Brasileiro tem memória curta, logo esquece
gatunagens protagonizadas por larápios influentes, concluíram os
quadrilheiros do mensalão desde que Lula sobreviveu ao escândalo descoberto em
2005 e reelegeu-se no ano seguinte.
Brasileiro vive engolindo sem engasgos caciques da
tribo que rouba, mas faz, acreditaram nos últimos sete anos os sócios do grande
clube dos cafajestes disfarçado de Congresso e financiado pelo Planalto.
A pátria de Macunaíma celebra heróis sem caráter
desde a chegada das primeiras caravelas, provaram ensaios mambembes paridos por
sociólogos com mais livros que neurônios na cabeça.
No país do jeitinho, só otários de nascença agem
honestamente, ensina desde o primeiro assalto aos cofres públicos o hino da
Frente Nacional dos Ladrões, Vigaristas e Canalhas em Geral.
A menos que a economia sofra
algum enfarte, delinquentes de todos os partidos serão absolvidos pelas urnas
mesmo se furtarem a poupança da avó ou o cofrinho da igreja
da Candelária, garantiram analistas de pesquisas tão confiáveis quanto um
parecer do consultor Palocci.
Candidato que denuncia bandalheiras alheias fica
com imagem de briguento e despenca nas pesquisas, descobriram marqueteiros que
erram até na combinação terno-e-gravata.
Combater a roubalheira nunca rendeu voto, o que
decide eleição é programa de governo, endossou a oposição que não se opõe desde
2002. Melhor compor que lutar, vem balbuciando poltrões promovidos a líderes
oposicionistas por falta de coisa melhor: na Era da Mediocridade, os melhores e
mais brilhantes são perseguidos como as ratazanas grávidas de Nelson Rodrigues.
A Ópera dos Embusteiros seguiria seu curso se um
juiz de verdade não atravessasse a partitura com a protofonia da Constituição e
os acordes do Código Penal. Designado relator do processo do mensalão, Joaquim
Barbosa limitou-se a cumprir seu dever. Analisou provas, evidências e
depoimentos, examinou os argumentos das partes envolvidas, enxergaram as coisas
como as coisas são, contou o caso como o caso foi, eviscerou o esquema
criminoso e, amparado na lei, deixou claro que corrupção dá cadeia.
Tanto bastou para virar
celebridade nacional, atesta o segundo vídeo estrelado pelo relator do
mensalão, publicado na seção História
em Imagens. A reação de milhões de
brasileiros demonstra que o que parecia desinteresse era descrença. Muito mais
que a carência de heróis, é a fartura de ladrões impunes que transformou
Joaquim Barbosa em ídolo da imensidão de indignados.
Sem ter feito mais que a obrigação, um ministro sem
medo tornou-se campeão de popularidade. E o julgamento de José Dirceu nem
começou. Por Augusto Nunes, 02/10/2012, publicado na revista veja.
Nenhum comentário:
Postar um comentário