Em coletiva de imprensa, Roberson
Henrique Pozzobon criticou as medidas legislativas que prevêem mudanças na
colaboração premiada e pediu o engajamento da sociedade no combate à corrupção
Por Eduardo
Gonçalves, 04/07/2016,
www.veja.com.br
Os procuradores da força-tarefa da Lava Jato
fizeram nesta segunda-feira um discurso enfático contra as medidas legislativas
que prevêem alterações no instituto da delação premiada e nos acordos de
leniência. Em coletiva de imprensa convocada para detalhar a 31ª fase da operação, a Abismo, deflagrada hoje, os procuradores
pediram o engajamento de toda a sociedade no combate à corrupção e voltaram a
fazer campanha pelas dez medidas propostas pelo Ministério Público contra
crimes de colarinho branco, que tramitam no Congresso, e pela reforma política.
Em sua fala, o procurador Roberson Henrique
Pozzobon citou as operações Turbulência, Custo Brasil, Saqueador, Tabela
Periódica e a Abismo, deflagradas nos últimos quinze dias, como exemplo da
contribuição das delações às investigações e de como a corrupção está
"alastrada no país". Segundo Pozzobon, os agentes políticos são, na
maioria dos casos, os destinatários finais da propina e o "topo da cadeia
alimentar" dos esquemas.
"Nós precisamos estar atentos para as críticas
que se fazem a esses acordos de delação e leniência. Serão elas razoáveis? Qual
é o pano de fundo dessas críticas? O que nós vemos hoje e o que devemos nos
perguntar é: a quem interessa o desmonte do instituto do acordo de colaboração
e do acordo de leniência? A quem investiga ou a quem por meio desses acordos é
investigado?", indagou Pozzobon.
O procurador também pregou a união entre os órgãos
de investigação e a população para evitar que a "grande corrupção"
invista contra as apurações. "Essas quatro operações somadas à de hoje nos
mostram de uma forma muito clara que a corrupção está alastrada no nosso país e
que não há como enfrentar o crime organizado no país de forma desorganizada.
Precisamos cada vez mais que o MP, a polícia, o judiciário e a sociedade formem
uma grande rede de combate à corrupção", disse o procurador. "O povo
brasileiro já não agüenta mais agentes políticos que flertam e se casam com a
corrupção", completou.
Na coletiva, o procurador Julio Motta ainda lembrou
que a corrupção não se restringe a agentes públicos, mas também envolve o setor
privado. Como exemplo, citou a revelação feita na Abismo de que um consórcio de
empreiteiras pagou 18 milhões de reais à Wtorre para ela abandonar a licitação
do Centro de Pesquisa da Petrobras (Cenpes), no Rio. O contrato de 850 milhões
de reais para erguer o Cenpes é o principal alvo desta ação da Lava Jato.
"A corrupção também se alastrou no setor privado. Essa é uma cultura que
precisa ser mudada, tanto no ambiente privado como no público. Isso não pode
ser a regra do jogo", afirmou o procurador.
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