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domingo, 28 de setembro de 2014

RETRATO DO DESASTRE



Por Vicente Nunes, 18/09/2014,
www.correiobraziliense.com.br.


Em campanha aberta para tentar atrair o apoio do empresariado à reeleição da presidente Dilma Rousseff, o quase ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem lançando, no afogadilho, pacotes com o intuito de criar fatos positivos — e, quem sabe, garantir uns votos a mais a chefe. As medidas, como ocorreu em todo o atual governo, terão efeito limitado. Além de serem mal-elaboradas, muitas não saem do papel. São puro produtos de marketing, que funcionam bem em programas eleitorais.

A gestão de Mantega à frente da Fazenda no governo Dilma vai se encerrar de forma melancólica. Não bastasse a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) ter cortado a previsão de crescimento para o Brasil, de 1,8% para 0,3% neste ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) avisou que rebaixará a perspectiva para o país e, pior, avisou que a inflação, mesmo com recessão, não cairá tão cedo, o que obrigará o Banco Central a promover uma nova rodada de aumento dos juros.

Nas palavras do FMI, o Brasil que Dilma entregará ao próximo governo, que pode estar sob o comando dela, caso vença as eleições de outubro, será desastroso. Será um país com economia estagnada, envolto em uma onda de desconfiança que há décadas não se via, inflação no teto da meta, de 6,5%, preços administrados represados, juros em alta, contas públicas no vermelho e déficit externo recorde. 

O resumo do fracasso que foi a tal da “nova matriz econômica” de Dilma será debatido pelo FMI na reunião do G20, na Austrália, neste fim de semana. Estrategicamente, Mantega e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, optaram por não irem ao encontro. Preferiram enviar subordinados para não serem confrontados com um quadro tão ruim da economia brasileira. O pior é que não há nada no horizonte que mostre uma reversão do desastre tão cedo.

Horizonte nebuloso

Na avaliação de Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho, apesar do discurso do governo de que a atividade vai se recuperar neste segundo semestre, os sinais de fragilidade são evidentes. “O crescimento do Brasil neste ano será mínimo”, diz. Ele ressalta que, a despeito desse resultado frustrante, a inflação continuará muito elevada. No Banco Central, o sentimento é visão é semelhante. Técnicos da instituição dizem que, em julho, depois de ir ao fundo do poço, a indústria realmente mostrou um desempenho melhor. Mas, no mês passado, voltou a tombar. O varejo, por sua vez, sofre com as dificuldades enfrentadas pelas famílias, que tiveram o poder de compra corroído por um longo período de inflação no teto da meta e se atolaram em dívidas.

Alívio temporário

» O comunicado do Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, avisando que os juros na maior economia do planeta continuarão baixos por um “período relevante”, deixou uma sensação de alívio no Banco Central. Mas em nada diminuiu a disposição do time comandado por Alexandre Tombini de estender, para além de 2014, as intervenções no câmbio por meio de contratos de swap.

Dólar entre R$ 2,60 e R$ 2,80

» Dentro do governo, há estimativas de que o dólar poderá atingir, até o fim do ano, entre R$ 2,60 e R$ 2,80. A possível arrancada da moeda norte-americana, que ajudaria as exportações, é vista com cautela, pois pressiona a inflação e arrebenta o caixa da Petrobras. No período em que a divisa dos EUA andou perto de R$ 2,20, a defasagem entre os preços dos combustíveis no país e no exterior diminuiu bastante, minimizando os estragos da política populista do governo, de vender gasolina aqui mais barata que no exterior.

Déficit à vista

» Quem acompanha o dia a dia das contas públicas garante que, excluídas todas as manobras realizadas pelo secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, o superávit primário (economia para o pagamento de juros da dívida) está próximo de zero, podendo se transformar em déficit até o fim do ano. Para o FMI, está passando da hora de o Brasil fazer um ajuste fiscal consistente, que realmente coloquem a dívida bruta em trajetória de queda.

Clima azedou

» Os investidores aumentaram ontem as apostas na possibilidade de vitória de Marina Silva no segundo turno das eleições presidenciais. Acreditam que o movimento anti-PT levará a maioria dos votos de Aécio Neves para a candidata do PSB. No Palácio do Planalto, o clima anda para lá de azedo.

Torcida pela saída de Mantega

» Um grupo de funcionários do ministério da Fazenda foi retirado ontem auditório no qual estavam reunidos para a coletiva à imprensa de Guido Mantega. Ao serem avisados da entrevista, um deles perguntou: “O ministro vai avisar que saiu?”. Ao ser indagado se era isso que queria ouvir, não titubeou. “Sim”, respondeu.

Concessionárias respiram

» A decisão dos bancos de reduzirem as taxas de juros para veículos deu um alívio às concessionárias. Do total de carros novos vendidos em agosto no Distrito Federal, quase 15% foram financiados em até dois anos. No mesmo mês de 2013, foram 10,7%, segundo o Itaú Unibanco, que baixou sua taxa de 1,3% para 0,99% ao mês.





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