Por
Reinaldo Azevedo, 18/07/2014,
www.veja.com.br.
Vou
aqui fazer algumas considerações que, creiam nada tem de campanha eleitoral ou
de expressão de afinidades eletivas, embora eu, como toda gente, faça as minhas
opções. Na democracia, desde que os candidatos transitem no escopo democrático
e se coloquem na defesa dos valores que essa democracia pode abraçar, todas as
escolhas são igualmente legítimas, como legítimas são as divergências
ideológicas. Em ciências humanas, e a economia também é uma ciência humana,
quase nunca se tem uma resposta única para um problema. Mas é certo que essa
resposta tenderá a ser ineficaz ou mesmo contraproducente se contrariar a
matemática, a lógica, a história e, eventualmente, a experiência.
Já
há algum tempo estamos diante de um dado eloquente Aquilo a que chamamos
“mercado” tem reagido muito bem à queda da presidente Dilma Rousseff nas
pesquisas eleitorais e à possibilidade de a oposição vencer a disputa em 2014.
Às vezes, para rimar os números com a esperança de mudança, nem se precisa do
fato; basta o boato. E não foi diferente nesta sexta. Como a pesquisa Datafolha
apontou um empate técnico no segundo turno entre o tucano Aécio Neves e a
presidente — 40% a 44% para ela — e uma diferença de apenas sete pontos entre a
petista e Eduardo Campos — 38% a 45% —, o Ibovespa passou a operar em alta. Às
15h1o, estava aos 57.175 pontos. Na máxima do dia, o índice chegou a 3,31%. Os
destaques vejam vocês, ficaram com as estatais: a Petrobras, por exemplo,
exibia ganhos de 5,56% nas ações ON (as ordinário-nominativas), aquelas que dão
direito a voto, e 5,6% na PN, a preferencial nominativa, a que não dá e é a
mais negociada por investidores não profissionais.
Por
que é assim? Ninguém precisa ser deste ou daquele partido para saber que,
infelizmente, hoje e há muito tempo já, o governo usa as estatais brasileiras
não apenas para fazer política de desenvolvimento, não apenas para cuidar do
interesse nacional. Ele as utiliza também para cuidar de interesses bem mais
mesquinhos, partidários, e como elemento de ajuste — precário e temporário —
dos desacertos da política econômica. É sabido, por exemplo, que as tarifas
estão represadas para evitar uma elevação da inflação, que já ultrapassa o teto
da meta. Como malefício adicional, seguem intocados os fatores que causam a
elevação do índice inflacionário.
É
claro que isso tem um preço. Até agora, a presidente Dilma e o PT não deram
sinais de que vão mudar essa política caduca caso obtenham mais quatro anos de
mandato. Ao contrário até: aqui e ali, lideranças do partido, como o próprio
Lula, têm preferido atacar o tal “mercado”, como se ele fizesse um mal ao
Brasil. Ao contrário. Felizmente temos um mercado relativamente forte no país,
que serve como um radar e como uma advertência. A cada bobagem ou medida
atabalhoada que o governo toma na economia, ele reage. Mais importante: reage
também a expectativas, a partir de alguns indícios. Isso serve como freio à
tendência autocrática dos governos. Sabem quem não tem mercado? Cuba! Sabe quem
praticamente não tem mercado? A Venezuela! Já a tirania chinesa tem um, sim, e
é gigantesco! A existência de um mercado, em suma, não garante a democracia.
Mas só existe democracia onde ele atua e serve como instrumento de leitura da
realidade.
Quando
os investidores reagem bem à perspectiva de alternância de poder, é preciso que
o governo ponha a mão na consciência. Em vez de sair por aí demonizando os
agentes econômicos e mesmo seus adversários, talvez fosse o caso der tomar
medidas efetivas para mudar de rumo. O que vemos, no entanto, infelizmente, são
escolhas que caminham no sentido contrário. Além de tentar atrelar a
administração pública federal e seus entes a conselhos formados por militantes
políticos, o governo já pensa abertamente em estatizá-los, subordinando ainda
mais o interesse público às militâncias organizadas.
A
reação do mercado é, na verdade, a reação de uma fatia considerável e legítima
da sociedade, que contribui de modo efetivo para gerar as riquezas com as quais
se administra a máquina pública e que, inclusive, geram os bens necessários
para as políticas de compensação e de distribuição de renda. Atacar os seus
fundamentos também corresponde a atuar contra os interesses dos mais pobres.
A
reação dos mercados é parte importante da reação de uma sociedade que quer
mudar porque sente que, hoje, o Estado e o governo viraram seu adversário.
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