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domingo, 13 de setembro de 2015

O desafio de acordar do sonho errado!



Este é o momento para trabalhar a visão de nação que vamos ter de recomeçar a construir

Por Ricardo Neves, 04/08/2015,
www.época.com.br

Até quase recentemente, parecíamos curados de nosso complexo vira-lata e seguíamos esperançosos de que finalmente o país ia dar certo. Mas as manifestações que se espalharam pelo Brasil em meados de 2013 piscaram a luz amarela sinalizando a insatisfação social. Não tiveram como conseqüência, contudo, mudanças de rumo.
Tivemos um breve intervalo para hospedar uma Copa do Mundo com o sentimento de que tínhamos tudo para fazer bonito para o mundo inteiro. Foi o que se viu. E, se existe consolo, a frustração que guardávamos acerca da derrota na final para o Uruguai acabou. Essa nem se compara com a tragédia-comédia da surra dos 7 a 1 para a Alemanha.
Dilma 2014 tomou posse sem nos dar muitas esperanças. Pelo contrário. Um ajuste meramente econômico, sem horizonte estratégico renovado, revela-se um buraco sem fim. 
Não bastasse a crise econômica, as investigações conduzidas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, assistidos por um Judiciário independente, vão dissecando a luz do dia entranhas políticas profundamente corrompidas. 
Não há luz no fim do túnel no curto prazo. Entretanto, este é o momento para começar a trabalhar a visão de nação que vamos ter que recomeçar a construir.
Basta de vôos de galinha.
É da sociedade como um todo, sobretudo dos líderes que não estão afogados na velha política – profissionais, empresários, intelectuais, simples cidadãos – que deve emergir um debate em torno de uma nova agenda ousada e corajosa para o Brasil.
Precisamos de uma verdadeira infraestrutura inteligente que permita ao país funcionar decentemente para gerar riqueza para todos. Chega de soluções de empreiteiro e políticos dos anos 1970.
Precisamos uma nova agenda de desenvolvimento na qual a educação tenha centralidade estratégica e não retórica. Há duas décadas essa agenda se perdeu no meio de miragens nebulosas e clientelistas representadas pela distribuição de bolsa-isso-bolsa-aquilo.
Precisamos entender que a nação brasileira deve preparar seus filhos não para emprego-salário, mas para operar no nível de maior complexidade da sociedade do conhecimento.
Precisamos de uma cultura de produtividade e inovação, capaz de qualificar nossos filhos para concorrer igualmente em prêmios Nobel e não apenas em modalidades esportivas.
Precisamos de uma agenda de empreendedorismo ousado.
Precisamos de uma agenda de desenvolvimento urbano acelerado para cidades sufocadas em congestionamentos.
Precisamos de uma agenda de segurança pública estratégica, corajosa e eficiente, que considere que a “guerra às drogas” fracassou.
Precisamos de uma economia que opere em níveis mais aceitáveis de facilidades e inclusão para todos; não de uma máquina macroeconômica refém do capital financeiro.
Precisamos ousar ser um Brasil Classe Mundial.
Precisamos de um setor governamental eficiente e leve, que entregue políticas de interesse público, não produtos clientelistas ou de cooptação. Basta do Brasil Escandináfrica – um país de impostos escandinavos e serviços públicos padrão africano.
Precisamos entender que o futuro-que-já-chegou exige uma economia de baixo carbono. Ou não teremos futuro algum para a humanidade!
Precisamos enfim, ter a coragem de entender que chegamos ao fim do fim dos velhos tempos, tanto das ditaduras militares quanto das utopias autoritárias-socialistas-do-almoço-grátis.
A noite é mais escura justamente antes do amanhecer. É nesta escuridão que devemos assumir o desafio de acordar do sonho errado e de construir uma nação da qual podemos nos orgulhar e não nos envergonhar.
Ricardo Neves é empreendedor, consultor, autor de livros sobre estratégia e adora conversar sobre inovação e mudança. Ele escreve às terças-feiras em epoca.com.br.

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