Por
Vicente Nunes, 02/09/2014,
www.correiobraziliense.com.br.
É impressionante a
incapacidade da presidente Dilma Rousseff de defender a política econômica de
seu governo. Seja em entrevistas, seja nos debates eleitorais, em vez de usar
argumentos concretos para explicar o porquê de o Brasil estar em recessão e o
que, efetivamente fará, caso reeleita, para retomar o crescimento e levar a
inflação ao centro da meta, de 4,5%, a petista prefere recorrer a argumentos
pobres, inconsistentes, que só alimentam o pessimismo em relação ao país.
Não há dúvidas
sobre o desastre da política econômica de Dilma. Mas é preciso reconhecer que a
presidente teve que assumir uma herança maldita deixada pelo presidente Lula —
parte dessa herança ressalte-se, construída em 2010 com o intuito de eleger a
petista. Nos últimos anos da era lulista, o governo levou ao limite os
incentivos ao consumo e ao endividamento das famílias. A infraestrutura se
esgotou. Os cofres públicos ficaram em frangalhos, tamanha a gastança para
manter o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) que sustentasse o apoio a
mais quatro anos de mandato para o PT.
Dilma ainda teve
contra ela uma economia internacional menos favorável. Se o mundo continuasse
crescendo como na era Lula, certamente muitas das escolhas erradas da
presidente teriam sido amenizadas. A realidade cruel, no entanto, se impôs. E
todas as falhas de gestão do atual governo se agigantaram, fazendo com que
tenhamos quase meia década perdida. O ano de 2014, por sinal, poderá ser
esquecido em termos de crescimento econômico, depois da recessão nos primeiros
seis meses.
Muitos dos
problemas na economia poderiam, contudo, terem sido evitados se a candidata
petista desse um choque de gestão, a começar pelas contas públicas. Ao
contrário de pregar austeridade, que permitiria ao Banco Central fazer um
manejo mais favorável da política de juros e de combate à inflação, ela
sancionou todas as manobras fiscais que minaram a credibilidade do país.
Interveio na economia, mudando contratos no setor elétrico e congelando os
preços dos combustíveis. Por ideologia, atrasou obras vitais de infraestrutura,
que, se tivessem prontas hoje, ajudariam a levar a carestia para a meta.
A reputação do
governo está tão ruim que poucos conseguem perceber que, depois de muito
apanhar, de muito insistir nos erros, o governo, ao conceder aeroportos,
rodovias, ferrovias e portos à iniciativa privada, criou boas condições para a
retomada do crescimento do país quando o ajuste nas contas públicas e o
controle mais efetivo da inflação forem realidade.
Dilma poderia
aproveitar para, como candidata que aceita dar entrevistas e permite o
confronto de ideias, fazer o exercício da humildade e se comprometer que,
quando 2015, tudo será diferente. Que o equilíbrio fiscal, o combate à inflação
e o crescimento sustentado não serão meras promessas. Os brasileiros não
merecem a repetição dos últimos quatro anos. A fatura paga foi alta demais.
Crise de confiança
A sova que o
governo está tomando por causa da recessão na qual o Brasil mergulhou explicita
a falta de equipe da presidente Dilma Rousseff. Não houve nenhuma voz do
primeiro escalão do governo que usasse argumentos consistentes para justificar
o momento tão ruim que a economia atravessa. Nos quatro últimos trimestres, em
apenas um, o último de 2013, o PIB registrou alta. Sem alternativas, o Palácio
do Planalto escalou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para defender o
legado da petista. Infelizmente, ao longo dos últimos anos, como executor das
políticas equivocadas do governo, Mantega queimou todo o seu capital de
credibilidade. Nada do que ele diz é levado a sério.
Mercado monta
ministério
» O mercado
financeiro começou a montar o eventual ministério de Marina Silva, caso ela
vença as eleições em outubro próximo. Estão cotados para o Ministério da
Fazenda José Serra, Eduardo Giannetti e Marcos Lisboa. Para o Banco Central,
Eduardo Loyo, economista-chefe do Banco BTG Pactual, e André Lara Resende.
Autonomia de Serra
» Quem conhece bem
José Serra não recomenda a Marina à indicação dele para a Fazenda, apesar de
todo o conhecimento técnico do candidato a senador pelo PSDB paulista.
Certamente, Serra ganharia autonomia demais e defenderia políticas
intervencionistas, muito parecidas com as do governo Dilma.
Recados de Tombini
» O presidente do
Banco Central, Alexandre Tombini, já mandou todos os sinais possíveis ao
Palácio do Planalto avisando que a taxa básica de juros (Selic) fica no nível
que está, em 11% ao ano, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que
acaba amanhã. Não há recessão econômica que, neste momento, demova os diretores
do BC dessa ideia.
PT, de joelhos,
implora ao BC.
» Apesar de todas
as indicações de Tombini, há integrantes do PT ajoelhados pedindo para que o
Banco Central desça do pedestal técnico e se vista do uniforme político para
criar um fato positivo à campanha da presidente Dilma Rousseff. Afinal, dizem
eles, durante os quatro últimos anos, o BC sempre fez tudo o que o Palácio do
Planalto queria. “Por que tudo tem que ser diferente agora?”, indaga um dos
petistas.
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