Por Débora
Bergamasco, de Curitiba, 03/03/2016,
www.istoé.com.br
Revelações
do senador à força-tarefa da Lava Jato, obtidas por ISTOÉ, complicam de vez a
situação da presidente Dilma e comprometem Lula
Pouco antes de deixar a prisão, no dia
19 de fevereiro, o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) fez um acordo de delação
premiada com a força-tarefa da Lava Jato. ISTOÉ teve acesso às revelações
feitas pelo senador. Ocupam cerca de 400 páginas e formam o mais explosivo
relato até agora revelado sobre o maior esquema de corrupção no Brasil – e
outros escândalos que abalaram a República, como o mensalão.
Com
extraordinária riqueza de detalhes, o senador descreveu a ação decisiva da
presidente Dilma Rousseff para manter na estatal os diretores comprometidos com
o esquema do Petrolão e demonstrou que, do Palácio do Planalto, a presidente
usou seu poder para evitar a punição de corruptos e corruptores, nomeando para
o Superior Tribunal de Justiça (STJ) um ministro que se comprometeu a votar
pela soltura de empreiteiros já denunciados pela Lava Jato.
O
senador Delcídio também afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
tinha pleno conhecimento do propinoduto instalado na Petrobras e agiu direta e
pessoalmente para barrar as investigações - inclusive sendo o mandante do
pagamento de dinheiro para tentar comprar o silêncio de testemunhas. O relato
de Delcídio é devastador e complica de vez Dilma e Lula, pois trata-se de uma
narrativa de quem não só testemunhou e esteve presente nas reuniões em que
decisões nada republicanas foram tomadas, como participou ativamente de
ilegalidades ali combinadas-a mando de Dilma e Lula, segundo ele.
Nos
próximos dias, o ministro Teori Zavascki decidirá se homologa ou não a delação.
O acordo só não foi sacramentado até agora por conta de uma cláusula de
confidencialidade de seis meses exigida por Delcídio. Apesar de avalizada por
procuradores da Lava Jato, a condição imposta pelo petista não foi aceita por
Zavascki, que devolveu o processo à Procuradoria-Geral da República e concedeu
um prazo até a próxima semana para exclusão da exigência. Para o senador, os
seis meses eram o tempo necessário para ele conseguir escapar de um processo de
cassação no Conselho de Ética do Senado. Agora, seus planos parecem
comprometidos.
As
preocupações de Delcídio fazem sentido. Sobretudo porque suas revelações
implicaram colegas de Senado, deputados, até da oposição, e têm potencial para
apressar o processo de impeachment de Dilma no Congresso. O que ele revelou sobre
a presidente é gravíssimo. Segundo Delcídio, Dilma tentou por três ocasiões
interferir na Lava Jato, com a ajuda do ex-ministro da Justiça, José Eduardo
Cardozo. “É indiscutível e inegável a movimentação sistemática do ministro da
Justiça, José Eduardo Cardozo e da própria presidente Dilma Rousseff no sentido
de promover a soltura de réus presos na operação”, afirmou Delcídio na
delação.
A
terceira investida da presidente contou com o envolvimento pessoal do senador
petista. No primeiro anexo da delação, Delcídio disse que, diante do fracasso
das duas manobras anteriores, uma das quais a famosa reunião em Portugal com o
presidente do STF, Ricardo Lewandowski, “a solução” passava pela nomeação do
desembargador Marcelo Navarro para o STJ. “Tal nomeação seria relevante para o
governo”, pois o nomeado cuidaria dos “habeas corpus e recursos da Lava Jato no
STJ”. Na semana da definição da estratégia, Delcídio contou que esteve com
Dilma no Palácio da Alvorada para uma conversa privada.
Os
dois conversavam enquanto caminhavam pelos jardins do Alvorada, quando Dilma
solicitou que Delcídio, na condição de líder do governo, “conversasse como o
desembargador Marcelo Navarro, a fim de que ele confirmasse o compromisso de
soltura de Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo”, da Andrade
Gutierrez. Conforme acertado com a presidente, Delcídio se encontrou com
Navarro “no próprio Palácio do Planalto, no andar térreo, em uma pequena sala
de espera”, o que, segundo o senador, pode ser atestado pelas câmeras de
segurança. Na reunião, de acordo com Delcídio, Navarro “ratificou seu
compromisso, alegando inclusive que o Dr. Falcão (presidente do STJ, Francisco
Falcão) já o havia alertado sobre o assunto”.
O
acerto foi cumprido à risca. Em recente julgamento dos habeas corpus impetrados
no STJ, Navarro, na condição de relator, votou pela soltura dos dois
executivos. O problema, para o governo, é que o relator foi voto vencido. No
placar: 4x1 pela manutenção da prisão.
A
ação de uma presidente da República no sentido de nomear de um ministro para um
tribunal superior em troca do seu compromisso de votar pela soltura de presos
envolvidos num esquema de corrupção é inacreditável pela ousadia e presunção da
impunidade. E joga por terra todo seu discurso de “liberdade de atuação da Lava
Jato”, repetido como um mantra na campanha eleitoral. Só essa atitude tem
potencial para ensejar um novo processo de impeachment contra ela por crime de
responsabilidade.
Segundo
juristas ouvidos por ISTOÉ, a lei 1.079 que define os crimes de
responsabilidade diz no artigo nono, itens 6 e 7, que atenta contra a probidade
administrativa – e é passível de perda de mandato – usar de suborno ou qualquer
outra forma de corrupção para levar um funcionário público a proceder ilegalmente
ou agir de forma incompatível com a dignidade, a honra e o decoro. O que também
poderá trazer problemas para Dilma é o trecho da delação de Delcídio a respeito
da compra da refinaria de Pasadena, no Texas, considerada um dos negócios mais
desastrosos da Petrobras e que foi firmado em 2006 com um superfaturamento de
US$ 792 milhões, quando Dilma presidia o Conselho de Administração da
estatal.
A
versão da presidente era de que ela e os conselheiros do colegiado não tinham
conhecimento de cláusulas desfavoráveis a Petrobras, mas Delcídio no anexo 17
da delação é taxativo: “Dilma tinha pleno conhecimento de todo o processo de
aquisição da refinaria”. “A aquisição foi feita com conhecimento de todos. Sem
exceção”, reforçou o senador. Não seria a primeira vez que Delcídio desmentiria
Dilma na delação. No anexo 03, o senador garante que ela teve participação
efetiva na nomeação de Nestor Cerveró para a diretoria da BR Distribuidora,
contrariando o que ela havia afirmado anteriormente.
No
relato aos procuradores, Delcídio disse que “tem conhecimento desta ingerência
(de Dilma), tendo em vista que, no dia da aprovação pelo Conselho, estava na
Bahia e recebeu ligações de Dilma”. Ex-diretor internacional da Petrobras,
Cerveró foi preso em janeiro de 2015, acusado de receber propina em contratos
da estatal com empreiteiras. Até então, a indicação de Cerveró era atribuída a
Lula e José Eduardo Dutra, ex-presidente da BR Distribuidora, falecido no ano
passado. Mas segundo Delcídio, a atuação de Dilma foi “decisiva”. A presidente
ligou para ele duas vezes.
Na
primeira, a presidente telefonou “perguntando se o Nestor já havia sido
convidado para ocupar a diretoria financeira da BR Distribuidora”. “Depois,
ligou novamente, confirmando a nomeação de Nestor para o referido cargo”, o que
se concretizou no dia 3 de março de 2008. Cerveró foi o pivô da prisão de
Delcídio. Em 25 de novembro do ano passado, pela primeira vez desde 1985, o
Supremo mandava prender um senador no exercício do mandato. Um dos motivos
apontados pelo ministro Teori Zavascki foi a oferta de uma mesada de R$ 50 mil
para que Cerveró não celebrasse um acordo de delação premiada.
Na
delação, Delcídio não só forneceu detalhes do pagamento como fez uma revelação
bombástica: disse que o mandante dos pagamentos à família Cerveró foi o
ex-presidente Lula. O senador petista trata do tema no anexo 02 da delação.
Segundo Delcídio, Lula pediu “expressamente” para que ele ajudasse o amigo e
pecuarista José Carlos Bumlai, porque ele estaria implicado nas delações de
Fernando Baiano e Nestor Cerveró. Bumlai, segundo o senador, gozava de “total
intimidade” e exercia o papel de “consigliere” da família Lula – expressão
usada pela máfia italiana e consagrada no filme “O Poderoso Chefão” para
designar o conselheiro que detinha uma posição de liderança e representava o
chefe em reuniões importantes.
A
transcrição da delação pelos procuradores diz no que consistia a ajuda exigida
por Lula a Bumlai: “No caso, Delcídio intermediaria o pagamento de valores à
família de Cerveró”. Na conversa com o ex-presidente, de acordo com outro
trecho da delação, Delcídio diz que “aceitou intermediar a operação”, mas lhe
explicou que “com José Carlos Bumlai seria difícil falar, mas que conversaria
com o filho, Maurício Bumlai, com quem mantinha boa relação”. O acerto foi
sacramentado. Depois de receber a quantia de Maurício Bumlai, a primeira
remessa de R$ 50 mil foi entregue em mãos pelo próprio Delcídio ao advogado de
Cerveró, Edson Ribeiro, também preso pela Lava Jato.
Os
repasses de dinheiro se repetiram em outras oportunidades, de acordo com
Delcídio, por meio do assessor Diogo Ferreira. O total recebido foi de R$ 250
mil. Para os procuradores que tomaram o depoimento de Delcídio, a revelação é
de extrema gravidade e pode justificar a prisão do ex-presidente Lula.
Integrantes da Lava Jato elaboram o seguinte raciocínio: se o que embasou a
detenção de Delcídio, preventivamente, foi a tentativa do senador de obstruir
as investigações, atestada pela descoberta do pagamento a Cerveró, o mesmo se
aplicaria a Lula, o mandante de toda a artimanha.
Não
seria a primeira vez que, durante a delação aos integrantes da Lava Jato,
Delcídio envolveria Lula na compra do silêncio de testemunhas. De acordo com o
senador, Lula e o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil, Antonio Palocci, em
meados de 2006, articularam o pagamento a Marcos Valério para que ele se
calasse sobre o mensalão. O dinheiro, um total de R$ 220 milhões destinados a
sanar uma dívida, segundo Delcídio, foi prometido por Paulo Okamotto. Aos
procuradores, o senador relatou uma conversa com Lula em que ele o alerta:
“Acabei de sair do gabinete daquele que o senhor enviou a Belo Horizonte
(Okamotto). Corra, Presidente, senão as coisas ficarão piores do que já
estão”.
Na
seqüência, Palocci ligou para Delcídio dizendo que o Lula estava “injuriado” em
razão do teor da conversa, mas que ele (Palocci), a partir daquele momento,
“estaria assumindo a responsabilidade pelo pagamento da dívida”. Valério, de
acordo com o senador petista, não recebeu a quantia integral pretendida. De
todo o modo, diz o trecho da delação, “a história mostrou a contrapartida:
Marcos Valério silenciou”. Ainda sobre o mensalão, Delcídio – ex-presidente da
CPI dos Correios – disse ter testemunhado na madrugada do dia 5 de abril de
2006 as “tratativas ilícitas para retirada do relatório (final da CPI) dos
nomes de Lula e do filho Fábio Luís Lula da Silva em um acórdão com a
oposição”. Assim, segundo o anexo 21 da delação, Lula se salvou do impeachment.
O
senador ainda lembrou aos procuradores uma frase do ex-ministro José Dirceu:
“Pode checar quem ia à Granja do Torto aos domingos. Te garanto que não era
eu”. Sem dúvida, afirmou Delcídio, tratava-se de uma referência a Delúbio
Soares e Marcos Valério. Hoje, de acordo com Delcídio, um dos temas que “mais
aflige” o ex-presidente Lula é a CPI do Carf. O colegiado apura a compra de MPs
durante o governo do petista para favorecer montadoras e o envolvimento do seu
filho, Luis Claudio, no esquema. Segundo o senador petista, “por várias vezes
Lula solicitou a ele que agisse para evitar a convocação do casal Mauro
Marcondes e Cristina Mautoni para depor”.
O
consultor Mauro Marcondes, amigo de Lula desde os tempos do ABC, e sua mulher
foram presos na Operação Zelotes, da PF, acusado de intermediar a compra de
MPs. Documentos integrantes da Operação mostram que a LFT, uma empresa de
marketing esportivo pertencente a Luis Claudio Lula da Silva, recebeu R$ 1,5
milhão na mesma época em que lobistas foram remunerados por empresas
interessadas na renovação da medida provisória. Afirmou Delcídio aos
procuradores da Lava Jato: “Lula estava preocupado com as implicações à sua
própria família, especialmente os filhos Fábio Luís e Luis Cláudio”, fato
confirmado a ele por Maurício Bumlai.
Outra
CPI, desta vez a dos Bingos (encerrada em 2006), segundo Delcídio, teria agido
para proteger a presidente Dilma. A declaração vem no bojo de uma revelação que
compromete a campanha da presidente em 2010. No anexo 29 da delação, o senador
petista afirmou que “uma das maiores operações de caixa 2 para a campanha de
Dilma em 2010 foi feita através do empresário Adir Assad”, condenado no fim de
2015 por ser um dos operadores do esquema do Petrolão.
“Orientados
pelo tesoureiro de campanha de Dilma, José Di Filippi, os empresários faziam
contratos de serviços com as empresas de Assad, que repassava recursos para as
campanhas eleitorais”. De acordo com Delcídio, o encerramento prematuro e sem
relatório final da CPI dos Bingos deveu-se exclusivamente a esse fato. “Quando
o governo percebeu que as várias quebras de sigilo levariam à campanha Dilma
2010, determinaram o encerramento dos trabalhos”, afirmou. Parte dos
depoimentos de Delcídio foi tomado dentro do próprio Supremo Tribunal
Federal.
Segundo
informou à ISTOÉ um dos procuradores responsáveis pelo acordo de delação, para
que Delcídio conseguisse deixar a carceragem, em Brasília, sem ser notado, foi
montada uma verdadeira operação de guerra envolvendo dezenas de policiais.
Desde o início das tratativas a preocupação maior de Delcídio foi justamente
com o vazamento prematuro do acordo. Por isso, as insistentes negativas de seus
advogados. Até livrar sua pele no Senado, ele preferia o sigilo. Com o novo
cenário, de altíssima octanagem, Brasília estremece. Pior para Delcídio. Melhor
para os fatos.
Dilma interferiu na lava jato
No
anexo 01 da delação, o senador Delcídio do Amaral revela que em três ocasiões a
presidente Dilma Rousseff, no exercício do mandato, e o ex-ministro da Justiça,
José Eduardo Cardozo, tentaram interferir na Lava Jato. Nomeação do ministro
Marcelo Navarro para o STJ fez parte de acordo para soltura de executivos
presos.
“1 – A Primeira Investida do Planalto
A
despeito dos discursos do governo com relação à sua isenção nos rumos da
operação Lava jato, é indiscutível e inegável a movimentação sistemática do
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da própria presidente Dilma
Rousseff no sentido de tentar promover a soltura de réus presos no curso da
referida operação. Faz parte dessa articulação o advogado Sigmaringa Seixas,
figura influente quando se trata, no governo, de indicações para os tribunais
superiores. Nas conversas com José Eduardo Cardozo, Dilma se refere à
Sigmaringa como ‘the old man’.
A
primeira investida do Planalto para tentar alterar os rumos da Lava Jato salta
aos olhos pela ousadia: o encontro realizado em 07/07/2015 (18 dias após a
prisão de Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo) entre Dilma, José Eduardo e o
presidente do STF, Ricardo Levandowski, numa escala em Porto (Portugal) para
supostamente falar sobre o reajuste de verbas do Poder Judiciário. A razão
apontada pela Presidência é absolutamente injustificável... ...A razão
principal do encontro, em verdade, foi a mudança nos rumos da Lava Jato.
Contudo, a reunião foi um fracasso, em função do posicionamento retilíneo do
ministro Lavandowski, ao afirmar que não se envolveria.
2-
A Segunda Investida do Planalto
Em
virtude da falta de êxito na primeira investida, mudou-se a estratégia, que se
voltou, então, para o STJ, José Eduardo esteve em Florianópolis em agenda
institucional... ... A idéia era indicar para uma das vagas no STJ o presidente
do TJ de Santa Catarina, Nelson Schaefer. Em contrapartida, o ministro
convocado, Dr. Trisotto, votaria pela libertação dos acusados Marcelo Odebrecht
e Otavio Azevedo. A investida foi em vão porque Trisotto se negou a assumir tal
responsabilidade espúria. Mais um “fracasso de José Eduardo em conseguir uma
nomeação”.
3- Terceira Investida do Planalto
Após
os dois fracassos anteriores, rapidamente desenhou-se uma nova solução que
passava pela nomeação de Marcelo Navarro, desembargador do TRF da 5ª Região,
muito ligado ao ministro e presidente do STJ, Dr. Francisco Falcão. Tal
nomeação seria relevante para o governo, pois o nomeado entraria na vaga
detentora de prevenção para o julgamento de todos os Habeas Corpus e recursos
da Lava Jato no STJ. Na semana da definição da nova estratégia, Delcídio do
Amaral esteve com a presidente Dilma no Palácio da Alvorada para uma conversa
privada. Conversaram enquanto caminhavam pelos jardins do Palácio e Dilma
solicitou que Delcídio conversasse com o desembargador Marcelo Navarro a fim de
que ele confirmasse o compromisso de soltura de Marcelo e de Otavio...
...
Conforme o combinado, Delcídio do Amaral se encontrou com o desembargador
Marcelo Navarro no próprio Palácio do Planalto, no andar térreo, em uma pequena
sala de espera, o que poderá ser atestado pelas câmeras do Palácio. Nessa
reunião, muito rápida pela gravidade do tema, o Dr. Marcelo ratificou seu
compromisso, alegando inclusive que o Dr. Falcão já o havia alertado sobre o
assunto. Dito e feito. A sabatina do Dr. Marcelo pelo senado e correspondente
aprovação ocorreram em tempo recorde. Em recente julgamento dos habeas Corpus
impetrados no STJ, confirmando o compromisso assumido, o Dr. Marcelo Navarro,
na condição de relator, votou favoravelmente pela soltura dos dois executivos
(Marcelo e Otavio). Entretanto, obteve um revés de 4X1 contra seu
posicionamento, “vez que as prisões foram mantidas pelos outros ministros da 5ª
turma do STJ.”
Dilma sabia de tudo do acerto de
Pasadena
O
senador conta que como presidente do Conselho de Administração da Petrobras,
Dilma Rousseff, sabia que por trás da compra da Refinaria de Pasadena havia um
esquema de superfaturamento para desviar recursos da estatal. Ela poderia ter
barrado as negociações, mas os contratos foram aprovados pelo Conselho de
Administração em tempo recorde e a Petrobras teve um prejuízo de US$ 792
milhões, como foi comprovado pela Lava Jato e pelo TCU.
“Dilma
Rousseff, como então presidente do Conselho de Administração da Petrobras,
tinha pleno conhecimento de todo o processo de aquisição da Refinaria de
Pasadena e de tudo o que esse encerrava. A alegação de Dilma de que
ignorava o expediente habitualmente utilizado em contratos desse tipo, alegando
desconhecimento de cláusula como put option, absolutamente convencional, é, no
mínimo, questionável. Da mesma forma, discutir um revamp de refinaria que nunca
ocorreu, é inadmissível. A tramitação do processo de aquisição de Pasadena
durou um dia entre a reunião da Diretoria Executiva e o Conselho de Administração. Delcídio
esclarece que a aquisição de Pasadena foi feita com o conhecimento de todos.
Sem exceção”.
Dilma queria Cerveró na Petrobrás
O
senador revela como, em 2008, Dilma Rousseff atuou de forma decisiva para que
Nestor Cerveró fosse mantido na direção da Petrobras. Na ocasião, Cerveró
perdeu o cargo de diretor Internacional por pressão do PMDB, mas Dilma
conseguiu colocá-lo na Diretoria Financeira da BR Distribuidora.
“Diferentemente
do que afirmou Dilma Rousseff em outras oportunidades, a indicação de Nestor
Cerveró para a Diretoria Financeira da BR Distribuidora contou efetivamente com
a sua participação. Delcídio do Amaral tem conhecimento dessa ingerência tendo
em vista que, no dia da aprovação pelo Conselho, estava na Bahia e recebeu
ligações de Dilma...
...Não
é correta a informação de que a Diretoria Financeira da BR Distribuidora tenha
sido produto de entendimento exclusivo de Lula e Dutra (José Eduardo). Dilma
Rousseff teve atuação decisiva, comprovada através das ligações mencionadas,
quando da sua chegada ao Rio de Janeiro para a reunião do Conselho de
Administração da Petrobras. Dilma Rousseff ligou para Delcídio perguntando se o
Nestor já havia sido convidado para ocupar a Diretoria Financeira da BR
Distribuidora. “Depois, ligou novamente confirmando a nomeação de Nestor para o
referido cargo, o que restou concretizado na segunda-feira, 03/03/2008, quando
da posse de Nestor na BR Distribuidora e de Jorge Zelada na área internacional
da Petrobras”.
CPI dos bingos protegeu Dilma
No
anexo 29 da delação premiada, o senador Delcídio do Amaral descreve aos membros
da Lava Jato uma operação de caixa dois na campanha de Dilma em 2010 feita pelo
doleiro Adir Assad. Segundo Delcídio, o esquema seria descoberto pela CPI dos
Bingos, mas o governo usou a base de apoio no Congresso para barrar a
investigação dos parlamentares.
“Uma
das maiores operações de caixa dois da campanha de Dilma em 2010 foi feita
através de Adir Assad. Orientados pelo tesoureiro da campanha, José Filippi, os
empresários faziam contratos de serviços com as empresas de Assad, que
repassava os recursos para as campanhas eleitorais. Esse expediente foi
largamente utilizado e o encerramento prematuro e sem relatório final da CPI
dos Bingos deveu-se exclusivamente a esse fato. Quando o governo percebeu que
as várias quebras de sigilo levariam à campanha de Dilma, determinou o
encerramento imediato dos trabalhos”.
Lula mandou pagar Cerveró
Um
dos relatos mais explosivos feitos pelo senador Delcídio do Amaral à operação
Lava Jato está no anexo 2. O senador revela aos procuradores que o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comandou o esquema do pagamento de uma
mesada a Cerveró para tentar evitar sua delação premiada. Foi por intermediar
esses pagamentos que Delcídio acabou na cadeia. Lula não queria que o
ex-diretor da Petrobras mencionasse o esquema do pecuarista José Carlos Bumlai
na compra de sondas superfaturadas feitas pela estatal.
“Lula
pediu expressamente a Delcídio do Amaral para ajudar o Bumlai porque supostamente
ele estaria implicado nas delações de Fernando Soares e Nestor Cerveró. No
caso, Delcídio intermediaria o pagamento de valores à família de Cerveró com
recursos fornecidos por Bumlai. Delcídio explicou a Lula que com José Carlos
Bumlai seria difícil falar, mas que conversaria com o filho, Maurício Bumlai,
com quem mantinha uma boa relação. Delcídio, vendo a oportunidade de ajudar a
família de Nestor, aceitou intermediar a operação.
A
primeira remessa de R$ 50.000,00 foi entregue pelo próprio Delcídio do Amaral
em mãos do advogado Edson Ribeiro, após receber a quantia de Mauricio Bumlai,
em um almoço na churrascaria Rodeio do Iguatemi, em 22/05/2015 (em anexo existe
base documental para isso). As entregas de valores à família de Nestor Cerveró
se repetiram em outras oportunidades. Nessas outras oportunidades quem fez a
entrega foi o assessor Diogo Ferreira (em anexo existe base documental disso).
O total recebido pela família de Nestor foi de R$ 250.000,00. O próprio
Bernardo (filho de Nestor Cerveró) recebeu em espécie do Diogo.
Lula comprou o silêncio de Marcos
Valério
O
ex-presidente cedeu às chantagens do publicitário Marcos Valério que exigiu R$
220 milhões para se calar na CPI dos Correios sobre os meandros do Mensalão. Em
seu depoimento, Delcídio afirma que ele e Paulo Okamotto (presidente do
Instituto Lula) tentaram negociar o pagamento, mas que foi o ex-ministro
Antônio Palocci quem assumiu essa tarefa.
“Em
14/02/2006 foi conversado sobre o pagamento de uma dívida prometida por Paulo
Okamotto em Belo Horizonte, a fim de que Marcos Valério silenciasse em relação
às questões do mensalão. Nos dois dias seguintes, Delcídio do Amaral se reuniu
sucessivamente: primeiro com Paulo Okamoto, a fim de que ele cumprisse com o
prometido em Belo Horizonte (de acordo com Marcos Valério o valor seria de R$
220 milhões); segundo com o ex-presidente Lula, sendo que na conversa Delcídio
disse expressamente ao presidente: ‘acabei de sair do gabinete daquele que o
senhor enviou a Belo Horizonte. Corra presidente, senão as coisas ficarão
piores do que já estão’.
No
dia seguinte, Delcídio recebeu uma ligação do então ministro da Justiça, Marcio
Thomaz Bastos, na qual este disse: ‘parece que sua reunião com o Lula foi muito
boa, né?’. A resposta de Delcídio foi a seguinte: ‘não sei se foi boa para
ele’. Na seqüência, o ministro da Fazenda, Palocci, ligou para Delcídio dizendo
que Lula estava ‘injuriado’ com ele em razão do teor da conversa. Contudo,
Palocci disse que estaria, a partir daquele momento, assumindo a
responsabilidade pelo pagamento da dívida. Marcos Valério recebeu, mas não a
quantia integral pretendida. “De todo modo, a história mostrou a contrapartida:
Marcos Valério silenciou”.
“Exclusão de Lula e Lulinha da CPI dos
correios evitou o impeachment”
No
anexo 21 da delação, Delcídio relata a forte atuação de Lula e aliados sobre os
parlamentares da CPI dos Correios. O senador, que presidiu a CPI, afirma que a
votação do relatório que poupou o ex-presidente foi duvidosa.
Lula
se salvou de um impeachment com a exclusão de seu nome e de seu filho Fábio
Lula da Silva (o Lulinha) na madrugada do dia 05/04/2006 do relatório final da
CPI dos Correios, que foi aprovado em votação polêmica e duvidosa naquele mesmo
dia”.
Lula pressiona CPI do CARF para
proteger a família
Delcídio
afirmou aos procuradores da Lava Jato que, como líder do governo, foi
pressionado por Lula para que Mauro Marcondes e Cristina Mautoni não fossem
depor na CPI que apura a venda de Medidas Provisórias. Ele revelou que o
ex-presidente temia que o casal pudesse implicar seus filhos no escândalo.
“Delcídio
do Amaral tem conhecimento de que um dos temas que mais aflige o presidente
Lula é a CPI do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais). A
preocupação do ex- presidente foi elevada especialmente quando da convocação de
Mauro Marcondes e sua esposa Cristina Mautoni. Por várias vezes o próprio Lula
solicitou a Delcídio que agisse para evitar a convocação do casal para depor
perante a CPI. Lula alegava que estava muito preocupado com eles.
Mas,
em verdade, Lula estava preocupado com implicações à sua própria família,
especialmente com os filhos Fábio Luiz Lula da Silva e Luiz Claudio Lula da
Silva. Esse fato foi confirmado a Delcídio por Maurício Bumlai, que conhece
muito bem a relação dos familiares de Lula com o casal. Em resposta a
insistência de Lula, Delcídio, como líder do governo no Senado, mobilizou a
base do governo para derrubar os requerimentos de convocação do casal na
reunião ocorrida em 05/11/2015, onde logrou êxito”.
Bumlai é o consigliere da família Lula
No
anexo 6 de sua delação premiada, Delcídio descreve as relações de Bumlai com o
ex-presidente e sua família. Fala sobre os negócios escusos envolvendo o
pecuarista e a Petrobras e cita as obras no sítio de Atibaia.
“Ao
contrário do que afirma o ex-presidente Lula, José Carlos Bumlai goza de total
intimidade com ele, representando de certa maneira o papel de ‘consigliere’ da
família Lula...
De
todas as ações ilícitas de Bumlai, uma das mais relevantes é a
aquisição/operação, pela Petrobras, da sonda Vitória 10.000, cujos
desdobramentos políticos e financeiros são muito maiores do que os divulgados.
O negócio foi feito com a finalidade de quitar uma dívida de Bumlai com o Banco
Schahim, divida essa de R$ 12 milhões. O contrato girou em torno de US$ 16
milhões... A realidade é que o contrato não só quitou a dívida de Bumlai como
pagou dívidas da campanha presidencial de Lula em 2006...
Bumlai
foi o principal responsável pela implementação do Instituto Lula,
disponibilizando de todo o aparato logístico e financeiro. Foi também a pessoa
que ficou responsável, em um primeiro momento, pelas obras do sítio de Atibaia,
do ex-presidente Lula. Delcídio tem conhecimento de que Bumlai já tinha
contratado arquiteto e engenheiro para a realização das obras, o que foi abortado
por Léo Pinheiro, outro grande amigo do presidente, que pessoalmente se dispôs
a fazer o serviço através da OAS em um curto espaço de tempo”.
Pedágio na CPI da Petrobras
Dióxido
diz que os senadores Gim Argello (PTB-DF) e Vital do Rego (PMDB-PB) e os
deputados Marco Maia (PT-RS) e Fernando Francischini (SD-PR) cobravam de
empreiteiros para não serem convocados na CPI da Petrobras.
“Delcídio
do Amaral sabe de ilicitudes envolvendo o desfecho da CPI que apurava os crimes
no âmbito da Petrobras. A CPI obrigava Léo Pinheiro, Júlio Camargo e Ricardo
Pessoa a jantarem todas as segundas-feiras em Brasília. O objetivo desses
jantares era evitar que os empresários fossem convocados para depor na CPI. Os
senadores Gim Argello, Vital do Rego e os deputados Marco Maia e Francischini
cobravam pedágio para não convocar e evitar maiores investigações contra Léo
Pinheiro, Júlio Camargo e Ricardo Pessoa.”