Por Reinaldo Azevedo, 03/08/2015,
www.veja.com.br
Na semana passada, tanto um executivo
da Odebrecht como outro da Andrade Gutierrez, que integravam o mesmo consórcio
que disputava a construção de Angra 3, informaram que foram procurados por
Ricardo Pessoa para fazer doações ao PMDB. Ambos dizem que as doações não
aconteceram. Escrevi aqui, no dia 30, o
seguinte:
“Tanto o executivo da Camargo Corrêa
como o da Odebrecht dizem que não se fez doação nenhuma. Então vamos ver:
empresas que compunham um mesmo consórcio eram alvos de, digamos, “pedidos”
independentes para doar uma grana aos partidos — nesse caso, ao mesmo partido.
Talvez seja essa a forma que o “cartel” tomou no Brasil: é o chamado “cartel
jabuticaba”. A propósito: dois consórcios ficaram para a fase final na
construção da usina: o Una 3 e o Angra 3. Depois eles se juntaram num só: o
Angramon. Quem tomou a decisão? As empreiteiras “cartelizadas” ou o ente que
promoveu a licitação?
O problema de dar às coisas o nome errado em razão da ideologia, da burrice, ou seja, lá do que for é o inconveniente que traz: manter inalterada a estrutura que gerou o desmando.”
O problema de dar às coisas o nome errado em razão da ideologia, da burrice, ou seja, lá do que for é o inconveniente que traz: manter inalterada a estrutura que gerou o desmando.”
“E-mail entregue pela empreiteira Camargo
Corrêa ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) cita conversas de
executivos de construtoras com a Eletronuclear sobre as estratégias e os preços
que seriam apresentados pelo cartel que rateou licitação de Angra 3.
As tratativas são de novembro de 2013,
dois meses antes da licitação. Funcionários da Eletronuclear teriam orientado
os executivos suspeitos de formar o cartel a produzir uma proposta na qual
somente um dos consórcios, formado por Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez,
Odebrecht e UTC Engenharia, levaria os dois lotes em disputa.
O acerto era que, posteriormente, o grupo desistiria de um dos lotes, repassando-o às outras integrantes do esquema com o objetivo de aumentar o preço do contrato o máximo possível. Os documentos do Cade não descrevem, contudo, quais executivos da Eletronuclear participaram das negociações na ocasião. Além das quatro empreiteiras, são apontadas como participantes no cartel a Queiroz Galvão, a Empresa Brasileira de Engenharia (EBE) e a Techint.
(…)
O acerto era que, posteriormente, o grupo desistiria de um dos lotes, repassando-o às outras integrantes do esquema com o objetivo de aumentar o preço do contrato o máximo possível. Os documentos do Cade não descrevem, contudo, quais executivos da Eletronuclear participaram das negociações na ocasião. Além das quatro empreiteiras, são apontadas como participantes no cartel a Queiroz Galvão, a Empresa Brasileira de Engenharia (EBE) e a Techint.
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Retomo
Quer dizer que os “empresários suspeitos de formar cartel” foram orientados pelos funcionários da Eletronuclear?
Quer dizer que os “empresários suspeitos de formar cartel” foram orientados pelos funcionários da Eletronuclear?
No Brasil, não é só a roubalheira que é
estupefaciente. Estamos perdendo o apreço pelo sentido das palavras. Quer dizer
que o órgão estatal que fazia a licitação, que definia o preço e que escolhia
os vencedores “orientou” as empresas a fazer cartel???
Em Banânia, o órgão pagador é que
orienta as empresas cartelizadas??? Assombra o mundo.
Isso é de um ridículo sem-par. Olhem
aqui: é evidente que as empreiteiras podem ter cometido crime nesse caso e em
todos os outros — ou não haveria tanto vagabundos devolvendo alguns milhões aos
cofres públicos.
Mas que está em curso uma revolução
conceitual, como sabem advogados, administradores e especialistas na área,
está: trata-se do cartel comandado por quem paga pelo serviço.
Nunca antes, definitivamente, na
história “deste país”.
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