal para influir no voto. Vamos nos organizar, vamos lutar, vamos distribuir esse vídeo, alertar a população que há um golpe político em curso para deformar o debate eleitoral. Não deixar que as pessoas formem o seu juízo a partir do debate político, a partir dos programas apresentados pelos candidatos, mas sim a partir dos fatos que estão sendo delatados”, disse Tarso.
No vídeo o governador petista levanta dúvidas sobre a veracidade dos “fatos” delatados pelos presos da operação Lava-Jato. Diz que podem ser ou não verdadeiros e não se sabe, ainda, quem serão os atingidos.
“Essa manipulação eleitoral já foi feita no Brasil na eleição do presidente Collor e ela foi tentada em diversas circunstâncias. Agora ela está sendo efetivada de maneira brutal. É um golpe contra a democracia, um golpe contra a livre manifestação dos eleitores nas urnas”, concluí Tarso no vídeo que já circula com força nas redes sociais.