Por Vicente Nunes,
17/09/2014,
Não será fácil a vida do próximo presidente da
República, seja quem for o vencedor. Diante da dramática situação da economia e
da onda de desconfiança que mina, sem dó, o Produto Interno Bruto (PIB), não
bastará apenas um tradicional choque de credibilidade para que a situação volte
o controle. Fazer um ajuste fiscal consistente, deixar o dólar flutuar e levar
a inflação para o centro da meta, de 4,5%, serão temas de início de conversa.
Os eleitores vão exigir muito mais daquele que comandará o país a partir de
2015.
“Ajuste fiscal, câmbio flutuante e inflação na meta
foram fundamentais para que Lula, recém-reeleito, conquistasse a confiança do
país e virasse o jogo em 2003”, diz Eduardo Velho, economista-chefe da INVX
Partners. “Agora, as demandas vão muito além desse tripé que vem sustentando a
estabilidade econômica. Um choque de credibilidade exigirá reformas importantes
que destravem o Brasil, reduzindo o custo de produção e da mão de obra e
ampliando a competitividade”, acrescenta.
A exigência maior do eleitorado, sobretudo dos mais
escolarizados, reflete a frustração com o pouco avanço do Brasil nos últimos
anos a fim de garantir um futuro melhor. A despeito da força política com que
chegaram ao Palácio do Planalto, os governantes pouco se empenharam para
aprovar as mudanças de que o país tanto precisa, seja para dar maior
produtividade à indústria, que está se esvaindo, seja para fortalecer o mercado
de trabalho. Ao menor sinal de dificuldade — ou de perda de popularidade —,
preferiram manter o Brasil com um pé no atraso.
Muita gente ainda não se deu conta, mas o adiamento
das reformas custará muito caro quando o mundo recuperar as forças. O atual
governo gosta de atribuir o fraco desempenho do PIB à crise internacional,
renegando os erros em série que cometeu. Independentemente do atoleiro em que
se encontram, muitos países, especialmente os da Europa, trataram de promover
mudanças estruturais importantes, que vão lhes permitir saírem bem mais
competitivos das dificuldades que enfrentam.
O Brasil, para desespero dos agentes econômicos,
continua apostando na sorte. Acredita que tirará proveito, como todos, da
retomada da economia mundial. Difícil acreditar. No máximo, se manterá como
grande produtor e exportador de commodities, condição que não combina com a
ambição de estar entre as maiores economias do planeta.
Alumínio derrete
» Não é à toa que o empresariado anda tão
descontente com o governo Dilma Rousseff. Base da indústria brasileira, o setor
de alumínio está na UTI. A fabricação, que já chegou 1,6 milhão de toneladas em
2007, fechará este ano em apenas 900 mil — um tombo de 44%. Com isso, diz
Milton Rego, presidente da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), o Brasil
se tornará, pela primeira vez, importador líquido do produto. As exportações
somarão 446,9 mil toneladas, e as importações, 625, 9 mil. Desde que Dilma
tomou posse, a produção de alumínio no Brasil caiu 33,3%.
Energia ficou mais cara
» Para Milton Rego, que esteve ontem com Alessandro
Teixeira, chefe da equipe econômica da campanha de Dilma Rousseff à reeleição,
se o Brasil não fizer uma política industrial que tenha o custo de energia como
um de seus pilares, estará condenando vários setores, como de alumínio, à
extinção. No entender do presidente da Abal, o governo fez um grande carnaval para
anunciar a redução do custo da eletricidade a partir de 2013. O argumento
principal era de que precisava reduzir os custos da indústria. “O que vimos,
porém, foi aumento de tarifas”, afirma.
Parceiros se aproveitam
» O que mais assusta os produtores de alumínio é o
descaso do poder público. Em 2012, o governo criou um grupo de trabalho
envolvendo vários órgãos para dar maior competitividade às indústrias do setor.
Nunca se aprovou qualquer medida. Ao mesmo tempo, três parceiros do país no
Brics ampliaram substancialmente a produção. A China já responde por metade do
alumínio ofertado no mundo, com 22 milhões de toneladas. A Rússia despeja 3,7
milhões de toneladas no mercado. A Índia, 1,6 milhão. Isso, apesar de o Brasil
ter bauxita de excelente qualidade — o mineral é a matéria-prima do alumínio —
e um mercado consumidor forte. A demanda, agora de 1,5 milhão de toneladas,
cresce, em média, ao ritmo de 5% ao ano.
Aumento de imposto
» Está cada vez mais forte no mercado a aposta de
que o próximo presidente da República, seja quem for, terá que aumentar
impostos se quiser fechar as contas públicas e apresentar um superávit primário
(economia para pagar juros) superior a 2% do PIB.
Estoque contra a inflação
» Não está fácil a vida das famílias. Com a
inflação no governo Dilma insistentemente próxima ao teto da meta, de 6,5%,
muitos chefes de casa tiveram que reduzir as idas aos supermercados. Nas vezes
em que vão, compram mais produtos para estocar, temendo a disparada dos preços.
Trata-se de comportamento semelhante aos dos períodos de hiperinflação.