Postado por Reinaldo Azevedo,
01/04/2014, www.veja.com.br.
Por
Robson Bonin, na VEJA.com:
Quando fretou um avião particular para as férias do vice-presidente da Câmara dos Deputados, André Vargas (PT-PR), o doleiro Alberto Youssef não estava fazendo apenas um favor para um político influente no governo da presidente Dilma Rousseff. Vargas era mais do que isso para o doleiro. Ambos tratavam-se como irmãos. Nas conversas interceptadas pela Polícia Federal no âmbito da Operação Lava Jato, o deputado petista não esconde a euforia ao agradecer Youssef pelo aluguel do jato: “Valeu irmão.” Um verdadeiro presente de irmão mesmo. Documentos obtidos por VEJA revelam que o aluguel do Learjet 45, fretado para transportar a família do petista de Londrina (PR) a João Pessoa, na Paraíba, custou 100.000 reais.
Pivô de um esquema de lavagem de
dinheiro que pode ter movimentado até 10 bilhões de reais, o doleiro Alberto
Youssef é um antigo conhecido de André Vargas. Como VEJA revela na edição desta
semana, Vargas e Youssef moram na mesma cidade, Londrina, se conhecem há vinte
anos e, nos últimos anos, com a chegada de André Vargas a cargos importantes no
Congresso, conversavam rotineiramente sobre negócios variados. “Ele me
procurava para avaliar investimentos, colher informações, trocar ideias”, disse
Vargas na semana passada. Nessa “troca de informações” entrariam dados valiosos
sobre o programa Minha Casa, Minha Vida – cujo relator foi justamente André
Vargas, na Câmara – e negócios do doleiro no Ministério da Saúde.
Foi interceptando o telefone
BlackBerry, o mesmo modelo utilizado por André Vargas, que a Polícia Federal
estabeleceu o vínculo do doleiro com o deputado petista. No dia 2 de janeiro,
véspera da viagem de férias da família, Vargas e Youssef trocaram vinte
mensagens sobre o avião. “Tudo certo para amanhã. Daqui a pouco te passo o tel
do comandante… Duração do voo: 3h45 minutos, João Pessoa, Paraíba”, avisa
Youssef a Vargas. “Tem o telefone da América?”, pergunta o deputado,
referindo-se ao hangar aonde o avião chegaria. “Da América, não. Mas é só
buzinar no portão que eles abrem”, orientou o doleiro. “Valeu irmão”, devolveu
Vargas. “Boa viagem e boas férias abs (sic)”, responde Youssef.
A proprietária do jato disponibilizado
por Youssef ao vice-presidente da Câmara é a Elite Aviation, uma empresa de
táxi aéreo de Salvador, na Bahia. O dono da empresa, Bernardo Tosto, conta que
o voo de André Vargas foi acertado diretamente com uma agência de São Paulo,
que intermediou o contrato com o cliente no Paraná. “Eu não sei nem quem é esse
doleiro e esse deputado. Não gosto da política brasileira e não trabalho com
isso. Eu fretei o avião para uma empresa de agenciamento de voos. Não preciso
saber quem entra no avião. Só tenho que saber que o dinheiro é lícito”, diz
Bernardo, que confirmou os valores pagos pelo fretamento da aeronave, mas não
quis revelar o nome da agência que intermediou o contrato. Jatos luxuosos como
o disponibilizado ao petista costumam vir acompanhados com mimos a bordo, como
bebidas caras, chocolates e até pratos sofisticados. A empresa nega, no
entanto, que o voo de André Vargas e sua família, com duração de 3 horas e 45
minutos, tenha contado com tais mordomias.
Na sexta-feira, quando foi ouvido por
VEJA, André Vargas negava ter obtido qualquer vantagem a partir da amizade com
o doleiro. Na verdade, nem a relação de proximidade o deputado confirmava:
“Amizade é uma palavra sagrada. Não dá para dizer que ele é meu amigo. É no
máximo um conhecido corriqueiro. Eu tinha ele como um cidadão comum, que tinha
passado por problemas como outros passaram. Posso ter incorrido em alguma coisa
imprópria, mas eram apenas conversas, nada ilegal. Se eu soubesse que ele
estava sendo investigado de novo eu não teria falado com ele”, disse Vargas.
Questionado se o doleiro havia providenciado um avião para sua viagem, André
Vargas despistou: “Esse negócio de avião quem está espalhando é o deputado
Fernando Francischini, mas não existe isso.” Hoje, porém, ao jornal Folha de
S.Paulo, que revelou a viagem de Vargas, o deputado mudou o discurso. Disse que
pediu o avião porque os voos comerciais estavam muito caros no período. “Não
sei se o avião é dele, ele foi dono de hangar e eu perguntei se ele conhecia
alguém com avião”, disse o petista.
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