Os senadores não pareceram se espantar com o motivo da 'batida' no
apartamento de Gleisi e Paulo Bernardo: o desvio de R$ 100 milhões das
operações de crédito consignado
Por Augusto
Nunes, 26/06/2016,
www.veja.com.br
Texto de Dora Kramer publicado no Estadão
Senadores ficaram indignados com a “batida” da
Polícia Federal em um dos apartamentos funcionais da Casa, ocupado pela colega
Gleisi Hoffmann, em operação para busca e apreensão de provas para instruir o
inquérito contra o marido da senadora, ex-ministro Paulo Bernardo, preso
preventivamente sob a acusação de crime de corrupção.
Os senadores, no entanto, não pareceram se espantar
nem a eles acometeu sentimento de indignação diante do motivo da investigação:
o desvio de R$ 100 milhões das operações de crédito consignado, no Ministério
do Planejamento, entre 2010 e 2015. Segundo os investigadores, parte do
dinheiro teria ido para Paulo Bernardo (titular da pasta no governo Luiz Inácio
da Silva) e parceiros do esquema, parte destinada aos cofres do PT sob a
gerência do notório João Vaccari Neto.
Esse o real desvio de foco que o cinismo de uns e a
apressada simplificação da realidade de outros apontam como a motivação e/ou conseqüência
da Operação Custo Brasil – cria da Lava Jato – do Ministério Público de São
Paulo. Segundo versão corrente, a prisão de Paulo Bernardo teria o condão de
“desviar o foco” do noticiário político policial do PMDB para o PT levando
“alívio” ao Palácio do Planalto.
Se não é má-fé é auto-engano. Mais de dois anos depois
de iniciada, a Lava Jato e seus desdobramentos chegam aos políticos com uma
força que ultrapassa a tarefa levada a cabo em Curitiba.
Evidente que a prisão de um graúdo é um baque para
o PT. Mas é só mais um. Outros piores vieram e alguns piores ainda virão para
se somar ao passivo do partido, cujo acerto de contas se dá agora na Justiça e,
logo mais, dar-se-á nas urnas.
Essa é a fatura a ser paga pelos petistas. O que
não significa que a cobrança às contas em aberto de outros grupos políticos
desapareça no turbilhão da galeria como se fosse possível contabilizar o
prejuízo alheio como benefício. Polícia Federal, procuradores e juízes
empenhados em esmiuçar o funcionamento do aparelho corrupto de Estado já
mostraram que não fazem cerimônia ideológico/partidária.
O PMDB safou-se por ora de ver alguns de seus
ilustres na prisão. Mas os inquéritos, os processos, as denúncias e os fatos
(tanto passados quanto ainda a serem comprovados) estão em andamento e, como
vemos dia sim outro também, os personagens se revezam no infortunado destaque à
medida que avançam as investigações. Portanto, o coadjuvante de hoje pode ser o
protagonista de amanhã. E vice-versa.
De onde não há que se falar em “desvio de foco por
motivação política”. Se tentativa de mudar de conversa há – e claramente há –,
parte de suas excelências cuja unidade de discursos ultimamente (desde o pedido
de prisão para Romero Jucá, José Sarney e Renan Calheiros feito pela
Procuradoria-Geral e negado pelo Supremo Tribunal Federal) está acima das diferenças
partidárias.
A ordem da estação é a crítica à condução das
investigações. Nisso estão unidos petistas, tucanos (à exceção do senador
Aloysio Nunes Ferreira), peemedebistas e todo o “arco da sociedade”
parlamentar. No pedido de prisão para os colegas mais do que encrencados,
protestou-se que Rodrigo Janot havia “extrapolado”. Agora, na visão dos
senadores, quem extrapolou foi o juiz que ordenou a busca e apreensão relativa
a Paulo Bernardo, que não tem foro especial, porque teria “violado” a sacrossanta
residência da senadora casada com o investigado.
A súbita e fraterna união teve efeito apaziguador
até na Comissão Especial do impeachment, onde o espírito de corpo achou por bem
não tocar no assunto e arquivar temporariamente os embates. Qualificou-se de
“silêncio respeitoso”.
Em contraponto, estabeleceu-se um absolutamente
desrespeitoso silêncio em relação ao desvio de dinheiro do crédito consignado,
certamente a título de pedágio por uma das grandes obras sociais do PT.
Nenhum comentário:
Postar um comentário