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quinta-feira, 24 de julho de 2014

Nossa guerra particular



O que vemos não são apenas assaltantes armados. São homicidas que saem para roubar
Por Ruth de Aquino, 21/07/2014,

Um tiro na cabeça, à queima-roupa, na hora do almoço, sob um sol deslumbrante de inverno, num dos bairros mais nobres e bucólicos da Zona Sul carioca, a Gávea, chocou e enlutou a elite do Rio de Janeiro. Sepultou-se ali a ilusória sensação de segurança criada pelo policiamento ostensivo na Copa, com soldados camuflados a cada esquina.

Maria Cristina Bittencourt Mascarenhas, 66 anos, conhecida por todos como Tintim, seu apelido de infância, acabara de sacar R$ 13 mil no banco para pagar a seus funcionários. Foi vítima de mais uma “saidinha de banco”, expressão quase terna que não traduz a covardia do crime, uma praga no Brasil. Tintim era sócia e anfitriã de um bistrô tradicional e simpático, o Guimas, fundado por duas famílias em 1981, que mistura as cozinhas francesa, portuguesa e brasileira. Ali sempre se comeu bem sobre toalhas quadriculadas, cobertas por papéis brancos descartáveis, onde crianças e adultos desenham, com lápis de cera coloridos, algo para alimentar o papo.

Dois homens numa moto a atacaram no curto caminho para o restaurante, um com capacete, o outro sem. Um chegou por trás, passou o braço pelo pescoço dela e gritou “passa a bolsa”. Tintim, mãe de três filhas e avó, querida na rua pelo sorriso e pela gentileza, segurou a bolsa por instinto e foi executada, com uma bala na têmpora. O assassino pegou o dinheiro, fugiu com o comparsa na moto. A vítima ficou ali, morta na poça de sangue, junto a botecos onde muita gente comia e bebia no ambiente festivo que tanto encantou os gringos. Uma testemunha disse que tudo durou um minuto.

Tintim parara para experimentar uma saia na barraca de um ambulante, pois assim é a comunidade da Gávea, um bairro chique alternativo, muito verde, com comércio misto e casas ainda antigas, mais procurado por quem busca tranquilidade e qualidade de vida, não ostentação. O bairro abriga a PUC, universidade católica, o Jockey Club, escolas para pobres e ricos, cursos de balé e ioga. É caminho para a favela da Rocinha.

Se fosse apenas uma tragédia isolada e pontual da boemia carioca, o assassinato de Tintim não estaria aqui nesta coluna. A violência de bandidos ou da polícia invade todos os grandes centros urbanos e não escolhe classes sociais. Está associada a impunidade, corrupção, abuso de poder, disputa por pontos de droga e desrespeito à vida. Aterroriza os pacíficos e honestos.

Pais e mães não conseguem criar filhos sem paranoia.  Há quem apele a estratégias de guerrilha. No dia em que Tintim foi assassinada, ouvi uma jovem contar seu método para escapar ilesa de um eventual assalto no trânsito: “Minha bolsa que fica à vista é toda ‘fake’. É uma Vuitton falsificada, meus documentos são falsos, com nomes e endereços falsos, chaves falsas, celular que não funciona e mais uns R$ 50 e uns US$ 10 para o assaltante achar que se deu bem”. A bolsa verdadeira fica escondida. É uma história real. E faz todo sentido. Um sentido escabroso.

O que vemos não são simples assaltantes armados. São homicidas que saem para roubar. Poderiam ter dado um soco em Tintim, poderiam tê-la desacordado. Mas não. Deram um tiro para matar. Como fazem ao roubar um celular, uma bicicleta ou um carro – e a vítima, por medo ou susto, atrapalha por segundos a ação.

O “latrocínio” (assalto seguido de morte) é coisa nossa, quase não acontece em países civilizados. Cerca de 60 mil brasileiros são mortos por ano no país. Milhares de homicídios não são sequer registrados, por falta de confiança na investigação, por medo de vingança de gangues ou da PM. Nas estatísticas disponíveis, 164 pessoas são mortas por dia no Brasil. É como se um avião da Malaysia Airlines, com 298 pessoas a bordo, fosse abatido a cada 43 horas, por um míssil chamado subdesenvolvimento. Mata-se no Brasil, em 38 horas, o equivalente aos 260 palestinos mortos em 11 dias de conflito com Israel (até a última sexta-feira). Se o que vivemos não é uma guerra civil, o que será? Hecatombe social?

Somos reféns, podemos não chegar vivos em casa e sabemos o risco de perder alguém querido. Por isso, nos tornamos piores, mais agressivos ou medrosos. Há uma tendência a culpar as vítimas. “Como assim sacar R$ 13 mil do banco? Nem de dia dá para fazer isso.” “Como assim segurar a bolsa? Todo mundo sabe que não dá para reagir, entrega tudo logo.” É horrível. É como culpar pelo estupro a moça que ostentou as coxas com uma saia curta.

Houve um tempo, no Brasil, em que o verbo “reagir” significava outra coisa. Gritar por socorro. Tentar bater no assaltante ou ameaçar o bandido. Hoje, se o rapaz fugir de bicicleta, se a moça esconder rápido o celular na mochila, se o homem acelerar o carro, se a mulher segurar a bolsa, pronto. “Reagiram”, todos. Perderam a vida. Isso é barbárie, uma sociedade sem educação, sem humanidade, com total desprezo a leis que existem para não ser cumpridas.


segunda-feira, 21 de julho de 2014

Petistas concordam com Lula sobre punir quem comete erro



Por FERNANDO GALLO, 01/03/2013, estadao.com.br.

Integrantes do Diretório Nacional do PT endossaram nesta sexta-feira a declaração do ex-presidente Luiz Inácio...

Integrantes do Diretório Nacional do PT endossaram nesta sexta-feira a declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, feita na noite de quinta-feira (28/02) em Fortaleza, de que envolvidos em casos de corrupção devem ser punidos. No primeiro seminário que o PT fez para comemorar os dez anos à frente do governo federal, Lula afirmou na capital cearense que está disposto a fazer o debate sobre corrupção com a oposição. "Somos seres humanos. Alguns de nós podemos cometer erros e, quando cometer, tem de ser julgado, como todos têm de ser julgados. Errou tem que ser punido", declarou.
Segundo petistas, Lula, quando presidente, promoveu medidas de aprimoramento dos mecanismos de controle da gestão pública e chegou a tomar medidas punitivas contra aliados próximos. Amigo de longa data de Lula, o deputado federal Devanir Ribeiro (PT-SP) citou os casos dos ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci para argumentar em favor da declaração do ex-presidente. "O que o Lula falou ali, ele repetiu o que falou lá atrás. Quando o próprio José Dirceu saiu do ministério e voltou para a Câmara, foi um recado: ''Olha quem fez paga''. A mesma coisa foi o Palocci. Dentro do governo, quem errar tem que pagar", comentou.
O deputado federal André Vargas (PT-PR) disse "não ter dúvidas" de que o discurso de Lula está correto. "Aliás, o nosso governo é exemplar nisso. A presidenta Dilma tomou todas as medidas, o presidente Lula também afastou gente, inclusive ministros que estavam muito próximos a ele sem nenhuma dificuldade", afirmou.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) foi na mesma linha. "É natural que, se houver pessoas que por ventura tenham cometido erros graves, sejam responsabilizadas e punidas na forma da lei", disse.
O deputado federal José Guimarães (CE), líder do PT na Câmara e irmão do deputado federal José Genoino (PT-SP), condenado no processo do mensalão, foi mais brando em suas declarações e disse que é preciso respeitar o trânsito em julgado dos processos. Ele afirmou que "a Justiça que condena é a mesma que tem que inocentar".

Congresso (Fonte: CP 24/02/2013).



Foi revoltante saber o valor dos apartamentos funcionais dos deputados federais. Mais ainda, causou ódio ao Congresso Nacional sabermos que os apartamentos terão, inclusive, banheiras de hidromassagem. Parece que Brasília é a nova Dubai, onde alguns marajás passam suas férias descansando. Quando terão vergonha em ostentar riquezas e benefícios que a classe média nem daqui a anos-luz conseguirá? Vivemos num terceiro mundo, mas aos congressistas possuem uma ambição mórbida de viverem como se estivessem acima do Primeiro Mundo. Tudo isto à custa de um povo que paga os mais altos impostos do planeta Terra.
                                Josete Sanchez, Porto Alegre.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Ao descumprir promessas o governo, foi seu próprio carrasco?



Por Reinaldo Azevedo, 18/07/2014,
 www.veja.com.br.


Vou aqui fazer algumas considerações que, creiam nada tem de campanha eleitoral ou de expressão de afinidades eletivas, embora eu, como toda gente, faça as minhas opções. Na democracia, desde que os candidatos transitem no escopo democrático e se coloquem na defesa dos valores que essa democracia pode abraçar, todas as escolhas são igualmente legítimas, como legítimas são as divergências ideológicas. Em ciências humanas, e a economia também é uma ciência humana, quase nunca se tem uma resposta única para um problema. Mas é certo que essa resposta tenderá a ser ineficaz ou mesmo contraproducente se contrariar a matemática, a lógica, a história e, eventualmente, a experiência.
Já há algum tempo estamos diante de um dado eloquente Aquilo a que chamamos “mercado” tem reagido muito bem à queda da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas eleitorais e à possibilidade de a oposição vencer a disputa em 2014. Às vezes, para rimar os números com a esperança de mudança, nem se precisa do fato; basta o boato. E não foi diferente nesta sexta. Como a pesquisa Datafolha apontou um empate técnico no segundo turno entre o tucano Aécio Neves e a presidente — 40% a 44% para ela — e uma diferença de apenas sete pontos entre a petista e Eduardo Campos — 38% a 45% —, o Ibovespa passou a operar em alta. Às 15h1o, estava aos 57.175 pontos. Na máxima do dia, o índice chegou a 3,31%. Os destaques vejam vocês, ficaram com as estatais: a Petrobras, por exemplo, exibia ganhos de 5,56% nas ações ON (as ordinário-nominativas), aquelas que dão direito a voto, e 5,6% na PN, a preferencial nominativa, a que não dá e é a mais negociada por investidores não profissionais.
Por que é assim? Ninguém precisa ser deste ou daquele partido para saber que, infelizmente, hoje e há muito tempo já, o governo usa as estatais brasileiras não apenas para fazer política de desenvolvimento, não apenas para cuidar do interesse nacional. Ele as utiliza também para cuidar de interesses bem mais mesquinhos, partidários, e como elemento de ajuste — precário e temporário — dos desacertos da política econômica. É sabido, por exemplo, que as tarifas estão represadas para evitar uma elevação da inflação, que já ultrapassa o teto da meta. Como malefício adicional, seguem intocados os fatores que causam a elevação do índice inflacionário.
É claro que isso tem um preço. Até agora, a presidente Dilma e o PT não deram sinais de que vão mudar essa política caduca caso obtenham mais quatro anos de mandato. Ao contrário até: aqui e ali, lideranças do partido, como o próprio Lula, têm preferido atacar o tal “mercado”, como se ele fizesse um mal ao Brasil. Ao contrário. Felizmente temos um mercado relativamente forte no país, que serve como um radar e como uma advertência. A cada bobagem ou medida atabalhoada que o governo toma na economia, ele reage. Mais importante: reage também a expectativas, a partir de alguns indícios. Isso serve como freio à tendência autocrática dos governos. Sabem quem não tem mercado? Cuba! Sabe quem praticamente não tem mercado? A Venezuela! Já a tirania chinesa tem um, sim, e é gigantesco! A existência de um mercado, em suma, não garante a democracia. Mas só existe democracia onde ele atua e serve como instrumento de leitura da realidade.
Quando os investidores reagem bem à perspectiva de alternância de poder, é preciso que o governo ponha a mão na consciência. Em vez de sair por aí demonizando os agentes econômicos e mesmo seus adversários, talvez fosse o caso der tomar medidas efetivas para mudar de rumo. O que vemos, no entanto, infelizmente, são escolhas que caminham no sentido contrário. Além de tentar atrelar a administração pública federal e seus entes a conselhos formados por militantes políticos, o governo já pensa abertamente em estatizá-los, subordinando ainda mais o interesse público às militâncias organizadas.
A reação do mercado é, na verdade, a reação de uma fatia considerável e legítima da sociedade, que contribui de modo efetivo para gerar as riquezas com as quais se administra a máquina pública e que, inclusive, geram os bens necessários para as políticas de compensação e de distribuição de renda. Atacar os seus fundamentos também corresponde a atuar contra os interesses dos mais pobres.
A reação dos mercados é parte importante da reação de uma sociedade que quer mudar porque sente que, hoje, o Estado e o governo viraram seu adversário.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Quem faz não precisa pedir votos?




Por Reinaldo Azevedo, 14/07/2014,

O povo brasileiro ainda nem se refez do maior vexame em cem anos do futebol brasileiro, e eis que ressurge Dilma Rousseff, no noticiário, a dar uma opinião: segundo ela mesma, o povo brasileiro deveria lhe dar um segundo mandato. A afirmação foi feita em entrevista à TV Al Jazeera, do Catar, aquela emissora que pertence a um tirano influente e que costuma sair por aí insuflando revoltas árabes — menos no Catar, é claro, que, de resto, financia extremistas mundo afora. Mas sigamos.
Disse a governanta: “Eu acredito que o povo brasileiro deve me dar oportunidade de um novo período de governo pelo fato de que nós fazemos parte de um projeto que transformou o Brasil”. E prosseguiu: “O Brasil tinha 54% de sua população entre pobres e miseráveis em 2002. Hoje, todos aqueles que vivem na classe C para cima representam 75%, três em cada quatro brasileiros. Nós transformamos a vida dessas pessoas. O Brasil mudou de perfil e foi feito isso com a democracia vigente”.
Por esse especioso raciocínio de Dilma, o Plano Real, por exemplo, que pôs fim à hiperinflação não mudou o Brasil — o mesmo Plano Real contra o qual o PT lutou bravamente. Mais do que isso: recorreu ao Supremo contra ele e também contra a Lei de Responsabilidade Fiscal. Quanto a essa tal classe C, já passou da hora de desmistificar essa falácia.
O oficialismo inventou a tal nova classe média. Segundo a SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos), são as famílias com renda per capita, atenção! Entre R$ 300 e R$ 1.000. Um casal cujo marido ganhe o salário mínimo (R$ 724) — na hipótese de a mulher não ter emprego — já é “classe média” — no caso, baixa classe média (com renda entre R$ 300 e R$ 440). Se ela também trabalhar, recebendo igualmente o mínimo, aí os dois já saltarão, acreditem, para o que a SAE considera “alta classe média” (renda per capita entre R$ 640 e R$ 1.020). Contem-me aqui, leitores, como vive e onde mora que tem renda per capita de R$ 640! O aluguel de um único cômodo na periferia mais precária não sai por menos de R$ 250… Segundo a SAE, renda per capita acima de R$ 1.020 já define classe alta. Na minha casa, somos da classe alta os que aqui moramos e a nossa empregada, além de todos os porteiros do prédio.
Desde que chegou ao poder, o PT vem se dedicando, já escrevi aqui, com a preciosa colaboração teórica dos chamados “economistas da pobreza”, a criar a classe média por decreto e a erradicar a miséria por decreto. Dilma está a um passo de declarar o Brasil um país “sem miseráveis”. Está por um triz. E como isso foi feito? Inventou-se a existência de milhões de pessoas que estariam na “pobreza extrema”, as famílias com renda per capita de até R$ 70 mensais — R$ 2,33 por dia. Caso se faça um levantamento a sério, vai-se constatar que essas pessoas até podem existir no campo (e olhem lá!) — na cidade, não! Na zona rural, acabam sobrevivendo porque, ainda que precariamente, produzem parte do que comem. Nas cidades, fazendo bico aqui e ali, a renda é maior do que isso. Muito maior! Mesmo a daqueles oficialmente listados entre os extremamente miseráveis. Os pobres desgraçados do crack, que já estão sem casa, sem calçado, quase sem roupa, têm renda superior a R$ 2,33 por dia. Sabem por quê? Cada pedra custa de R$ 5 a R$ 10! O que estou dizendo é que existe uma economia informal que eleva essa renda. A propósito: se formos considerar o número de pedras consumidas nas cracolândias da vida e o que isso significa em termos de renda, vai concluir que aquela gente que vaga como zumbi pelas ruas compõe a classe média alta, segundo o oficialismo. É uma piada!
Maluquice
A presidente entrou numa espécie de surto megalômano. Ela reconhece as dificuldades econômicas do país e afirma: “Temos tomado todas as medidas para entrar em um novo ciclo. Temos que melhorar a produtividade da economia brasileira. Nós estamos numa fase de baixa de ciclo econômico, mas sabemos que vamos entrar em outra fase do ciclo. Estamos nos preparando para melhorar a competitividade do país, aumentar as condições pelas quais nós vamos poder enfrentar essa nova etapa. Se não entrar para o resto do mundo [fase econômica], eu lhe asseguro que entra para o Brasil”.
Heeeinnn?
A presidente inventou o Brasil como uma ilha. Há uma boa possibilidade de o país crescer menos de 1% nestes 2014, e a nossa soberana, ora vejam, diz que, se o resto do mundo não seguir o nosso país, iremos sozinhos. É patético!
Como se fosse uma candidata da oposição, afirma: “O Brasil é um país que tem demorado muito para modernizar seu Estado. Nós precisamos de um pais sem burocracia, de um Estado mais amigável tanto para os cidadãos quanto para os empresários, empreendedores e trabalhadores”.
É mesmo? O PT está no poder a 12 anos. A última iniciativa da soberana para modernizar o estado foi fazer um decreto que entrega a gestão da coisa pública a conselhos populares. Tenham paciência!