Istoé,
29.06.16, www.istoé.com.br
O juiz Paulo Bueno de Azevedo, da Vara Federal de
São Paulo e responsável pela Operação Custo Brasil, defendeu no Supremo
Tribunal Federal (STF) a busca e apreensão realizadas no apartamento funcional
da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) na semana passada. Ele enviou uma resposta
sobre a reclamação do Senado contrária às medidas por suposta usurpação de
competência ao conduzir investigação contra autoridade com foro privilegiado.
Azevedo reiterou que a operação teve como alvo não
a senadora, mas sim seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, que acabou preso.
O juiz afirmou não saber, ao autorizar a busca e apreensão na casa da senadora,
que o imóvel alvo da Custo Brasil era funcional, ou seja, de propriedade do
Senado.
As alegações respondem ao pedido de anulação das
diligências feito pelo Senado. O entendimento dos advogados da Casa é de que as
medidas violam a autonomia do Poder Legislativo, já que os apartamentos usados
pelos parlamentares em Brasília seriam uma espécie de extensão do próprio
Senado. Ou seja, para realização de diligências, seria necessário autorização
do STF.
“Ainda que o apartamento funcional pertença ao
Senado Federal, seria, no máximo, um bem público federal. E é sabido que não
existem restrições legais para determinação de busca e apreensão em imóveis
públicos federais”, escreveu o magistrado. De acordo com ele, “não é o
apartamento funcional que tem foro por prerrogativa de função. É a senadora da
República”.
O magistrado respondeu a questões solicitadas pelo
ministro Celso de Mello, relator no STF do caso. O juiz disse que não autorizou
a apreensão de bens de Gleisi, já que ela não é investigada na primeira
instância. Disse também que, ainda que Paulo Bernardo não tenha declarado o
endereço do apartamento funcional, ele afirmou, durante uma audiência de
custódia realizada após sua prisão, que residia à maior parte do tempo no
imóvel.
Gleisi é investigada no STF por envolvimento no
mesmo esquema em que o marido dela foi preso. As apurações indicam uma trama no
Ministério do Planejamento que desviou R$ 100 milhões dos funcionários públicos
que fizeram empréstimo consignado. Os recursos teriam como beneficiados, além
de Paulo Bernardo e de Gleisi, o partido deles, o PT.
Além da reclamação no STF, o Senado também pediu
uma investigação contra Azevedo no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por infração
disciplinar. Se os conselheiros entenderem que o magistrado cometeu alguma
irregularidade, poderão aplicar punições que vão desde a advertência até a sua
demissão.