Pente-fino da AGU detecta influência de Vieira na
Antaq.
A Advocacia-Geral da União confirmou ter detectado
em processos da Agência Nacional de Transportes Aquaviários...
Por FÁBIO FABRINI, 28/12/2012, estadao.com.br
A
Advocacia-Geral da União confirmou ter detectado em processos da Agência
Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) irregularidades que favoreceram
empresas investigadas na Operação Porto Seguro, da Polícia Federal. Um
"pente-fino" na Procuradoria da Antaq mostrou que o ex-diretor da
Agência Nacional de Águas (Ana) Paulo Rodrigues Vieira transitava dentro dela
livremente e se valia de suas ligações com o ex-ministro José Dirceu (PT) e com
o deputado Valdemar Costa Neto (PR) para fazer indicações e influir em
decisões.
Vieira
foi apontado pela PF como figura central do esquema de venda de pareceres
técnicos a empresários - desmontado pela Porto Seguro - e afastado de seu
cargo, em novembro, pela presidente Dilma Rousseff.
No
relatório divulgado ontem, a Corregedoria da AGU diz ter analisado mais de 300
documentos da Antaq, da ANA e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O
objetivo era identificar eventuais influências externas nos pareceres de 23
procuradores dessas autarquias. Foram encontradas falhas apenas em processos da
Antaq.
Os
trabalhos da comissão, criada para investigar o ex-advogado-geral adjunto José
Weber Holanda, acusado de receber propina do esquema, serão prorrogados por
mais um mês.
O
relatório da correição na Antaq concluiu que Vieira exercia influência sobre
servidores que tinham ou não poder de decisão na agência. De acordo com
procuradores ouvidos pela AGU, ele entrava em reuniões sem aviso prévio,
desligando o ar condicionado; ameaçava de exoneração o ex-procurador-geral
Aristarte Gonçalves Júnior; emplacou o motorista, Jailson Santos Soares, como
ouvidor do órgão; e tentava demonstrar "acintosamente" que tinha
poder para indicações a altos cargos públicos. "Numa ocasião, ele me
convidou para ir até o José Dirceu e o Valdemar Costa Neto porque queria me
nomear procurador-geral", revelou, em depoimento, o procurador Carlos
Afonso, lotado na Antaq.
Conforme o
relatório faltou critérios de "distribuição, transparência e
segurança" no andamento de processos da Anta. Fragilidades na tramitação
teriam favorecido interferências externas, como no caso da instalação de porto
bilionário na Ilha de Bagres, em Santos, de interesse do ex-senador Gilberto
Miranda (PMDB-AM), investigado na Porto Seguro.
Sumiço
Parecer
que contrariava interesses da empresa Tecondi teria desaparecido de processo
que discutia aditivos em contrato com a Companhia Docas do Estado de São Paulo
(Codesp), da qual Vieira era conselheiro. Denúncia de compra de um relatório do
Tribunal de Contas da União sobre o mesmo caso, favorável à Tecondi, foi o pivô
da Operação Porto Seguro.
Segundo a
AGU, outra empresa, a Êxito Importadora e Exportadora S/A, foi beneficiada em
processo na Antaq sobre o uso do Porto do Recife. Parecer que dificultava a
exploração da área foi substituído por outro que a liberava. Diante dos
indícios de crime na troca e no sumiço de documentos, a AGU vai remeter o
relatório à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal.
Além
disso, determinará o envio dos casos suspeitos para anulação de decisões viciadas
e abertura de processos disciplinares para identificar eventuais responsáveis.
Os servidores envolvidos podem ser punidos com afastamento ou até a demissão.
As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
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