Por Vicente Nunes, 18/09/2014,
www.correiobraziliense.com.br.
Em campanha aberta para tentar atrair o apoio do
empresariado à reeleição da presidente Dilma Rousseff, o quase ex-ministro da
Fazenda, Guido Mantega, tem lançando, no afogadilho, pacotes com o intuito de
criar fatos positivos — e, quem sabe, garantir uns votos a mais a chefe. As
medidas, como ocorreu em todo o atual governo, terão efeito limitado. Além de
serem mal-elaboradas, muitas não saem do papel. São puro produtos de marketing,
que funcionam bem em programas eleitorais.
A gestão de Mantega à frente da Fazenda no governo
Dilma vai se encerrar de forma melancólica. Não bastasse a Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) ter cortado a previsão de
crescimento para o Brasil, de 1,8% para 0,3% neste ano, o Fundo Monetário Internacional
(FMI) avisou que rebaixará a perspectiva para o país e, pior, avisou que a
inflação, mesmo com recessão, não cairá tão cedo, o que obrigará o Banco
Central a promover uma nova rodada de aumento dos juros.
Nas palavras do FMI, o Brasil que Dilma entregará
ao próximo governo, que pode estar sob o comando dela, caso vença as eleições
de outubro, será desastroso. Será um país com economia estagnada, envolto em
uma onda de desconfiança que há décadas não se via, inflação no teto da meta,
de 6,5%, preços administrados represados, juros em alta, contas públicas no
vermelho e déficit externo recorde.
O resumo do fracasso que foi a tal da “nova matriz
econômica” de Dilma será debatido pelo FMI na reunião do G20, na Austrália,
neste fim de semana. Estrategicamente, Mantega e o presidente do Banco Central,
Alexandre Tombini, optaram por não irem ao encontro. Preferiram enviar
subordinados para não serem confrontados com um quadro tão ruim da economia
brasileira. O pior é que não há nada no horizonte que mostre uma reversão do
desastre tão cedo.
Horizonte nebuloso
Na avaliação de Luciano Rostagno,
estrategista-chefe do Banco Mizuho, apesar do discurso do governo de que a
atividade vai se recuperar neste segundo semestre, os sinais de fragilidade são
evidentes. “O crescimento do Brasil neste ano será mínimo”, diz. Ele ressalta
que, a despeito desse resultado frustrante, a inflação continuará muito
elevada. No Banco Central, o sentimento é visão é semelhante. Técnicos da
instituição dizem que, em julho, depois de ir ao fundo do poço, a indústria
realmente mostrou um desempenho melhor. Mas, no mês passado, voltou a tombar. O
varejo, por sua vez, sofre com as dificuldades enfrentadas pelas famílias, que
tiveram o poder de compra corroído por um longo período de inflação no teto da
meta e se atolaram em dívidas.
Alívio temporário
» O comunicado do Federal Reserve (Fed), o Banco
Central dos Estados Unidos, avisando que os juros na maior economia do planeta
continuarão baixos por um “período relevante”, deixou uma sensação de alívio no
Banco Central. Mas em nada diminuiu a disposição do time comandado por
Alexandre Tombini de estender, para além de 2014, as intervenções no câmbio por
meio de contratos de swap.
Dólar entre R$ 2,60 e R$ 2,80
» Dentro do governo, há estimativas de que o dólar
poderá atingir, até o fim do ano, entre R$ 2,60 e R$ 2,80. A possível arrancada
da moeda norte-americana, que ajudaria as exportações, é vista com cautela,
pois pressiona a inflação e arrebenta o caixa da Petrobras. No período em que a
divisa dos EUA andou perto de R$ 2,20, a defasagem entre os preços dos
combustíveis no país e no exterior diminuiu bastante, minimizando os estragos
da política populista do governo, de vender gasolina aqui mais barata que no
exterior.
Déficit à vista
» Quem acompanha o dia a dia das contas públicas
garante que, excluídas todas as manobras realizadas pelo secretário do Tesouro
Nacional, Arno Augustin, o superávit primário (economia para o pagamento de
juros da dívida) está próximo de zero, podendo se transformar em déficit até o
fim do ano. Para o FMI, está passando da hora de o Brasil fazer um ajuste fiscal
consistente, que realmente coloquem a dívida bruta em trajetória de queda.
Clima azedou
» Os investidores aumentaram ontem as apostas na
possibilidade de vitória de Marina Silva no segundo turno das eleições
presidenciais. Acreditam que o movimento anti-PT levará a maioria dos votos de
Aécio Neves para a candidata do PSB. No Palácio do Planalto, o clima anda para
lá de azedo.
Torcida pela saída de Mantega
» Um grupo de funcionários do ministério da Fazenda
foi retirado ontem auditório no qual estavam reunidos para a coletiva à
imprensa de Guido Mantega. Ao serem avisados da entrevista, um deles perguntou:
“O ministro vai avisar que saiu?”. Ao ser indagado se era isso que queria
ouvir, não titubeou. “Sim”, respondeu.
Concessionárias respiram
» A decisão dos bancos de reduzirem as taxas de
juros para veículos deu um alívio às concessionárias. Do total de carros novos
vendidos em agosto no Distrito Federal, quase 15% foram financiados em até dois
anos. No mesmo mês de 2013, foram 10,7%, segundo o Itaú Unibanco, que baixou
sua taxa de 1,3% para 0,99% ao mês.
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