Uns tentam usar o
assassinato, outros tentam culpar a vítima
Por
David Coimbra, 16/03/2018,
www.zerohora.com.br
Sou um ser humano permanentemente perplexo com os
outros seres humanos. As pessoas não cansam de me surpreender. Acho que fazem
de propósito.
Quando soube do assassinato da vereadora Marielle, dias atrás, logo pensei: mais um assunto para incendiar as partes
opostas desse Brasil dividido. Nisso estava certo. Mas não imaginava que o
incêndio seria de tamanhas proporções. A coisa foi séria e grave.
Marielle não
era uma "defensora de bandidos", nem morreu por isso. Ao contrário,
ela era tão contra os bandidos, que eles a mataram.
Confesso que não sabia da existência de
Marielle, até o dia de sua morte. Só então fui me informar sobre ela. Não posso afirmar, portanto, que
sua atuação como política tenha sido de heroína ou de vilã. Mas alguns dados
temos, nós todos, à disposição. O mais importante é a forma como a vereadora
morreu: ela foi executada. Seu assassinato foi cometido por várias pessoas, que
a seguiam em pelo menos dois carros.
Os homens que cometeram esse crime, obviamente, são
bandidos. Eles queriam se livrar de Marielle, queriam eliminá-la, decerto
porque ela os estava atrapalhando em suas atividades. Logo, Marielle não era
uma "defensora de bandidos", nem morreu por isso. Ao contrário, ela
era tão contra os bandidos, que eles a mataram.
Quem são esses bandidos? Da polícia? Do tráfico?
Não importa: são bandidos. Se Marielle exagerava na crítica à polícia, essa é
uma questão secundária. O fundamental é que ela foi vítima de bandidos, e não
por acaso. Não foi um latrocínio nem um caso passional: foi uma execução
cometida por profissionais que provavelmente fizeram o serviço por encomenda.
Isso é uma das "partes opostas do Brasil
divido". Mas a outra também erra, e erra feio. Vou fazer ilustres ilustrações:
1. A Executiva Nacional do PT divulgou nota dizendo
que o assassinato de Marielle e a condenação de Lula "fazem parte da mesma escalada autoritária do país".
3. Artistas brasileiros postaram, nas redes sociais,
que "golpistas matam" e que Marielle morreu "por ser negra, por
ser mulher, por ser pobre".
Meu Deus. É desolador ver como a ideologia
embrutece o cérebro. Um homem rico e branco poderia ter sido assassinado nas
mesmas condições de Marielle. Muitos já o foram. A violência atinge a todos no
Brasil. Mais aos pobres, é verdade, mas ricos e remediados também sofrem e
também sentem medo, e ninguém é dotado da capacidade de medir medo e
sofrimento.
Prosseguindo: Lula não foi condenado porque está
havendo "uma escalada autoritária". Lula foi condenado por corrupção.
E, por fim, a ex-presidente ter relacionado sua
expulsão do poder com um assassinato é uma tentativa vil de usar a morte de uma
pessoa para se vitimizar. O raciocínio torpe e subjacente que fazem Lula, Dilma
e o PT é que, se eles ainda estivessem no poder, Marielle não teria sido
assassinada. Argh.
O assassinato de Marielle é uma tragédia para sua
família, uma frustração para seus eleitores, uma afronta para as autoridades e
uma tristeza para todo o Brasil. Os protestos que pediram justiça são, de certa
forma, um pequeno consolo. Mas as
manifestações dos que tentam culpar a vítima pelo crime que sofreu ou dos que
tentam se valer da sua desgraça em proveito próprio, isso é a vergonha. É a
grande vergonha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário