Direto ao Ponto por Augusto Nunes, 31/08/2014,
www.veja.com.br.
“Forçada a enfrentar a crise, Dilma imita Lula
e a procissão de bravatas recomeça”, resumiu o título do post publicado em
março de 2012. O texto tratou de mais um surto de soberba da doutora em
nada que se imagina especialista em tudo: caprichando na pose de quem
concluiu aquele curso de doutorado na Unicamp que nem começou, Dilma
Rousseff resolveu dar conselhos a países europeus castigados pela crise de
dimensões planetárias. Conseguiu apenas ampliar o acervo de cretinices
acumulado desde 2008, quando Lula abriu o cortejo de falácias, fantasias,
mentiras e falatórios sem pé nem cabeça produzidos pelos fundadores da Era da
Mediocridade.
Nesta
quinta-feira, o país (ainda) conduzido por farsantes soube que encalhou no
atoleiro. Depois de encolher 0,2% no primeiro trimestre, o Produto Interno
Bruto diminuiu mais 0,6% de abril a junho. Confrontados com a esqualidez do
pibinho, os tripulantes da nau dos insensatos trataram de caçar justificativas
para o fiasco histórico. Dilma desconfiou que não bastaria dar outro pito no
vilão de sempre — a crise internacional que seu padrinho jurou ter derrotado. E
então incluiu entre os culpados pela “recessão técnica” a Copa dos 7 a 1.
“Por
causa da Copa do Mundo, tivemos a maior quantidade de feriados na história do
Brasil, nos últimos anos, nesse trimestre”, fantasiou a presidente que,
convencida de que a vadiagem coletiva melhora o trânsito, decretou a maior
quantidade da história do Brasília. A Copa das Copas começou a semana na
relação das proezas federais que aceleraram o crescimento econômico. Terminou-a
acusada pela presidente de ter acentuado o raquitismo do pibinho. Haja cinismo.
A
explicação é tão veraz quanto o palavrório costurado por Lula em 27 de março de
2008, quando a crise nascida nos Estados Unidos já contaminara vários países.
“Um dia acordei invocado e liguei para o Bush”, gabou-se o então presidente.
“Eu disse: ‘Bush, meu filho, resolve o problema da crise, porque não vou deixar
que ela atravesse o Atlântico’”. Como Lula só fala português, Bush decerto não
entendeu o que ordenara o colega monoglota. E a crise navegou sem sobressaltos
até desembarcar nas praias do Brasil.
O
presidente invocado voltou ao tema só depois de seis meses ─ para comunicar que
livrara o país do perigo. “Que crise? Pergunte ao Bush”, recomendou em 17 de
setembro. “O Brasil vive um momento mágico”, emendou no dia 21. No dia 22,
pareceu mais cauteloso: “Até agora, graças a Deus, a crise americana não
atravessou o Atlântico”, ressalvou. Uma semana depois, a ficha enfim começou a
cair. “O Brasil, se tiver que passar por um aperto, será muito pequeno”, disse
em 29 de setembro.
A
rendição pareceu iminente no dia 30: “A crise é tão séria e profunda que nem
sabemos o tamanho. Talvez seja a maior na História mundial”. Em 4 de
outubro, o otimista delirante voltou ao palco para erguer com poucas palavras o
monumento à megalomania: “Lá nos Estados Unidos, a crise é um tsunami. Aqui, se chegar, vai ser uma marolinha, que
não dá nem para esquiar”. No dia 8, conseguiu finalmente enxergar o tamanho
do buraco.
A anemia
dos índices registrados de lá para cá mostrou o que acontece a um país
governado por quem se nega a ver as coisas como às coisas são, e enfrenta com
bazófias e bravatas complicações econômicas de dimensões globais. Essa espécie
de monstro é impiedosa com populistas falastrões. Mas o bando de
reincidentes não tem cura: três anos depois, a estratégia inaugurada pelo
Exterminador do Plural começou a ser reprisada em dilmês. Se Lula acordava
invocado com George Bush, Dilma passou a perder a paciência com uma entidade
que batizou de “tsunami monetário”.
Em março
de 2012, numa discurseira de espantar Napoleão de hospício, a presidente
atribuiu à paternidade da criatura a “países desenvolvidos que não usam
políticas fiscais de ampliação da capacidade de investimento para retomar e
sair da crise que estão metidos e que usam, então, despejam, literalmente,
despejam quatro trilhões e setecentos bilhões de dólares no mundo ao ampliar de
forma muito… é importante que a gente perceba isso, muito adversa, perversa
para o resto dos países, principalmente aqueles em crescimento”.
Lula
vivia recomendando aos americanos que se mirassem no exemplo do Brasil. Dilma
se promoveu a conselheira da Europa. “Eu acho que uma coisa importante é que os
países desenvolvidos não só façam políticas expansionistas monetárias, mas
façam políticas de expansão do investimento”, ensinou em 5 de março de 2012.
Concluiu a lição no dia seguinte: “Somos uma economia soberana. Tomaremos todas
as medidas para nos proteger”.
Quatro
anos depois de reduzido por Lula a marolinha, o tsunami foi desafiado por Dilma
a duelar com o Brasil Maravilha. “Nós estamos 100% preparados, 200% preparados,
300% preparados para enfrentar a crise”, avisou. Como o padrinho em 2008, a
afilhada despejou outro balaio de medidas de estímulo ao consumo. Ficou mais
fácil comprar automóveis, os congestionamentos de trânsito ficaram maiores nos
dois anos seguintes. E o governo acabou obrigado a decretar durante a Copa os
feriados que, segundo a presidente, acentuaram o raquitismo do pibinho.
Lula
jurava que o país do carnaval foi o último a entrar na crise e o primeiro a
sair. Dilma vinha repetindo de meia em meia hora que o resto do mundo inveja o
colosso tropical. Conversa de 171, prova o infográfico no blog Impávido Colosso. Pouquíssimas nações fazem companhia ao Brasil no
pântano do crescimento zero. A saúde da economia nativa não será restabelecida
tão cedo. E pode piorar até o fim do ano.
Já na
eleição de outubro, contudo, deverão ser extirpados os tumores lulopetistas, em
expansão há quase 12 anos. Se continuassem sem controle por mais quatro, o
Brasil democrático deixaria de existir.
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