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sábado, 20 de julho de 2013

Resiliência de político (Fonte: CP 24/01/2013).

T
eriam os políticos uma natureza diferente? Em que consistiria essa natureza? Depois de ler “O Que Eu Não Quero Esquecer”, livro do deputado Henrique Eduardo Alves, que me foi presenteado, a título de curiosidade, pelo deputado gaúcho Jerônimo Goergen, eu penso ter compreendido essa natureza. É a chamada resiliência. No popular, estômago de avestruz. Todo mundo sabe que políticos costumam suportar coisas que nenhum ser normal aguentaria. Mas o livro do Henrique Alves me mostrou que a dimensão da resiliência política é incomensurável.
A obra-prima do próximo presidente da Câmara dos Deputados tem 260 páginas coloridas impressas à custa dos contribuintes. São fotos do autor, elogios a ele e elogios feitos por ele. O fato de eu ter sido capaz de ler parte desse calhamaço indigesto prova que também possuo avantajado grau de resiliência, que é a capacidade de adaptação necessária para sobreviver em situações extremas. Na física, a resiliência é descrita como a propriedade de certos corpos acumularem energia sob tensão sem ruptura. A vara verga, mas não quebra. O corpo volta ao estado norma depois de ter sido submetido a uma forte pressão. O termo resiliência tornou-se mais amplo. Passou a significar maleabilidade e jogo de cintura.
U
ma passagem em “O Que Eu Não Quero Esquecer” me escancarou a natureza da resiliência política. Alves refere-se, em discurso na tribuna, a um embate com o petista Cândido Vaccareza na noite da votação do Novo Código Florestal: “Líder Vaccareza, nos meus 11 mandatos nesta Casa, talvez a palavra mais dura que eu tenha recebido de um líder foi de V. Exª".  Alves toma um pau. Fica deslumbrado: “V, Exª, no seu papel impecável, exemplar, ético, honesto e desassombrado, assumiu esta tribuna e foi duro demais”. Henriquinho, contudo, desculpa o colega: “Mas V. Exª fez aquilo naquele momento para tentar o impossível, que era mudar o resultado...”.
M
agnânimo, vitorioso, Alves diz ter aprendido a admirar Vaccareza naquela disputa. Afinal, se o outro falava por “dever de ofício”, ele “por idêntico dever – doído – ouvia e respeitava”. Depois dessa refrega, conta o bravo parlamentar desflorestador, os dois foram jantar juntos e foi “como se, de repente, desaparecesse por completo aquele sentimento de incompreensão”, surgindo a “empatia do homem público respeitado e respeitador”. Só um político é capaz de apanhar, aplaudir, sair para jantar com o algoz e vir a público contara anedota como exemplo de elevado grau de civilidade e espírito republicano. Em outras palavras, era puro jogo de cena. Nem mesmo as baratas atingem tal patamar de resiliência.
Atualmente, Henrique Alves está sendo obrigado a ler um livro sobre ele escrito pela mídia. O título poderia ser: “O que Ele Gostaria de Esquecer”. Tenho certeza de que as verdades reveladas não o abalarão. Não duvido de que venha a elogiar os jornalistas que o estão detonando. Nem que os convide para jantar. Só não tenho certeza de que ele pagaria a conta. Salvo se pudesse pedir nota para apresentar à Câmara dos Deputados. É da sua natureza.    Por Juremir Machado da Silva, www.correiodopovo.com.br..     

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