Relatório de órgão de
fiscalização do governo mostra que a empresa de Lula faturou 27 milhões de
reais - sendo 10 milhões apenas das empreiteiras envolvidas no escândalo de
corrupção da Petrobras
Por Rodrigo
Rangel, 14/08/2015,
www.veja.com.br
ELITE -
Desde que deixou o governo, em 2011, Lula abriu uma empresa e se dedicou a dar
palestras pagas no Brasil e no exterior. Em quatro anos, juntou uma fortuna
Para um presidente da República de qualquer país, é
enaltecedor poder contar que teve origem humilde. O americano Lyndon Johnson
mostrava a jornalistas um casebre no Texas onde, falsamente, dizia ter nascido.
A ideia era forçar um paralelo com a história, verdadeira, de Abraham Lincoln,
que ganhou a vida como lenhador no Kentucky. Lula teve origem humilde em
Garanhuns, no interior de Pernambuco, e se enalteceu com isso. Como Johnson e
Lincoln, Lula veio do povo e nunca mais voltou. É natural que seja assim. Como
é natural que ex-presidentes reforcem seu orçamento com dinheiro ganho dando
palestras pagas pelo mundo. Fernando Henrique Cardoso faz isso com freqüência.
O ex-presidente americano Bill Clinton, um campeão da modalidade, ganhou
centenas de milhões de dólares desde que deixou a Casa Branca, em 2001. Lula,
por seu turno, abriu uma empresa para gerenciar suas palestras, a LILS,
iniciais de Luiz Inácio Lula da Silva, que arrecadou em quatro anos 27 milhões
de reais. Isso se tornou relevante apenas porque 10 milhões dos 27 milhões
arrecadados pela LILS tiveram como origem empresas que estão sendo investigadas
por corrupção na Operação Lava-Jato.
Na semana passada, a relação íntima de Lula com uma
dessas empresas, a empreiteira Odebrecht, ficou novamente em evidência pela
divulgação de um diálogo entre ele e um executivo gravado legalmente por
investigadores da Lava-Jato. O alvo do grampo feito em 15 de junho deste ano
era Alexandrino Alencar, da Odebrecht, que está preso em Curitiba. Alexandrino
e Lula falam ao telefone sobre as repercussões da defesa que o herdeiro e
presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, também preso, havia feito das obras
no exterior tocadas com dinheiro do BNDES. Os investigadores da Polícia Federal
reproduzem os diálogos e anotam que o interesse deles está em constituir mais
uma evidência da "considerável relação" de Alexandrino com o
Instituto Lula.
Fora do contexto da Lava-Jato, esse diálogo não
teria nenhuma relevância especial. Como também não teria a movimentação
financeira da LILS. De abril de 2011 até maio deste ano, a empresa de palestras
de Lula, entre créditos e débitos, teve uma movimentação de 52 milhões de
reais. Na conta-corrente que começa com o número 13 (referência ao número do
PT), a empresa recebeu 27 milhões, provenientes de companhias de diferentes ramos
de atividade. Encabeçam a lista a Odebrecht, a Andrade Gutierrez, a OAS e a
Camargo Corrêa, todas elas empreiteiras investigadas por participação no
esquema de corrupção da Petrobras. Essas transações foram compiladas pelo
Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da
Fazenda. O Coaf trabalha com informações do sistema financeiro e seus técnicos
conseguem identificar movimentações bancárias atípicas, entre elas saques e
depósitos vultosos que podem vir a ser do interesse dos órgãos de investigação.
Neste ano, os analistas do Coaf fizeram cerca de 2 300 relatórios que foram
encaminhados à Polícia Federal, à Receita Federal e ao Ministério Público. O
relatório sobre a LILS classifica a movimentação financeira da empresa de Lula
como incompatível com o faturamento. Os analistas afirmam no documento que
"aproximadamente 30%" dos valores recebidos pela empresa de palestras
do ex-presidente foram provenientes das empreiteiras envolvidas no escândalo do
petrolão.
O documento, ao qual VEJA teve acesso está em poder
dos investigadores da Operação Lava-Jato. Da mesma forma que a conversa do
ex-presidente com Alexandrino Alencar foi parar em um grampo da Polícia
Federal, as movimentações bancárias da LILS entraram no radar das autoridades
porque parte dos créditos teve origem em empresas investigadas por corrupção.
Diz o relatório do Coaf: "Dos créditos recebidos na citada conta, R$ 9
851 582,93 foram depositados por empreiteiras envolvidas no esquema criminoso
investigado pela Polícia Federal no âmbito da Operação Lava-Jato". Seis
das maiores empreiteiras do petrolão aparecem como depositantes na conta da
empresa de Lula (veja a tabela na pág. 51).
O ex-presidente tem uma longa folha de serviços
prestados às empreiteiras que agora aparecem como contratantes de seus serviços
privados. Com a Odebrecht e a Camargo Corrêa, por exemplo, ele viajava pela
América Latina e pela África em busca de novas frentes de negócios junto aos
governos locais. Outro ponto em comum que sobressai da lista de pagadores da
empresa do petista é o fato de que muitas das empresas que recorreram a seus
serviços foram aquinhoadas durante seu governo com contratos e financiamentos
concedidos por bancos públicos. Uma delas, o estaleiro Quip, pagou a Lula
378 209 reais por uma "palestra motivacional". Criada com o objetivo
de construir plataformas de petróleo para a Petrobras, a empresa nasceu de uma
sociedade entre Queiroz Galvão, UTC, Iesa e Camargo Corrêa - todas elas
investigadas na Lava-Jato. No poder, Lula foi o principal patrocinador do
projeto, que recebeu incentivos do governo. Em maio de 2013, ele falou para
5 000 operários durante 29 minutos. Ganhou 13 000 reais por minuto.
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