Por Ricardo
Amorim, 29/09/2017,
www.istoé.com.br
Era uma vez um reino chamado
Banânia. Seu governo gastava sempre mais do que arrecadava.
A corte e a corrupção consumiam
todos os recursos. Porém, os burocratas locais eram muito criativos. Sempre
encontravam um jeitinho.
Banânia era conhecida por seus
sapatos. Suas sapatarias davam inveja aos reinos vizinhos. Entre todas,
Sapatótimo se destacava. Tinha três sapateiros, os melhores do mundo.
Um dia, no auge da corrupção e
da gastança com a corte, o governo ficou sem dinheiro.
O Rei recorreu aos burocratas.
Logo, eles acharam a solução:
um carimbo amarelo seria obrigatório em todos os sapatos produzidos no reino.
Qualquer par sem o selo de Banânia condenaria seu produtor a uma pesada multa.
Genial! O Rei contratou vários fiscais, aumentando os gastos do reino, mas quem
se importava com isso? A arrecadação cresceria, garantiam os magos.
Os sapateiros se organizaram.
Em Sapatótimo, os três
sapateiros decidiram que, a partir dali, um produziria, outro carimbaria e o
terceiro conferiria as carimbadas. Antes, eles faziam 300 sapatos por mês. Com
só um sapateiro produzindo, a produção mensal caiu para 100 sapatos. Para
compensar, aumentaram o preço dos sapatos.
A maioria das sapatarias fez a
mesma coisa. A produção de Banânia caiu a pouco mais de um terço de antes.
Começaram a faltar sapatos.
O reino, que antes exportava,
teve de importar sapatos piores e mais caros. Com o preço alto, muita gente não
pode mais comprá-los. Passaram a andar descalços. Tudo bem, “quem não tem
sapatos, que use sandálias” disse a Rainha.
A maioria dos sapateiros agora
produzia e vendia menos. Ficaram mais pobres. Seus filhos não queriam seguir
seus passos. O sonho agora era tornar-se Fiscal do Carimbo Amarelo, e ser amigo
do Rei.
Ao contrário do imaginado, a
arrecadação cresceu pouco. Depois de pagar os salários dos fiscais, não sobrou
muito. Nem todos cumpriam a lei, mas os sapateiros que não a cumpriam, ao invés
de pagarem multas, ficavam cada vez mais ricos. Só os próprios fiscais e a
corte eram mais ricos do que eles. Um mistério eram as mansões e os bunkers dos
fiscais. Como conseguiram comprá-las? Para que serviam? Havia quem dissesse —
blasfêmia da imprensa — que eram para guardar malas e caixas de dinheiro.
Pressionado pela falta de
arrecadação e pela corte, o Rei chamou novamente os burocratas. Eles não
decepcionaram. Além do carimbo amarelo, a partir de agora, todos os sapatos de
Banânia terão também um carimbo vermelho. Novos fiscais foram contratados, a
maioria das famílias do Rei, da corte, dos burocratas…
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