Governo passa
maquiagem nos números sobre prevenção de desastres, depois muda discurso e já
quer abolir licitações de obras contra enchentes e deslizamentos. ...
Após mais um episódio de devastação por causa das chuvas no Brasil,
desta vez em Xerém, distrito no município de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro
(sempre no Rio, ou quase sempre), mais uma vez chama a atenção a incrível
defasagem entre as recorrentes tragédias brasileiras desencadeadas por
fenômenos naturais e a aplicação de porcentagens ínfimas, ano após ano, dos
recursos previstos em orçamento para a prevenção de tragédias, razão pela qual
ecoou com tanta força no imaginário popular — e na TV, nos jornais, nas redes
sociais — o desabafo feito pelo mais novo herói nacional, Zeca Pagodinho, de
cima do seu possante quadriciclo salva-vidas: “Dá nojo de político!”.
A inoperância histórica é tanta que no dia 12 de dezembro do ano
passado, em um seminário em Brasília, o ministro da Integração Nacional,
Fernando Bezerra, cantou de galo dizendo que o governo Dilma havia executado em
2012 metade do orçamento previsto para prevenção de desastres no ano, chegando
mesmo a afirmar que “nós nunca estivemos tão preparados como agora”.
Menos de um mês depois, no início de janeiro, o ministro foi desmentido
pela ong Contas Abertas, segundo a qual o governo federal gastou na verdade
apenas um terço dos recursos previstos no orçamento da União para aquele fim.
Ou seja: o governo havia maquiado os números, com sua contabilidade bem
peculiar.
Como se não tivessem coisa alguma com isso
Depois de Xerém, o discurso mudou. Em entrevista coletiva dada depois de
sobrevoar a Baixada Fluminense com Sergio Cabral, o ministro Fernando Bezerra
falou, como se não fosse ministro de Estado — e como se o PT não estivesse há
dez anos do poder –, que é preciso gastar mais para evitar as tragédias do que
para remediá-las, no que contou com a aprovação com a cabeça do governador,
também como se há seis anos não fosse ele o chefe do executivo estadual:
“É evidente que essas ocorrências de fortes chuvas, causando prejuízos
materiais e, infelizmente, ainda o prejuízo de vidas humanas, sempre leva a
gente a questionar a efetividade das medidas que vêm sendo tomadas, seja pelo
governo federal, seja pelo governo do estado e pelos governos municipais. Mas o
balanço que nós queremos fazer é um balanço positivo. Na verdade nós estamos
tratando de mudar a cultura de uma sociedade. Como orientou a presidenta Dilma:
Para mudar a política de defesa civil nacional é preciso gastar menos nas obras
de remediação e mais nas obras de prevenção”.
Na mesma entrevista, o ministro Fernando Bezerra escancarou a porta da
esperança para as empreiteiras, famosas pela corrupção e por figurarem sempre
entre os maiores financiadores das campanhas do PT e de Cabral, no filão da
prevenção de desastres.
A lei afrouxa quando a coisa aperta
“Essas obras de prevenção e que estão sendo realizadas em áreas de risco
deveriam ter um tratamento pela legislação de forma diferenciada. O governo do
Rio de Janeiro, inclusive, provocou esse debate o ano passado, quando levou a
discussão para o Tribunal de Contas da União. É importante também que a gente
inaugure esse debate de rever a legislação para permitir maior celeridade na
execução das obras — e também os próprios governos Federal, Estadual e Municipais
reverem seus procedimentos internos para que possamos agilizar a execução
dessas obras”, disse Bezerra.
E assim o Regime Diferenciado de Contratações (RDC), inicialmente
previsto para as obras da Copa das Confederações de 2013, da Copa do Mundo de 2014
e das Olimpíadas de 2016, depois estendido às obras emergenciais no Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC), depois alargado para as obras do programa
Brasil Carinhoso, do Ministério da Educação, agora pode ser expandido para as
obras necessárias para minimizar o sofrimento do povo por causa das chuvas —
talvez as obras mais atrasadas do país –, fechando com chave de ouro o círculo
vicioso de hipocrisia, descaso, desperdício e de larga margem para a corrupção
que marca todos os níveis de administração do velho Estado brasileiro, sejam lá
quais forem os seus governantes de turno. Por Hugo Souza, 11/01/2013.
Caro leitores alguém tem
notícias concretas: de ações e providências para sanear, desastres provocados
por fenômenos naturais:
A) - Você acha que o governo de fato vem
fazendo algo, tomando providências, mexendo-se para evitar desastres por causa
das chuvas?
B) - Ou os anúncios, pronunciamentos e
declarações da vez fazem parte de um script para evitar não tragédias, mas sim
desgaste político?
C) - Você se lembra de alguma providência
significativa contra desastres naturais anunciadas por algum governante que não
tenha evaporado aos primeiros dias de sol?
Com certeza é preciso investir mais em obras de prevenção, mas pe difícil identificar quais são as mais urgentes.
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