Ex-ministro dos governos Lula e
Dilma foi preso hoje na deflagração da Operação Custo Brasil, desdobramento da
Lava Jato em São Paulo
Veja,
23/06/2016,
O ex-ministro do Planejamento e Comunicações dos
governos Lula e Dilma, Paulo Bernardo, preso preventivamente nesta quinta-feira na Operação Custo Brasil,
recebeu cerca de 5,6 milhões de reais do esquema de corrupção montado no
Ministério do Planejamento, entre 2010 e 2015, segundo o Ministério Público
Federal em São Paulo. Em coletiva de imprensa, o procurador Andrey Borges de
Mendonça afirmou que há provas de que 7 milhões de reais do esquema foram
remetidos para um escritório de advocacia, em Curitiba, que, por sua vez,
repassou 80% desse montante (5,6 milhões de reais) para Paulo Bernardo por meio
de um contrato fictício.
"Foi contratado esse escritório para serviços
que não existiam, o advogado [Guilherme Gonçalves] recebia esses valores e
direcionava 80% à custa de Paulo Bernardo. [O dinheiro] servia para o pagamento
de empregados dos dois [do ex-ministro e do advogado] e de custos de honorários
referentes a ações na Justiça Eleitoral. Isso é o que nós estimamos, mas pode
ainda ser mais", afirmou o procurador, destacando que os investigados
faziam parte de uma "organização criminosa" instalada no
"coração do governo".
A operação deflagrada hoje decorre de um
desdobramento das Operações Pixuleco I e II, da Lava Jato, e têm como objeto de
apuração um contrato firmado com a empresa Consist para o gerenciamento de
empréstimos a servidores do Ministério do Planejamento. Segundo o
superintendente da Receita Federal Fábio Ejchel, o servidor que contraísse o
financiamento consignado com a pasta acabava pagando 1 real por parcela, ao
invés de 30 centavos, conforme o valor de mercado. O dinheiro desviado era
repassado da Consist para o escritório de advocacia, que, por sua vez, distribuía
os valores aos seus parceiros, entre eles o ex-ministro, por meio de empresas
de fachada, de acordo com as investigações.
Além de Paulo Bernardo, um mandado de prisão preventiva
foi expedido contra o advogado do escritório, Guilherme Gonçalves, que ainda
não foi localizado pela PF. Ele prestava assessoria jurídica para as campanhas
da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher de Paulo Bernardo, que não pode ser
investigada pela procuradoria de São Paulo por ter foro privilegiado.
Segundo os investigadores, Paulo Bernardo continuou
recebendo os valores, mesmo após ter saído do ministério do Planejamento no
governo Lula (de 2005 a 2011) para assumir o das Comunicações no governo Dilma
(de 2011 a 2015). O esquema envolvia a participação do primeiro, segundo e
terceiro escalão do Ministério do Planejamento - no caso, o ministro e o corpo
diretivo da pasta. A procuradoria apontou que os desvios totalizaram, ao todo,
a 100 milhões de reais, num período de cinco anos.
"Cem milhões de reais foram desviados de
funcionários públicos que se privaram de medicamentos e das suas necessidades
básicas para abastecer os cofres dos corruptos. Não podemos admitir que isso
seja o custo Brasil", afirmou Mendonça. O procurador ainda destacou o fato
de a operação de hoje ser resultado de um desmembramento da Lava Jato, que foi
tirada da alçada do juiz Sérgio Moro e da procuradoria em Curitiba por não ter
relação com os desvios do petrolão. "Isso foi uma demonstração que, na
verdade, as investigações vão continuar onde quer que elas estejam. Mostram
também que a corrupção não é um privilégio da Petrobras, mas está espraiada
como um câncer em diversas entidades da sociedade", disse.
O advogado Rodrigo Mudrovitsch, que defende Paulo
Bernardo e Gleisi, afirmou que a prisão do ex-ministro "não se
justifica". "O meu cliente não ocupa mais nenhuma função pública e
sempre se colocou à disposição das autoridades para prestar
esclarecimentos".
Nenhum comentário:
Postar um comentário