É
revoltante a perseguição do Brasil a seus 81 senadores. Durante a vida toda,
servindo a nação, eles receberam sem problema dois salários extras por ano, o
14º e o 15º. Nos valores atuais, R$ 53.400. Jamais pagaram algum imposto em
cima desse valor. Zero. E, agora, vem a Receita Federal
e decide cobrar deles o imposto devido nos últimos cinco anos, com multas e
juros. Como se eles fossem uns mequetrefes. O Leão deu um prazo de 20 dias para
Suas Excelências enviarem cópias de contracheques e comprovantes de rendimentos
anuais.
Os
senadores deveriam aderir à onda das greves. Virou moda servidor público partir
para o confronto com a presidente Dilma e, por tabela, infernizar a população
na rua, nas universidades, nos hospitais e nos aeroportos. Não importa quanto
ganhem. Não importa que tenham recebido aumentos nos últimos anos acima da
inflação. Aumentos maiores que os da população, engarrafada pelo poder dos
sindicatos.
Uma greve
dos senadores teria a vantagem de nem ser percebida, porque não faria a menor
diferença para a vida de ninguém. Ou alguém acha que o país sofre durante os
meses de recesso em que pagamos aos senadores para que eles não façam nada?
Eles não fazem nada, e nós sofremos menos ainda.
É revoltante a Receita perseguir
os senadores. Eles deveriam aderir à onda das greves. Ninguém
perceberia...
Cada
senador terá de devolver R$ 64.700, fora juros e multas, referentes aos anos de
2007 a 2011. Uma fortuna! Principalmente se calcularmos a merreca mensal que
eles recebem de subsídio e verbas extras. Alguns deles também ganham
aposentadoria de ex-governador. Um é o presidente do Senado, José Sarney, em
seu terceiro mandato – que dá exemplo ao não revelar quanto ganha.
Embora
sua zelosa assessoria de imprensa se recuse a divulgar, calcula-se que, somando
tudo, deve rondar os R$ 80 mil a remuneração mensal
do maranhense que adotou o Amapá. Sarney recebe R$ 26.723,12 como senador, mais
as aposentadorias de ex-governador do Maranhão e de servidor do Tribunal de
Justiça, além das verbas extras, chamadas inexplicavelmente de
“indenizatórias”. Se Sarney ganhar menos (e não mais), ÉPOCA receberá uma carta
de Fernando Cesar Mesquita, da Secretaria Especial de Comunicação Social do
Senado. Esperamos que ele nos informe o exato valor, discriminado, em nome da
clareza.
Pelo
menos cinco outros senadores, do PTB, do DEM, do PMDB, do PP e do PT, ganham,
como Sarney, aposentadoria de ex-governador, que varia de R$ 11 mil a R$ 24
mil. Vários senadores, flagrados pela imprensa, decidiram abrir mão do benefício.
Às
vésperas de sair da vida pública com uma vingança na manga (deixar Renan
Calheiros em seu lugar), Sarney se diz feliz porque a Receita cobrou imposto apenas
em cima dos últimos cinco anos: “Se fosse de todos os meus mandatos, não seria
uma facada, seria um tiro. Nem se vendesse a Ilha de Curupu, que não é mais
minha, daria para pagar”. Em 1970, Sarney se tornou senador pela primeira vez.
Os
senadores se insurgiram contra a cobrança retroativa. Os políticos estão
inquietos com essa mania de remexer o passado em nome da moralização e da
transparência. Tanto esforço para não ser tratado como homem comum, zé-ninguém,
mequetrefe. E, de repente, todas as regalias são ameaçadas, e o “toma muito lá
dá muito cá” passa a ser crime. Até os pares cassam mandato. Imagine ter de
enfrentar a Justiça de verdade e, pior ainda, o ministro Joaquim Barbosa
fazendo perguntas capciosas ao vivo, na televisão, de supetão, fora do roteiro,
sem nada combinado? Por que o Brasil resolveu se tornar um país menos
avacalhado e mais sério?
Essa
facada da Receita Federal não ficará assim não. Se a estratégia dos réus do
mensalão é jogar a culpa no próximo, no subordinado ou no morto, os senadores
também não assumem culpa de nada. Dizem que o erro foi do Senado, e não deles.
Exigem uma negociação coletiva.
O líder
do PSDB, o senador Álvaro Dias (PR), não se conforma em retirar do próprio
bolso um dinheiro que, a seu ver, é devido pela instituição. “O erro foi do
Senado, e nós é que vamos pagar a conta?”, pergunta Dias, escandalizado.
Provavelmente, Dias quer que a dívida dos 81 senadores com a Receita seja
retirada dos cofres públicos, de nosso bolso.
Nenhuma
dessas raposas políticas sabia que teria de pagar Imposto de Renda sobre o 14º
e o 15º salários. Eles achavam que isso era só ajuda de custo. Porque a vida
deles custa muito. Não bastam auxílio-moradia, auxílio-passagem,
auxílio-telefone, auxílio-combustível, auxílio-assessor, auxílio-correio,
auxílio-refeição. Precisamos fazer um mutirão, uma vaquinha para ajudar os
senadores amotinados. Caso contrário, eles podem fazer greve. Já pensou? Nem
vou dormir.
Ruth de Aquino,
ÉPOCA
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