Para
Dilma Rousseff não há situação política ruim que não possa ser piorada. No auge
da crise - que também é uma crise de relacionamento do governo com seu maior
aliado, o PMDB -, líderes do partido nas duas Casas do Congresso foram chamados
ao Palácio do Planalto para tratar da tramitação das medidas de ajuste fiscal.
Mas a presidente Dilma cometeu, mais do que a indelicadeza, a imprudência de
não convidar para os encontros o vice-presidente, Michel Temer, principal líder
nacional do PMDB. O agravo repercutiu fortemente nos círculos peemedebistas. Na
tentativa de consertar a trapalhada, Dilma convocou Temer às pressas, para uma
conversa de 20 minutos.
Diante
de uma crise política que tem custado sucessivas derrotas ao governo no Senado
e na Câmara, há poucos dias o Palácio do Planalto anunciou que o núcleo central
de decisões políticas estratégicas do governo seria reformulado para incluir o
vice-presidente da República. Mas, por razões que a própria razão desconhece,
na primeira oportunidade de dar efeito prático à novidade, Michel Temer não foi
lembrado ou sua presença naqueles encontros foi considerada desnecessária.
Pode-se
argumentar - e provavelmente isso foi feito na ocasião - que a ausência de
Temer se justificava pelo fato de se tratar de reuniões com "público
externo", para esclarecimentos e troca de informações, e ao novo núcleo
político central, pela natureza de suas funções, caberia reunir-se apenas para
efeito "interno". Mas as repercussões da trapalhada revelam que, mais
uma vez, a presidente pisou feio na bola ao tratar o presidente do PMDB da
forma habitual: com polida indiferença.
A
responsabilidade pela crescente dificuldade de o governo e sua base aliada se
entenderem, porém, não pode ser debitada exclusivamente à inapetência política
e à visceral incapacidade de Dilma Rousseff de fazer política, ou seja, de
negociar e buscar consensos.
O
presidencialismo de coalizão à moda lulopetista funcionou enquanto tinha à
frente um político carismático, pragmático e persuasivo, lastreado por enorme
apoio popular. Dilma não é nada disso. E o vazio político que, por desinteresse
e incompetência, ela permitiu que se criasse, foi ocupado pela nomenclatura
petista, que sempre teve metas muito precisas: no plano político, focar
exclusivamente o seu projeto de poder; no âmbito interpartidário, manter em
segundo plano os interesses dos aliados, quando não fosse possível simplesmente
ignorá-los.
Essa
visão peculiar de aliança ou parceria se deve à insopitável soberba petista
que, seja por razões ideológicas, como é o caso de Dilma, seja por puro
fisiologismo da companheirada apegada ao desfrute das benesses do poder,
entende que todos os demais partidos políticos, por não serem, como o PT,
ungidos pelo dom e pela missão divina de salvar a Pátria, devem conformar-se
com o papel de meros coadjuvantes e satisfazerem-se com aquilo a que fazem jus
por sua condição inferior.
Para
os petistas, aliados são subalternos. E Dilma colocou-os em seu devido lugar
nas reuniões de quarta-feira. Primeiro, impondo-lhes, com a habitual
contundência, os argumentos pelos quais devem apoiar as medidas governamentais;
depois, revelando a impaciência de sempre com os questionamentos; finalmente,
cobrando, duramente, fidelidade na votação das matérias de interesse do governo
porque, afinal, todos ali eram representantes de partidos aquinhoados com
cargos importantes na administração federal. Ou seja: tomou lá dê cá.
Como
se senadores e deputados já não tivessem motivos suficientes para não gostar
dos métodos de Dilma, o ministro da Educação, Cid Gomes, inspirou-se em um Lula
pré-histórico para declarar que há em Brasília "uns 400, 300
deputados" que querem "é que o governo esteja frágil porque é a forma
de eles achacarem mais". Conseguiu ser convocado - obrigado, portanto, a
comparecer -, pelo voto de 280 deputados, a explicar-se na Câmara. E ainda teve
um projeto de interesse da sua pasta retirado da pauta de votação.
Com
Dilma Rousseff como chefe e um ministro como esse, o governo, definitivamente,
não precisa de adversários.
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