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sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Quem pode ser presidente?

Por Juremir Machado da Silva, 10/11/2017,
 www.correiodopovo.com.br


Luciano Huck quer ser presidente
 da República.
Por que mesmo?
O que faz pensar que está habilitado para o cargo? Imagino duas categorias de presidenciáveis: o indivíduo que tem competência específica – como um cirurgião para operar – em gestão, direito, economia e política; e aquele que encarna o símbolo de uma classe, luta ou capacidade de mobilização de pessoas por sua entrega a uma causa. O que faz Luciano Huck e o técnico de vôlei Bernardinho pensar que eles integram uma dessas duas categorias? Bernardinho mostrou competência para treinar equipes de vôlei. Nada mais. Huck saber fazer um tipo particular de programa de televisão assistencialista. É tudo.
Bernardinho pensa em ser governador. Huck voa mais alto. O que eles possuem? Visibilidade. Eis uma das distorções da democracia: o mais visível passa a ser confundido com o mais preparado. Um campeão de xadrez deveria ser presidente da República? Não é visto como o mais inteligente? O irônico Bernard Shaw dizia que o xadrez é ótimo para preparar jogadores de xadrez. O presidente deveria ser então um especialista como Henrique Meirelles? Para cada uma das suas afirmações, sempre em tom definitivo, há alguma em contrário feita por outro especialista. A presidência deve ser entregue a tecnocrata, a um líder carismático ou a quem for capaz de unir todas essas facetas?
Não há resposta científica. Na democracia, a competência mais importante é a de fazer votos. Quem votaria em Luciano Huck? O mercado. É incrível como o tal mercado, tão apegado à meritocracia, vota em qualquer um que repita alguns dos seus slogans brandidos como modernos. Nunca pensei em deixar o Brasil. Acho esse tipo de desejo típico das simplificações de classe média. Mas se Huck for eleito talvez seja o caso de pensar nisso. Claro, há pior. Jair Bolsonaro. Eleger Bolsonaro tem a ver com uma visão simplista do tratamento da coisa pública. É a política do coice. Se meter o pé na porta, vai. A escolha de Huck é mais complicada. Ela só se explica pela confusão entre admiração por sucesso e visibilidade com habilitação para tudo.
Que um apresentador de televisão ou um treinador de vôlei, sem qualquer experiência política e administrativa e muito menos preparação teórica para esse tipo de atuação, possam sonhar em ocupar as mais altas funções públicas do país num passe de mágica eleitoral faz pensar em nossas limitações intelectuais. Ou é muito fácil ser presidente ou tem algo errado na fórmula. De repente, estamos todos dentro de um atroz reality show de autoajuda. Aí sopra um vento otimista: a democracia pode nos salvar disso. Basta que os eleitores façam uma escolha mais consistente e séria. Eles estão preparados para tanto? A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos prova que não.
Restam as hipóteses radicais: e se para o eleitor a eleição não for mais do que um jogo no qual ele aposta sem crer profundamente no resultado? E se ele souber que vai perder sempre? E se o eleitor for um cínico que brinca com seu voto? Pode ser. O mercado fala sério.


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