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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

"Fatalidade, não foi"


Desde domingo, o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer, vem repetindo que a tragédia da boate Kiss se enquadra na categoria fatalidade. Que o fato de o plano de prevenção de incêndios estar vencido desde agosto não teve peso determinante para o desastre. Que o problema foi o vocalista da banda Gurizada Fandangueira ter disparado um sinalizador que produziu faísca e, em contato com o isolante acústico altamente inflamável, provocou o incêndio.

Com todo o respeito à dor do prefeito, que está sob violento estresse desde a madrugada de domingo, o que aconteceu em Santa Maria não pode ser chamado de fatalidade.
Seria fatalidade se um meteorito caísse sobre o prédio do antigo depósito de bebidas transformado em boate, matando mais de duas centenas de jovens universitários que se divertiam numa noite de verão.

A cada novo elemento que surge na reconstituição dos fatos, a morte de pelo 
menos 230 jovens ganha contornos de homicídio culposo. O que a polícia, a perícia e o Ministério Público estão fazendo é apurar as responsabilidades.

A prisão temporária dos sócios da Kiss e de dois integrantes da banda, incluindo o vocalista que teria soltado o sinalizador, tem pouca relevância. O objetivo da prisão temporária é impedir que os suspeitos de um crime fujam, apaguem provas ou pressionem testemunhas. Na esfera criminal, o que importa é o inquérito definitivo, o processo, o julgamento e o cumprimento das penas em caso de condenação. Na cível, serão inevitáveis as ações de indenização, que não aplacam a dor das famílias mas funcionam como pena adicional a quem foi negligente.

Há pelo menos 10 fatos que desqualificam a tese da fatalidade. São eles:

1. A Kiss, com 615 metros quadrados de área, tinha apenas uma porta de saída, mal sinalizada e difícil de ser encontrada na escuridão.

2. A planta confirma os relatos das testemunhas: a saída era um labirinto. Não havia rotas de fuga para o caso de uma emergência.

3. A casa noturna tinha capacidade para mil pessoas. Os bombeiros estimam que 1,5 mil estavam na trágica festa.

4. Não havia janelas (as dos banheiros, para onde dezenas de vítimas correram, eram fechadas com tábuas) e a boate se transformou numa câmara de gás.

5. No primeiro momento, segundo relatos de sobreviventes, os seguranças tentaram impedir a saída dos jovens que escapavam do fogo e da fumaça tóxica.

6. Efeitos pirotécnicos foram utilizados em um ambiente fechado, com isolamento acústico feito de material inflamável.

7. O extintor acionado por um dos integrantes da banda e depois por um segurança, não funcionou.

8. Se havia outros extintores, os funcionários não os acionaram.

9. Não se usou o 
sistema de som para avisar os jovens de que estava ocorrendo um incêndio e sugerir que procurassem a saída.

10. Não havia luzes de emergência para ajudar a encontrar o caminho da única saída.E, se não foi fatalidade, é preciso identificar e punir os culpados.
Opinião: Rosane de Oliveira, 29/01/2013, Zero Hora.

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