Em 42
anos de atividade parlamentar na Câmara, acumulados em 11 mandatos
consecutivos, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN)...
Em 42
anos de atividade parlamentar na Câmara, acumulados em 11 mandatos
consecutivos, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) passou a se dedicar quase
exclusivamente à articulação política nas últimas duas décadas. O deputado, com
bom trânsito do PT ao DEM, carrega no currículo, além da fama de excelente
articulador nos bastidores, denúncia de enriquecimento ilícito e suspeitas de
favorecimento ilícito de aliados com verbas públicas.
Alves
apresentou 233 projetos de lei "relevantes" no Congresso, segundo sua
equipe - 215 deles entre 1971 e 1995,
versando principalmente sobre leis trabalhistas e educação. Nos 17 anos
seguintes, no entanto, dedicou-se mais à vida partidária e às negociações com
colegas de Casa.
Dos três
projetos de sua autoria que se transformaram em lei ao longo de quatro décadas
na Câmara, dois versavam sobre a legislação eleitoral.
Um dos textos, assinado em coautoria com líderes de outras legendas, em
2007, aumentou de 1% para 5% a fatia do Fundo Partidário que era dividida
igualmente entre todas as siglas registradas no País. Outro projeto, também
elaborado em conjunto, em 2009, flexibilizou a propaganda eleitoral antecipada
e proibiu o uso de montagens no horário eleitoral gratuito.
Nos últimos quatro anos apresentou três propostas que diziam respeito à
própria classe. Uma delas permitiria que deputados participassem de duas
comissões simultâneas. Outra autorizaria a propaganda eleitoral na internet. A
terceira evitaria que os partidos perdessem tempo de TV e recursos do fundo
partidário para novas legendas.
A
atividade legislativa de Alves também se caracterizou pela atenção que deu ao
Rio Grande do Norte, que sonha governar. Em 2011, apresentou projeto de lei
para dar o nome de seu pai, Aluizio Alves, ao Aeroporto Internacional de São
Gonçalo do Amarante, em construção na região metropolitana de Natal.
O
peemedebista também se vangloria por ter destinado "perto de mil"
emendas e convênios a favor de seu Estado nos últimos dez anos. "Se for
pensar nos valores daquilo que obtive, dá milhões", disse na última
terça-feira. As recentes denúncias de direcionamento de emendas parlamentares
de sua autoria para a empresa de um ex-assessor, contudo, reascendeu a ideia de
que o parlamentar reúne os maus hábitos que tornaram negativa a fama do
Legislativo.
"É o
protótipo do político conciliador, que agrada quem está no poder, não um
questionador", avaliou o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).
Além da
influência política que exerce no Departamento Nacional de Obras Contra as
Secas (Dnocs), ligado ao Ministério da Integração Nacional, Alves também tem
trânsito livre nos ministérios comandados pelo PMDB (Agricultura, Previdência
Social, Minas e Energia e Turismo, além da Secretaria de Assuntos Estratégicos
da Presidência da República).
"Não
conheço quem fale tanto no celular quanto ele, principalmente com prefeitos e
vereadores do Rio Grande do Norte", conta um colega de Câmara.
Oligarquia.
Alves é membro de uma das duas principais oligarquias do Rio Grande do Norte (a
outra são os Maia). O pai, ex-governador e ex-ministro Aloísio Alves, foi
cassado pelo Ato Institucional nº 5. O primo, Garibaldi Alves Filho, ministro
da Previdência Social desde o início do governo Dilma Rousseff, chegou ao cargo
a partir de negociações lideradas pelo deputado.
A
influência da família no Estado contribui para a caracterização dele como um
político antiquado. "Existe hoje uma atração irresistível por estar bem
com o Executivo. Por isso, muito provavelmente, ele será eleito",
acrescenta Chico Alencar.
Nos
últimos 20 anos teria atuado como um "operador" que trabalhava na
retaguarda dos peemedebistas Garibaldi Alves Filho, Geddel Vieira Lima e, por
último, de Michel Temer. Foi ao lado deste que ganhou maior projeção.
Escândalos.
Alves tentou ser vice na chapa de José Serra à Presidência em 2002. Na época,
porém, a ex-mulher, Mônica Infante de Azambuja, o acusou de manter US$ 15
milhões em contas bancárias não declaradas no exterior. Há dois meses ele
conseguiu adiar a decisão sobre a quebra de sigilo fiscal e bancário.
No ano
passado, o Estado revelou que o deputado fez lobby no Tribunal de Contas da
União para que um de seus sócios conseguisse o contrato de concessão da BR-101,
entre o Espírito Santo e a Bahia. O negócio envolve cerca de R$ 7 bilhões.
Apesar das denúncias, Alves segue favorito e deve se eleger. Por BRUNO BOGHOSSIAN, 20/01/2013, SÃO PAULO,
DÉBORA ÁLVARES, BRASÍLIA, estadao.com.br.
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