Editorial O Globo, 14/10/2014.
O estranho é a candidata se mostrar indignada com a
publicação de relatos de Costa e Youssef, mas não com o conteúdo das revelações
sobre a Petrobras.
Não se
duvida que depoimentos prestados pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto
Costa e o doleiro Alberto Youssef, sobre um avantajado esquema de corrupção
montado na estatal, sejam ruins para a campanha à reeleição da presidente
Dilma, o PT e partidos aliados envolvidos na trama, PMDB e PP.
Daí,
porém, considerar tudo uma conspiração para sabotar a campanha da petista, vai
enorme distância. Bem como dizer que a vitória será de Aécio Neves devido à
divulgação de trechos dos testemunhos.
“Golpe”
foi o termo usado pela própria candidata-presidente para qualificar a
publicação pela imprensa de texto e áudio “vazados” de depoimentos de Paulo
Roberto e Youssef`ao Ministério Público e à Justiça sobre as delinquências
cometidas dentro da estatal para drenar dinheiro público da empresa, a fim de
financiar políticos, partidos e, como nunca deixa de acontecer, o
enriquecimento de pessoas físicas.
O juiz
federal do Paraná Sérgio Moro, responsável pelo processamento judicial das
acusações feitas contra Costa, Youssef e outros a partir de provas colhidas
pela operação Lava-Jato, da PF, negou que tenha havido qualquer vazamento. Moro
esclareceu, em despacho, que, por se tratar de ação penal, ela é pública. Tanto
que o próprio juiz havia liberado os depoimentos para a CGU e à CPI mista sobre
a Petrobras.
Numa
avaliação sensata dos fatos, conclui-se que seria necessária uma inverossímil
conspirata coordenada entre a PF, o juiz federal paranaense e um ministro do
Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, a quem é remetido o material sobre o
envolvimento de políticos com foro privilegiado, para que esses depoimentos
fossem prestados a tempo de influenciar num eventual segundo turno das
eleições.
A Lava
Jato começou em 17 de março e os interrogatórios de Paulo Roberto e Youssef
foram marcados em 19 de setembro. E quem acusa o juiz do Paraná se esquece que
o segredo de justiça protege apenas o material de responsabilidade do ministro
Zavascki.
Mas como
eleições são terreno propício a teorias conspiratórias, cria-se um enredo de
ficção de uma intrincada coordenação entre braços do Estado tão independentes
entre si.
Causa
estranheza é a primeira reação da candidata-presidente ter sido se indignar com
o fato de partes dos depoimentos de Alfredo Youssef e Paulo Roberto Costa virem
a público, sem dar qualquer importância ao gravíssimo conteúdo do que estava
sendo revelado.
Isto,
sim, deveria levar Dilma Roussef a vociferar contra a corrupção praticada por
um esquema montado em sua jurisdição. Pois, quando Paulo Roberto foi nomeado
diretor de Abastecimento da estatal, em 2004, Dilma já acumulava o posto de
ministra das Minas e Energia com a presidência do Conselho de Administração da
Petrobras, deixada por ela apenas em 2010.
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