Por Merval Pereira,
12/09/2012,
www.veja.com.br.
Acusado pelos petistas e por seus
seguidores de ter agido como um tribunal de exceção, que teria condenado os
mensaleiros em um processo político, o Supremo Tribunal Federal (STF), com sua
nova composição, caminha para tomar hoje uma decisão que tem um viés claramente
político, mas a favor dos mesmos condenados, pondo assim em xeque a
credibilidade da Corte.
O provável resultado final da
votação sobre os embargos infringentes, placar de 6 a 5 ou 7 a 4 a favor de
eles serem reconhecidos pelo STF como recursos válidos em uma sentença em que o
condenado receba ao menos quatro votos a favor, mostra como a questão não é
pacífica nos meios jurídicos.
Alguns dos ministros que votaram
a favor do reconhecimento dos embargos infringentes sugeriram mesmo que eles
poderão ser revogados mais adiante pelo STF, como fez Luís Roberto Barroso, ou
que são instrumentos anacrônicos, como Rosa Weber. E até mesmo o duplo grau de
jurisdição, que seria a garantia do devido processo legal para os condenados,
foi tratado por Dias Toffoli como elemento secundário, quase nulo, na defesa
dos infringentes.
O Ministro Luiz Fux comentara que
“a adoção do duplo grau de jurisdição é uma escolha política. E a Lei 8.038 não
fez a opção política para tratar dos embargos infringentes” e Toffolli teve que
admitir que a Constituição não trate da questão.
Três dos quatro ministros que
votaram ontem a favor dos embargos infringentes o fizeram por uma interpretação
estrita da letra da lei, recusando-se a olhar o conjunto da legislação para
interpretar os objetivos da Lei 8.038. De fato, essa lei de 1990 não revogou
explicitamente os embargos infringentes, mas, como salienta o Ministro Marco
Aurélio Mello, “o sistema não fecha” se verificarmos que os réus condenados
pelo Superior Tribunal de Justiça não terão direito aos embargos infringentes,
e os do STF, sim.
Para Fux, é ilógico que em nenhum
outro tribunal caibam os embargos infringentes para ação penal originária e
questiona: “Por que no Supremo caberia? O segundo julgamento seria melhor?”
Para ele, se o Supremo aceitar os embargos infringentes, o mesmo plenário se
debruçará sobre as mesmas provas, o que caracterizaria uma revisão criminal
disfarçada.
Nesse caso, porém, há um detalhe
politicamente relevante: o plenário que reveria aspectos do julgamento do
mensalão seria diferente daquele que condenou os réus, com a entrada de Barroso
e Zavascki no lugar de Ayres Britto e Cezar Peluso. O que dará à opinião
pública a percepção de que a presença dos dois novos ministros do STF facilitou
a vida dos mensaleiros.
O que fez com que o presidente do
Supremo, Joaquim Barbosa, comentasse com sarcasmo: “O plenário de 2015 será
melhor que o de 2014 e assim por diante.” E Marco Aurélio fez outra
intervenção: “Talvez por sermos pessoas menos experientes” disse ironicamente.
Entre as muitas incongruências
registradas na sessão de ontem, o ministro Barroso, que já fizera um
pronunciamento em sessões anteriores contra o prolongamento do julgamento,
afirmando que era preciso acabar com a ideia de que o devido processo legal é
aquele em que o julgamento não acaba nunca, ontem aceitou os embargos
infringentes mesmo dizendo que estava farto desse julgamento, que precisava
terminar. E propôs que os ministros fizessem um compromisso de dar ao
julgamento dos embargos infringentes a celeridade compatível com o devido
processo legal.
Fux reclamou do prolongamento do
caso, que até aqui teve, segundo ressaltou, todas as garantias constitucionais
preservadas.
Sabendo-se da tendência do
Ministro Ricardo Lewandowski de votar a favor dos infringentes, e da dos
Ministros Marco Aurélio e Gilmar Mendes de rejeitá-los, a decisão do julgamento
está nas mãos de dois ministros: Cármen Lúcia e Celso de Mello. Se Cármen Lúcia
for contra os embargos infringentes, a votação chegará empatada ao último voto
do decano, que já se mostrou favorável aos embargos infringentes no início do
julgamento, depois se declarou “reflexivo” diante das graves consequências da
decisão, e nos últimos apartes parece estar mesmo decidido a aceitá-los.
Por
mais que queiram definir como técnica a decisão, os ministros que estão escolhendo
aceitar os embargos infringentes estão deixando claro que a decisão é política,
já que eles próprios admitem que há argumentos ponderáveis para os dois lados.
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