Numa última tentativa à véspera de
encerrado o julgamento do mensalão, a defesa do ex-ministro José Dirceu pediu
ao Supremo Tribunal Federal, em memorial entregue por sua defesa, que seu
passado seja levado em consideração na hora do cálculo da pena que terá de
cumprir por ter cometido os crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha.
No documento de seis páginas, os
advogados de Dirceu lembram seu passado de líder estudantil, a prisão e exílio
durante a ditadura militar, a participação na fundação do PT, sua atuação como
parlamentar e citam declarações de Lula e outros petistas na tentativa de
atenuar a pena que será imposta pelo tribunal.
Condenado por ter engendrado um
esquema de compra de apoio no Congresso que, de acordo com os ministros,
colocou em risco a própria democracia, os advogados de Dirceu se valem das
palavras de Lula como testemunha de defesa no processo do mensalão para afirmar
que o ex-ministro "lutou pela democratização do Brasil, pagando com o
exílio" durante a ditadura.
"Independente de qualquer
valoração política ou ideológica, é fato incontestável que José Dirceu atuou
por décadas em prol de importantes valores de nossa sociedade, participando
corajosamente do movimento estudantil que lutava contra o regime militar,
atuando com destaque na fundação de relevante partido político e, ainda,
exercendo mandatos parlamentares com grande comprometimento e
reconhecimento", afirmam os advogados.
O Código Penal, dizem os advogados,
estabelece que a "pena poderá ser atenuada em razão de circunstância
relevante, anterior ou posterior ao crime". E pediram que essa regra seja
aplicada no caso de Dirceu. "A vida de Dirceu apresenta inúmeros fatos de
grande valor social que, no momento da fixação da pena, devem ser vistos como
uma causa efetivamente importante, de grande valor, pessoal e específica do
agente."
Penas. Dirceu e o ex-tesoureiro do PT
Delúbio Soares devem ser condenados praticamente às mesmas penas que foram
impostas pelo STF ao empresário Marcos Valério, operador do esquema do
mensalão, pelos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha -
aproximadamente dez anos de prisão, o que os obrigará a cumprir parte da pena
em regime fechado. Esta é avaliação de ministros e advogados ouvidos pelo Estado.
Dirceu e Delúbio foram condenados por
formação de quadrilha e corrupção ativa pelo pagamento de propina a
parlamentares da base. Valério foi condenado com os dois petistas pelos mesmos
crimes e o STF fixou em dez anos e sete meses a pena ao operador do mensalão.
Ministros e advogados consultados
dizem que as penas de Dirceu e a Delúbio devem ser similares às de Valério pelo
fato de ambos terem papel destacado na prática dos crimes. / COLABORARAM
RICARDO BRITO MARIÂNGELA GALLUCCI e EDUARDO BRESCIANI
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