Por
Vicente Nunes, 25.07.2014,
Correio
Braziliense.
O governo comemorou, mas a decisão do Tribunal de
Contas da União (TCU) de isentar, por unanimidade, o Conselho de Administração
da Petrobras da responsabilidade pelos prejuízos de mais de US$ 1 bilhão
causado à estatal com a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos,
abriu precedentes perigosos. Além de ferir os princípios da governança
corporativa, compromete o papel dos conselheiros em companhias nacionais.
Agora, caso venham a cometer erros, terão argumentos de sobra para se isentarem
de qualquer responsabilidade.
Presidente da Strategos Consultoria Empresarial e
conselheiro do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Telmo
Schoeler explica que um conselho de administração tem como missão aprovar e
fixar as estratégias operacionais de uma empresa e escolher e nomear os
dirigentes que vão executar o que foi definido.
“Portanto, não há como desvinculá-los de qualquer
responsabilidade. No caso da Pasadena, é inaceitável o TCU dizer que os
conselheiros da Petrobras foram induzidos pelos diretores a aprovarem uma
operação que resultou em perdas bilionárias. Foram os conselheiros que
definiram os planos de negócios da estatal e nomearam os executivos para tocar
os projetos. Não existem erros apenas dos executivos, punidos pelo Tribunal”,
diz.
Na avaliação de Schoeler, a alegação de que os
conselheiros da Petrobras tomaram a decisão sobre Pasadena com base no resumo
executivo feito pela diretoria é absurda e típica de quem não pratica as boas
regras de governança. “Se essa alegação é verdadeira, desaparece a função do
conselheiro, e quem passa a mandar na empresa é somente a diretoria executiva.
Por essa lógica, acaba o papel do conselheiro, tanto em companhias privadas
quanto públicas”, ressalta.
Os especialistas reconhecem que, para o Palácio do
Planalto, a decisão do TCU veio em boa hora, pois livra a presidente Dilma
Rousseff — presidente do conselho da Petrobras quando Pasadena foi comprada —
do desgaste de ser questionada pela oposição sobre o caso durante a campanha à
reeleição. Mas complica o processo de transparência que se busca nas empresas,
especialmente entre as que têm ações negociadas em bolsa de valores. Ainda são
poucas as companhias nacionais que valorizam as boas práticas de gestão com o
intuito de protegerem o patrimônio de seus acionistas. Os conselhos de
administração são parte importante nesse movimento.
“O
papel dos conselheiros está previsto na Lei das Sociedades Anônimas (S/A). Na
maior parte dos casos, são profissionais gabaritados, para evitar deslizes nas
empresas. Eles não se reúnem para só tomar cafezinho”, afirma Schoeler. Ele
assinala ainda que os conselheiros custam caro para as empresas. No caso da
Petrobras, recebem mais de R$ 1 milhão por ano. “Ou seja, já que estão
desmoralizados, os conselhos de administração podem sumir do mapa. O dinheiro
gasto com eles deve ser investido em algo mais importante. Dá-se total poder à
diretoria executiva”, frisa.
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