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Brasil, na última segunda-feira, como um bom
aluno, recebeu uma aula da nova ética pregada pelo senador e agora presidente
do Senado da República, Renan Calheiros (PMDB/AL). “A ética não é um objetivo
em si mesma. O objetivo em si mesmo é o interesse nacional. A ética é meio, e
não fim” ensinou o senador alagoano no seu discurso de posse. Filósofos bem
mais antigos que ajudaram a formatar a ética como conceito de vida decente,
talvez não concordassem com a nova ética ditada por Renan Calheiros. Ora,
“interesses nacionais” muitas vezes ofendem a chamada ética intervariante, a
qual em todos os tempos da humanidade, independentemente da hierarquia social
de qualquer sociedade cristã e ocidental, traz, na sua estrutura moral,
princípios imutáveis como “não matar” e “não furtar”. No entanto, em nome do “interesse
nacional”, Hitler matou 6 milhões de pessoas em seus campos de concentração. A
preservação do Terceiro Reich, o Reich de Mil anos, era o objetivo final do
nazismo, logo todos os meios empregados estavam justificados. Longe de comparar
a Alemanha hitlerista do Brasil atual, a generalização da ética pregada pelo
presidente do Senado apenas como um meio para atingir um fim, no caso o
interesse nacional, pode tornar-se um conceito que se equilibra na linha
fronteiriça da honestidade com a esperteza política. De quais fins que se
confundem com o interesse nacional estaria se referindo o senador alagoano? O
bem-estar social dos brasileiros – um dever ético de todos os políticos – ou
apenas um conforto localizado na prática parlamentar como as chamadas emendas
orçamentárias pessoais? Chegamos a um ponto no Brasil que determinados
políticos acreditam que valores éticos podem ser convertidos em leis. Basta que
se veja a quantidade de expedientes legais que punem seus transgressores e nem
por isso a safadeza foi barrada do furto de sabão em pó na repartição pública
ao grande assalto aos cofres nacionais nos editais para obras de
infraestrutura. A ética só é válida como meio se os fins são decentes. Somente
objetivos qualificados podem sustentar lições éticas em discursos políticos.
Mas como identificar os conceitos aristotélicos de ética nos procedimentos de
Delúbio Soares, por exemplo, que acreditava na compra de parlamentares (os
meios) para o bem do Brasil e em nome de uma governabilidade (os fins)? Rogério
Mendelski, www.correiodopovo.com.br.
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