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quinta-feira, 4 de julho de 2013

Herança maldita.

Folha de S.Paulo Editoriais: 05/12/2012.
Herança maldita.
Nos seus aspectos constrangedores e diminutos, o caso Rosemary Noronha comprova, para além de qualquer dúvida, o tipo de legado que o ex-presidente Lula deixou à sua sucessora no Planalto.
Ainda que tenham sido significativos os avanços econômicos e sociais ao longo de seu governo, Lula fez com que verdadeira herança maldita se mantivesse incrustada no aparelho de Estado brasileiro.
Nem mesmo se completam o desmantelamento e a punição da quadrilha mensaleira, outro foco de irregularidades é desvendado.
No mensalão, o escândalo estacou na figura todo-poderosa do ex-ministro José Dirceu, sem que surgissem provas do envolvimento de Lula no esquema criminoso.
Restaram, é claro, as suspeitas de conivência, reforçadas pela contínua atitude de apoio aos condenados que tanto Lula como setores ainda expressivos do petismo não têm pejo em manifestar.
Diferentemente do que ocorre em outros países, não é da tradição brasileira investigar a vida pessoal de suas figuras públicas. Pouco importaria o tipo de relacionamento que se verificou entre Lula e Rosemary.
Entretanto impõem-se explicações sobre o fato de ela ter sido nomeada chefe do escritório da Presidência em São Paulo, exercendo a partir daí atuação diversificada no campo dos favorecimentos, das indicações, dos pareceres duvidosos e das propinas de ocasião.
Sem outras qualificações exceto a proximidade com o presidente, Rosemary conseguiu nomear Paulo Rodrigues Vieira para a diretoria da Agência Nacional de Águas e seu irmão, Rubens Carlos Vieira, para cargo equivalente na Agência Nacional de Aviação Civil.
Surge, com a ajuda de Paulo Vieira, a aprovação suspeita de um projeto portuário em Santos; surge um parecer favorável ao ex-senador Gilberto Miranda, permitindo que ocupasse uma ilha no litoral paulista; surgem laudos e diplomas falsos obtidos por Rosemary em benefício de seu grupo.
Sem dúvida, a dimensão das propinas e dos favorecimentos já descobertos autoriza a aplicação de um termo em voga, "mequetrefe", para os atos da assessora lulista.
Mas não é mequetrefe, afinal, o cargo de presidente da República. E não é inédito, muito ao contrário, o estilo de aparelhamento imposto pelo lulismo ao governo federal, que este episódio reafirma.
O ex-presidente, mais uma vez, esconde-se atrás da barreira de fumaça criada pelos correligionários.
Desmorona, aos poucos, o mito de estadista de que se quis cercar um governante que pôs o Estado a serviço de interesses partidários e que se esquiva, de modo contumaz, a assumir a responsabilidade dos atos delituosos que se cometeram sob seu poder.
Nota:
O presente texto foi tirado da Folha de S.Paulo de 05/12/2012. 

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