Entre requerimentos e projetos de lei, Moro e a PGR
- estrelas da Lava Jato - tentam evitar
que as investigações parem na Justiça Eleitoral
Por Machado
da Costa, 26/03/2019,
www.época.com.br
Sergio Moro defende a mudança na lei para levar de
volta à Justiça comum todos os crimes de caixa dois
Após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de mandar os
processos envolvendo crimes de caixa dois relacionados a campanhas políticas
para a Justiça Eleitoral, membros do governo ligados à Operação Lava Jato
trabalham nas possíveis manobras para impedir que isso aconteça na prática.
Primeiramente, Raquel Dodge pediu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que
juízes federais possam atuar nas varas eleitorais. Agora, o ministro da
Justiça, Sergio Moro, defende a mudança na lei para levar de volta à Justiça
comum todos os crimes de caixa dois. A proposta já consta no pacote anticrime,
encaminhado à Câmara.
Na segunda-feira, Dodge entregou um requerimento que pode
driblar a decisão do STF. Caso o TSE aceite, os juízes federais poderiam ser
requisitados para assumir os processos, em vez dos juízes estaduais, como é a
prática do Judiciário em crimes eleitorais. Essa mudança de jurisdição permite
que o mesmo Ministério Público — o federal — continue no caso, em vez de
entregar para os MPs estaduais. Ou seja, um caso relacionado à Lava Jato
continuaria sendo investigado pela força-tarefa.
A medida, no entanto, já está sendo questionada. Alguns
especialistas a consideram inconstitucional. Paula Salgado
Brasil, professora de Direito Constitucional da Escola de Direito do
Brasil (EDB), entende que Dodge deseja fazer uma ampla reestruturação na
Justiça Eleitoral que “não é tão simples nem tão singela quanto
parece”.
“O Ministério Público Federal tinha a expectativa de que o
entendimento do STF fosse alterado e que se privilegiasse o processamento dos
crimes comuns [ocorridos em eleições] em separado dos crimes eleitorais”, diz
Brasil. “O STF realizou um julgamento técnico, entendendo que esses crimes
comuns são conexos com os crimes eleitorais. Assim, devem permanecer com os
juízes eleitorais — os estaduais.”
Marilda Silveira, especialista em Direito Eleitoral e
professora da Escola de Direito do Brasil, concorda e cita decisões
administrativas que corroboram a jurisprudência dos juízes estaduais. “A
pretensão de atribuir competência eleitoral aos juízes federais não é nova e já
foi enfrentada pelo TSE em algumas oportunidades”, diz.
Silveira cita a Petição 33.275, de 2011, julgada pelo STF.
Nela, o plenário determina que os juízes federais não deverão atuar na Justiça
Eleitoral até outro julgamento pela Corte. “O TSE sempre entendeu que juízes de
Direito são juízes estaduais e que, portanto, seriam os competentes para
exercer as funções de juízes eleitorais na primeira instância da Justiça
Eleitoral.”
Requerimento feito por Raquel Dodge, para que juízes federais
julguem crimes de Caixa 2 na primeira instância, é considerado inconstitucional
por especialistas.
A polêmica aumenta ao se perceber que a Justiça Eleitoral não
possui estrutura no momento para investigar casos tão complexos de corrupção.
Não à toa, o juiz da 7ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, Marcelo Bretas, fez
questão de apontar no mandado de prisão contra o ex-presidente Michel Temer que
a denúncia — propina paga por meio de caixa dois na campanha de 2014 — não se
tratava de um delito eleitoral.
O Globo mostrou que a Justiça e o Ministério Público
Eleitoral ainda planejam se fortalecer diante da decisão do STF, uma vez que o
suporte de pessoal é fundamental para o sucesso das investigações. No Rio de
Janeiro, por exemplo, a força-tarefa da Lava Jato conta com 11 procuradores e
quase 40 assessores. Em Curitiba, há 15 procuradores, 11 policiais federais e
30 assessores, quase todos exclusivos da Lava Jato.
Em contraponto, na capital paranaense, a promotoria eleitoral
da maior zona da cidade possui apenas quatro servidores concursados, além de um
estagiário e dois outros funcionários. No Rio, cada promotor conta com um
assessor e poucos servidores.
SAÍDA PELO SENADO
Com o pacote anticrime travado na Câmara, uma vez que o
presidente da Casa, Rodrigo Maia, não aceita levá-lo à frente antes da proposta
da nova Previdência, o ministro Moro recebeu uma dica
útil: tramitá-lo pelo Senado. Quem levou a sugestão ao ex-juiz foi a
senadora Eliziane Gama (PPS-MA), segundo o jornal O Estado de S.
Paulo . Assim, Moro poderia monopolizar o debate no Senado, enquanto que a
Previdência é discutida na Câmara.
Moro tem pressa para que saia do papel seu pacote. Um dos
motivos é que o projeto estabelece a competência da Justiça comum para todos os
crimes de caixa dois. “Como foi interpretação legislativa, o que se pode fazer
é tentar mudar via legislativa. No âmbito do projeto anticrime, nós temos um
projeto, o PLP 38/2019, que pode ser apreciado”, disse em entrevista à
rádio Bandnews , nesta terça-feira, 26.
De quebra, ele se livraria do imbróglio com Maia e tiraria o
bode da sala que causa tanto estresse nas discussões do Executivo com o
presidente da Câmara.
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