Este é o momento para trabalhar a visão de nação que vamos ter de
recomeçar a construir
Por Ricardo
Neves, 04/08/2015,
www.época.com.br
Até quase recentemente, parecíamos curados de nosso
complexo vira-lata e seguíamos esperançosos de que finalmente o país ia
dar certo. Mas as manifestações que se espalharam pelo Brasil em meados de 2013
piscaram a luz amarela sinalizando a insatisfação social. Não tiveram
como conseqüência, contudo, mudanças de rumo.
Tivemos um breve intervalo para hospedar uma Copa
do Mundo com o sentimento de que tínhamos tudo para fazer bonito para o mundo
inteiro. Foi o que se viu. E, se existe consolo, a frustração que guardávamos
acerca da derrota na final para o Uruguai acabou. Essa nem se compara com a
tragédia-comédia da surra dos 7 a 1 para a Alemanha.
Dilma 2014 tomou posse sem nos dar muitas
esperanças. Pelo contrário. Um ajuste meramente econômico, sem horizonte
estratégico renovado, revela-se um buraco sem fim.
Não bastasse a crise econômica, as investigações
conduzidas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, assistidos por um
Judiciário independente, vão dissecando a luz do dia entranhas políticas
profundamente corrompidas.
Não há luz no fim do túnel no curto prazo.
Entretanto, este é o momento para começar a trabalhar a visão de nação que
vamos ter que recomeçar a construir.
Basta de vôos de galinha.
É da sociedade como um todo, sobretudo dos líderes
que não estão afogados na velha política – profissionais, empresários,
intelectuais, simples cidadãos – que deve emergir um debate em torno de uma
nova agenda ousada e corajosa para o Brasil.
Precisamos de uma verdadeira infraestrutura
inteligente que permita ao país funcionar decentemente para gerar riqueza
para todos. Chega de soluções de empreiteiro e políticos dos anos 1970.
Precisamos uma nova agenda de desenvolvimento na
qual a educação tenha centralidade estratégica e não retórica. Há duas
décadas essa agenda se perdeu no meio de miragens nebulosas e clientelistas
representadas pela distribuição de bolsa-isso-bolsa-aquilo.
Precisamos entender que a nação brasileira deve
preparar seus filhos não para emprego-salário, mas para operar no nível de
maior complexidade da sociedade do conhecimento.
Precisamos de uma cultura de produtividade e
inovação, capaz de qualificar nossos filhos para concorrer igualmente em
prêmios Nobel e não apenas em modalidades esportivas.
Precisamos de uma agenda de empreendedorismo ousado.
Precisamos de uma agenda de desenvolvimento
urbano acelerado para cidades sufocadas em congestionamentos.
Precisamos de uma agenda de segurança pública estratégica,
corajosa e eficiente, que considere que a “guerra às drogas” fracassou.
Precisamos de uma economia que opere em
níveis mais aceitáveis de facilidades e inclusão para todos; não de uma máquina
macroeconômica refém do capital financeiro.
Precisamos ousar ser um Brasil Classe Mundial.
Precisamos de um setor governamental
eficiente e leve, que entregue políticas de interesse público, não produtos
clientelistas ou de cooptação. Basta do Brasil Escandináfrica – um país
de impostos escandinavos e serviços públicos padrão africano.
Precisamos entender que o futuro-que-já-chegou
exige uma economia de baixo carbono. Ou não teremos futuro algum para a
humanidade!
Precisamos enfim, ter a coragem de entender que
chegamos ao fim do fim dos velhos tempos, tanto das ditaduras militares quanto
das utopias autoritárias-socialistas-do-almoço-grátis.
A noite é mais escura justamente antes do amanhecer.
É nesta escuridão que devemos assumir o desafio de acordar do sonho errado e de
construir uma nação da qual podemos nos orgulhar e não nos envergonhar.
Ricardo
Neves é
empreendedor, consultor, autor de livros sobre estratégia e adora conversar sobre
inovação e mudança. Ele escreve às terças-feiras em epoca.com.br.
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