Uma peça digna de teatro mambembe a
encenação de governo e PSDB para dar a impressão de que não há derrotas nem
derrotados
Por Dora Kramer, 14/11/2017,
www.veja.com.br
A pretexto de montar uma saída elegante, conforme
recomendou o governador Marconi Perillo, o PSDB comete a suprema deselegância
de se juntar ao governo Michel Temer para contar lorotas à sociedade. Tanto o
presidente quanto tucanos de primeiro escalão se disseram “surpresos” com o
pedido de demissão de Bruno Araújo do ministério das Cidades que, por essa
versão, vai precipitar as mudanças na equipe que inicialmente seriam
feitas em abril quando os ministros candidatos às eleições deveriam se
desincompatibilizar dos cargo. Oficialmente, nada a ver com a urgência de o tucanato
mostrar ao público que não estava sendo posto para fora e a necessidade do PMDB
de colaborar com a salvação da honra do partido a fim de não queimar pontes e
caravelas que poderão ser bastante úteis em 2018.
Verdadeiramente, é o que acontece. Ou o leitor e a
leitora atentos se esqueceram de que na semana passada Michel Temer deu como
“consolidada” a saída do PSDB? Lembram-se também de que depois disso, Aécio
Neves _ a âncora que mantinha o partido atrelado ao Planalto - se apressou em
constatar a aproximação do momento do desembarque. Puxando um pouco mais pela
memória devem se recordar do seguinte: tão logo o país ficou sabendo das
tratativas entre Aécio e Joesley Batista, Bruno Araújo anunciou, e depois
recuou, que deixaria o ministério aliado ao grupo que preconizava pelo
afastamento àquela época. Isso faz seis meses. Nesse período, Araújo se manteve
silente sobre seu recuo e palavra pública não deu mais sobre a questão do sai
ou fica.
É de se perguntar, então, qual a surpresa? Nenhuma.
Apenas a direção o liberou para retomar a decisão original devido às
circunstâncias. O PSDB precisava urgentemente fazer um gesto que marcasse a
saída como iniciativa própria. A ajuda do Planalto veio na forma de versão bem
ajeitada sobre a “reforma ministerial” que não reformará coisa alguma. Apenas
acomodará os valdemares da costa neto da vida que reivindicavam, ao feitio de
chantagem, postos mais robustos dos pontos de vista eleitoral e orçamentário
para voltarem a conversar sobre a hipótese de votar assuntos de interesse do
governo no Congresso.
Temer topou, inclusive porque um PSDB conflagrado,
queixoso e desprovido da antiga condição de boa grife já não lhe servia para
praticamente nada. O Planalto obteve sua solução. Já o PSDB continua às
voltas com um problemão.