Na era Lula, quando o petróleo oscilou na faixa de US$ 100 por barril,
Odebrecht extraiu da Petrobras lucros de US$ 1 bilhão anuais
Por Augusto
Nunes, 27/09/2016,
www.veja.com.br
Texto de José Casado publicado no Globo
Desta vez, a iniciativa não foi do Ministério
Público, criticado nas últimas semanas pelo formato da denúncia contra o
ex-presidente Lula e da prisão do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. Foi a
Polícia Federal que apresentou ao juiz Sérgio Moro o pedido de prisão de
Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda de Lula e chefe da Casa Civil de Dilma
Rousseff. O detalhe é relevante porque sinaliza um nível inédito de cooperação
entre instituições encarregadas das investigações sobre corrupção.
Notável, também, é a aparente quietude do
empresário Marcelo Odebrecht. Preso há 15 meses, guardou silêncio diante dos
policiais, porque seu pai, Emílio, conduz negociações para um acordo com a
Procuradoria em troca da sua prisão domiciliar. No próximo dia 18, completa 48
anos. Até a eventual homologação da colaboração com a Justiça, é incerto o
tempo que resta a Marcelo Odebrecht atrás das grades.
Ainda assim, foi integral sua contribuição na
prisão do ex-ministro Palocci, ontem. Ele nada disse, segundo a polícia. Nem
precisava, porque registrara nomes e notas em arquivos eletrônicos.
Detalhes estavam na rede de contabilidade paralela
do grupo Odebrecht, que Marcelo organizou para centralizar o controle dos
pagamentos de subornos a agentes públicos no Brasil e em países pelos quais
espraiavam negócios de exportação, subsidiados pelo BNDES.
Entre 2004 e 2013, as empreiteiras brasileiras
exportaram US$ 13 bilhões (R$ 42,9 bilhões). O grupo Odebrecht foi responsável
por 76% dessas vendas (US$ 9,8 bilhões, equivalentes a R$ 32,3 bilhões). Ficou
com 96% de todo o crédito público dado às exportações de engenharia, via BNDES.
Dessa montanha de dinheiro eram extraídos os
subornos nacionais e internacionais. Na era Lula, quando o petróleo oscilou na
faixa de US$ 100 por barril, Odebrecht extraiu da Petrobras lucros de US$ 1
bilhão anuais. Em Angola e Venezuela os negócios chegaram a render US$ 500
milhões (ou seja, R$ 1,6 bilhão) por ano.
Os dados já repassados pelo grupo privado à
Procuradoria sugerem que o bilionário “caixa” de Angola e Venezuela viabilizou
a escalada de subornos a governantes e partidos políticos dentro e fora do
Brasil, quase sempre pagos no exterior. Palocci, por exemplo, foi preso sob a
acusação de intermediar repasses ilegais de R$ 128 milhões, o equivalente a US$
38,7 milhões, já identificados.
Não se sabe se por ele transitaram as maiores
“gratificações” por serviços ilícitos no Brasil. Os telefones de Marcelo
registram, entre outros, um “Amigo” brasileiro de US$ 23 milhões. Figuram,
ainda, empresários-satélites nas operações externas, como José Roberto
Colnaghi, da Asperbras, em negócios com os donos do poder em Angola (o
presidente José Eduardo Santos, o vice Manuel Vicente e os generais Manuel Dias
“Kopelipa”, Leopoldino Fragoso, Adriano Makevela, António Faceira, Armando da
Cruz Neto, Carlos Alberto Hendrick Vaal, João Baptista de Matos e Luís Pereira
Faceira).
É nítido, porém, o avanço das investigações na
direção da Câmara de Comércio Exterior (Camex) e da Secretaria de Assuntos
Internacionais do Ministério da Fazenda. Nelas estavam outros “amigos”, alguns
deles com poder decisivo sobre a liberação de créditos às exportações e
serviços e sempre prestativos no tráfico de informações privilegiadas.
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