No momento, existem 22
empreendimentos com obras iniciadas, mas a maioria está parada
Por Augusto
Nunes, 11/07/2016,
Editorial do Estadão
A Copa do Mundo de 2014 deixará uma grande herança
ao País, anunciou o governo federal quando trouxe o espetáculo para o Brasil,
prometendo a realização de importantes obras de mobilidade urbana em várias
cidades. A promessa, no entanto, não se tornou realidade. Dois anos depois da
realização do torneio, boa parte das propostas continua no papel. Segundo dados
da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) e do Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC), apenas 18% dos 125 projetos de mobilidade
urbana relacionados à Copa do Mundo estão em operação.
No momento, existem 22 empreendimentos com obras
iniciadas, mas a maioria está parada. Variadas, as causas para a ineficiência
vão de erros de projeto a falta de recursos.
Como alternativa à construção do metrô – mais cara
e demorada –, vários dos projetos de mobilidade urbana previram a construção de
BRT (Ônibus de Trânsito Rápido) e de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos). Mesmo
esses projetos mais simples não foram finalizados.
As obras do VLT de Cuiabá (MT) estão paradas desde
dezembro de 2014 por divergências entre o Estado e o consórcio construtor. O
grupo pede R$ 1,3 bilhão para concluir o projeto, que já recebeu até o momento
desembolsos de R$ 1,06 bilhão. Segundo o governo estadual, auditoria feita pela
KPMG indicou necessidade de aporte de R$ 602 milhões. A disputa foi parar na
Justiça. Diante do impasse, chegou-se a cogitar a troca da modalidade de
transporte, de VLT para BRT, mas – segundo o secretário de Cidades do Estado,
Eduardo Chiletto – a possibilidade foi descartada por causa das obras já executadas.
Já o BRT de Belém (PA) teve de ser readequado pela
administração atual por causa de erros no projeto, elaborado durante a gestão
anterior. Segundo a Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém, o
desenho original não previa área para ultrapassagem dos ônibus. Já as estações,
incompatíveis com o clima da cidade, tiveram de ser devolvidas. Os erros
levaram ao cancelamento das licitações e à elaboração de novos contratos,
atrasando a liberação de recursos e a retomada das obras. O início de operação
experimental está previsto para a primeira quinzena de julho.
Em outras cidades, a falta de dinheiro fez com que
o projeto de BRT fosse substituído por um simples corredor de ônibus. “Estão
levando muito tempo para uma obra simples e que, depois de pronta, não atende
às necessidades da população”, diz Halan Moreira, vice-presidente da Brasell
Gestão Empresarial, empresa do setor de mobilidade.
Muitas vezes, a falta de recursos para os projetos
é sintoma também de mau planejamento. Por exemplo, o governo federal pôs à
disposição R$ 150 bilhões para a mobilidade urbana, mas não foi prevista a
parcela de recursos dos Estados e municípios, muitos deles sem capacidade para
investir. Houve empreendimentos que não foram adiante por falta de verbas para
as desapropriações, que deveriam sair dos cofres municipais em valores quase
iguais aos do próprio projeto.
A ineficiência também afetou os projetos de
monotrilho, mais complexos e mais caros. Segundo o último balanço do PAC, havia
cinco projetos dessa modalidade no País. Por enquanto, apenas a Linha 15 de São
Paulo, que liga duas estações num trecho de 3 km, está em operação. A Linha 17,
que ligará o Aeroporto de Congonhas ao Morumbi, estava com as obras paradas até
pouco tempo atrás. Os outros empreendimentos continuam parados.
Em 2010, Lula havia prometido que “a Copa será uma
grande oportunidade para acelerar o crescimento em infraestrutura necessário
para o Mundial e fundamental para o desenvolvimento do nosso Brasil”.
Posteriormente, a pupila Dilma Rousseff repetiu várias vezes semelhante
falácia. O resultado está aí e bem reflete os anos do PT no poder – um discurso
nacionalista embalando ineficiência e corrupção.
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