Por Ricardo
Amorim 23/02/2018,
www.istoé.com.br
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O Brasil criou o péssimo hábito de não tratar todos da mesma forma. Pior
ainda, o costume ficou tão arraigado que já nem nos chocamos mais. Enquanto
funcionários públicos se aposentam com aposentadoria integral, a maioria dos
brasileiros têm de se contentar com uma fração disso. Enquanto a Justiça para a
maioria dos brasileiros é uma, para os que gozam de foro privilegiado é outra.
Enquanto juízes e legisladores têm auxílios diversos, a maioria dos brasileiros
nem sabe o que é isso.
O mais novo caso em que os mais fracos receberam tratamento de cidadãos
de segunda classe refere-se ao Refis, o programa de refinanciamento de dívidas
do governo federal. Como é de conhecimento geral, o Congresso Nacional aprovou
um projeto que beneficia grandes empresas com o parcelamento de dívidas
tributárias com a União. Na sequência, ele aprovou por unanimidade um projeto
que estende o mesmo benefício aos pequenos negócios, nos mesmos parâmetros do
que foi concedido às grandes empresas. O governo federal sancionou o projeto
que concede os benefícios às grandes empresas, mas vetou aquele que concederia
os mesmos benefícios às micro e pequenas empresas.
A justificativa para o veto presidencial foi que esse projeto pioraria a
situação das contas públicas. A justificativa é verdadeira, mas inaceitável, já
que ela foi desconsiderada no caso das grandes empresas. Além de não ser
isonômico, o tratamento diferenciado é injusto e contraproducente.
As micro e pequenas empresas são responsáveis por mais da metade dos
empregos no País e mais vulneráveis a crises econômicas, como a que atingiu o
Brasil nos últimos anos. Segundo a Serasa, o número de MPEs inadimplentes
cresceu 10,8% em 2017 em relação ao ano anterior, sendo o oitavo mês seguido de
alta do indicador.
Além disso, nossa carga tributária é uma das mais elevadas entre os
países emergentes e, ainda assim, os serviços públicos deixam muito a desejar.
Fica claro que o problema essencial das finanças públicas não é falta de
receitas, mas a corrupção e o excesso de gastos e desperdícios, incluindo
diversos casos em que alguns recebem privilégios não estendidos a todos os
brasileiros.
Seria bom se o Congresso revertesse esse quadro, derrubando o veto
presidencial e garantindo que pequenas e grandes empresas recebam o mesmo
tratamento. Movimentos já estão acontecendo e estratégias estão sendo pensadas
para isso. Imagine o País que poderíamos construir se todos fossem tratados da
mesma forma.
O governo federal sancionou o projeto
que concede os benefícios às grandes empresas, mas vetou aquele que concederia
os mesmos benefícios às micro e pequenas empresas
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