Por Reinaldo Azevedo, 14/09/2015, www.veja.com.br
Gilmar Mendes, ministro do STF e
vice-presidente do TSE, falou em São Paulo num seminário sobre a crise
política, organizado pela OAB. Segundo a Folha, o ministro afirmou
que houve, na gestão Dilma, “uma confusão entre governar e fazer campanha
eleitoral”.
Exato! Mendes citou um caso que vivo
lembrando aqui: o gasto escandaloso com o Fies, o sistema de financiamento de
ensino superior. Disse ele: “A gente percebe que o programa de governo estava
associado a um programa eleitoral, medidas que eram tomadas com objetivo
eleitoral”.
Querem a evidência em números?
Entre 2010 e 2013 — quatro anos —, o governo federal desembolsou R$ 14,7
bilhões com o programa. Só em 2014, quando Dilma disputou a reeleição, foram R$
13,75 bilhões. Ou seja: torrou em um ano o que se havia gastado em quatro. E
depois a gente pergunta por que o país quebrou?”
O ministro faz outro indagação: “Como
você pede sacrifício [aumento de impostos], quando as pessoas acham que houve
gastos excessivos, demasiados e sem controle? Quando as pessoas acham que há
uma prática sistêmica de corrupção?” E conclui: “Então há uma crise de
legitimidade. Esse é o debate que nós estamos vivendo.”
Ele se mostra otimista sobre os
desdobramentos da crise: “O Brasil passou por vários momentos difíceis e sempre
atravessou via uma engenharia institucional, a habilidade de seus políticos”,
disse. “Espero que nós tenhamos essa habilidade.”
Laranjal
Mendes criticou duramente a proposta de
proibir as empresas de financiar campanhas eleitorais, permitindo que as
doações privadas sejam feitas apenas por pessoas físicas. Segundo o ministro,
isso criaria um verdadeiro “laranjal” de doadores, numa referência à gíria
empregada para definir pessoas que são usadas para operações financeiras
ilícitas: “laranjas”.
Ora, como isso seria feito? Simples
como dois mais dois são quatro. Partidos conseguiriam recursos não declarados
de empresas e depois procederiam a um rateio entre centenas ou até milhares de
pessoas, que emprestariam seus respectivos CPFs para justificar a entrada em
caixa do dinheiro. Ou por outra: a proibição da doação daria ensejo, aí sim, a
um sofisticado mecanismo de fraude do financiamento de campanha, que a Justiça
Eleitoral não teria condições de combater.
A questão, como se sabe, ainda está em
julgamento no Supremo. A OAB, que promove o seminário no qual falou o ministro,
é autora da Ação Direta de Inconstitucionalidade que pretende que o tribunal
declare que o financiamento de campanha por empresas agride o texto
constitucional.
A questão está em debate também no
âmbito da reforma política. O Congresso aprovou por legislação ordinária a
doação de empresas até o limite de R$ 20 milhões, desde que o montante não
ultrapasse 2% de faturamento da empresa. O Senado havia vetado essa modalidade
do doação, mas os deputados derrubaram a restrição imposta pelos senadores.
Também está no Senado PEC já aprovada
na Câmara que constitucionaliza as doações — este, sim, o caminho mais seguro
para evitar a aprovação de tolices que jogariam a campanha eleitoral na
clandestinidade.
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