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quinta-feira, 17 de agosto de 2017

A Firma

O custo da corrupção de Cabral e sua Firma supera o valor do subsídio dado pela Prefeitura do Rio ao cartel de ônibus, estimado em R$ 32 milhões neste ano.

Por Augusto Nunes, 04/07/2017,
 www.veja.com.br


Texto de José Casado Publicado no Globo

Sérgio Cabral era um sócio oculto da Fetranspor, o cartel formado pelas 200 concessionárias de ônibus que operam no Estado do Rio. Até onde se sabe o ex-governador, nunca foi dono de frota de transporte coletivo. Nem precisava, era o chefe da Firma — como o grupo de funcionários públicos corruptos se autodenominava, contou Luiz Carlos Cabral, ex-assessor de Cabral, em depoimento na Justiça Federal.
Entre 2010 e 2016, o ex-governador recebeu R$ 122 milhões, ou seja, 47% do valor distribuído pelos empresários de ônibus à Firma.
Embolsou R$ 20,3 milhões por ano. Foram R$ 55,6 mil por dia, na média, segundo as planilhas de propinas da Fetranspor obtidas pelo Ministério Público Federal.
Não é pouco. Corresponde à receita de venda de 14,6 mil bilhetes diários ao custo de R$ 3,80 por viagem. Isso só é possível obter com 384 ônibus rodando lotados o dia todo na cidade do Rio, de acordo com o Databank da Fetranspor.
Visto de outro ângulo, o custo da corrupção de Cabral e sua Firma supera o valor do subsídio dado pela Prefeitura do Rio ao cartel de ônibus, estimado em R$ 32 milhões neste ano. Representa, ainda, mais de dois terços de outro gasto do município com transporte coletivo, o dos alunos das escolas públicas.
Começou em 1991, relatou Álvaro Novis, responsável na Firma pela organização da logística de coleta, lavagem e distribuição de propinas. Empresas de ônibus e empreiteiras como Odebrecht pagavam em espécie, dinheiro vivo.
Transportar e armazenar grandes volumes de notas de baixo valor foi um problema, logo resolvido pela intervenção de uma corretora de valores, Hoya, e a contratação de empresas regionais de segurança, como a Transegur (sucedida pela Prosegur) e pela Transexpert.
O fluxo financeiro da Firma era centralizado na corretora, onde um funcionário, Edimar Moreira Dantas, atualizava planilhas.
Ele recebeu ordens para destruí-las quando a Operação Lava Jato começou. Fez o serviço, mas antes copiou todo o movimento de 2010 a 2016 num pendrive, e levou-o para casa. Detido, negociou um acordo de delação premiada. Entregou a memória eletrônica, explicando a natureza dos dados.
Novis, o encarregado da logística na Firma, seguiu o exemplo de Dantas e entregou todos os pen drives que guardara durante anos.
Neles identificou as várias contas da Fetranspor reservadas a Cabral. Foram R$ 70 milhões pela “CM”; R$ 31,6 milhões via “Abacate” e R$ 16,5 milhões pela “Verde”, entre outras entregas.
Os primeiros pagamentos, lembrou, ocorreram dentro da Assembleia Legislativa.
Cabral foi deputado estadual por mais de uma década. No dia em que assumiu a presidência da Alerj, em 1995, chamou jornalistas ao seu gabinete e mostrou-lhes o banheiro privativo. Era o local preferido pelos antecessores, contou, porque lá ocorriam as entregas semanais de propinas.
Duas décadas depois se descobre que aquele banheiro foi, também, um marco na carreira política de Sérgio de Oliveira Cabral Santos Filho. Aos 54 anos, o ex-governador do Rio está preso na cadeia pública de Benfica. Adormece em colchões ortopédicos.


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