Por Augusto Nunes, 20/03/2016,
www.veja.com.br
Editorial do Estadão:
Qual é o verdadeiro Lula? Aquele que, sem saber que estava sendo ouvido,
afirma que o STF e o STJ estão “totalmente acovardados”; cobra gratidão do
procurador-geral da República pelo fato de ter sido nomeado pelo governo
petista; classifica de “palhaçada” a denúncia de que é alvo por parte do
Ministério Público; manda policiais e procuradores enfiar em lugar impublicável
as investigações que o envolvem; ou aquele que, em “carta aberta” obviamente
escrita por gente alfabetizada, tenta corrigir o devastador efeito negativo da
divulgação de suas conversas telefônicas legitimamente gravadas e divulgadas –
não “vazadas” – pela Operação Lava Jato?
Afirma Lula, no texto que assinou – e que devem ter lido para ele –, que
como presidente da República sempre respeitou o Poder Judiciário e apela ao
recurso demagógico de se fazer de vítima que tem sua intimidade “violentada por
vazamentos ilegais” e apela à falsa condição de pobrezinho, pessoa humilde e
bem-intencionada: “Não tive acesso a grandes estudos formais. Não sou doutor,
letrado, jurisconsulto. Mas sei, como todo ser humano, distinguir o certo do
errado; o justo do injusto”. Lula não diz a verdade. Ele, de fato, sabe o que é
certo e o que é errado. Mas nunca quis saber como se distingue uma coisa da
outra. Para ele, certo é tudo aquilo que faz e lhe dá prazer e proveito. Errado
é o que não lhe apraz ou pode prejudicar.
Tem sido sempre assim. Reeleito presidente, passou a demonstrar completo
desrespeito pelo Judiciário, ofendendo gravemente o STF com a afirmação de que
o processo do mensalão era uma farsa que ele trataria de desmontar depois que
deixasse o poder. Mas então o petrolão já estava funcionando a pleno vapor e
acabou com a fanfarronice do chefão petista.
O perfil moral do ex-presidente foi descrito, em palavras duras, pelo
decano da Suprema Corte, ministro Celso de Mello, ao repudiar, sem citar nomes,
as “ofensas” e “grosserias” de que os ministros togados foram alvo por parte do
ex-presidente: “Esse insulto ao Judiciário, além de absolutamente inaceitável e
passível da mais veemente repulsa por parte dessa Corte Suprema, traduz, no
presente contexto da profunda crise moral que envolve os altos padrões da
República, a reação torpe e indigna, típica de mentes autocráticas e arrogantes
que não conseguem esconder, até mesmo em razão do primarismo de seu gesto
leviano e irresponsável, o temor pela prevalência da lei e o receio pela
atuação firme, justa, impessoal e isenta de juízes livres e independentes”.
Várias entidades representativas de juízes, do Ministério Público e dos
policiais também repudiaram a tentativa de desqualificar o trabalho da
força-tarefa da Lava Jato e do juiz Sergio Moro.
A verdade é que Lula, hábil manipulador e especialista em dizer o que as
pessoas querem ouvir, subiu na vida no papel de líder populista, pragmático no
pior sentido do termo, sem nenhum compromisso sério senão com a crescente
volúpia pelo poder. Inculto, mas espertalhão, Lula deu um nó nos intelectuais
esquerdistas que se iludiram com a possibilidade de manipulá-lo e, com
indiscutível apoio popular, fingiu converter-se à política econômica que vinha
produzindo resultados e se elegeu a Presidência da República para amoldar a seu
feitio o “novo regime”: uma ação entre amigos com sotaque nitidamente sindical.
Enquanto a economia permitiu, o governo Lula mergulhou fundo em
programas sociais indiscutivelmente meritórios, mas insustentáveis quando
o panorama mundial se tornou adverso e a incompetência de Dilma Rousseff
impediu as necessárias correções. Hoje, com o governo se desintegrando
politicamente, inflação e desemprego crescentes e sem recursos para investir em
programas estruturantes, os brasileiros caíram na real. Já não têm ilusões e
isso os faz lutar por seus próprios direitos e interesses, o que significa
pôr-se do lado oposto do governo responsável por suas frustrações.
Lula, porém, parece acreditar que ainda conseguirá sobreviver ao
desastre político, econômico e moral que montou. Mas isso ficou muito mais
difícil a partir do instante em que as autoridades começaram a revelar à Nação,
com detalhes, os esquemas de corrupção que vêm sustentando o lulopetismo. E,
nesse processo, ficou exposta a verdadeira face de Lula, esse populista
irresponsável que procura dissimular sua verdadeira condição de abastado
burguês para manter a pose de líder popular que compartilha o destino dos pobres.
Nenhum comentário:
Postar um comentário