Além de ir para o bolso de
políticos graúdos do partido, desvios foram remetidos ao caixa da legenda por
meio dos ex-tesoureiros Paulo Ferreira e João Vaccari Neto, alvos da Operação
Custo Brasil
Por Eduardo
Gonçalves, 23/06/2016,
www.veja.com.br
O esquema de corrupção montado no Ministério do
Planejamento durante a gestão de Paulo Bernardo foi usado para abastecer o caixa do Partido dos
Trabalhadores, segundo os autos do inquérito da Operação Custo Brasil
deflagrado nesta quinta-feira. Entre os destinatários da propina, aparecem os
nomes dos ex-tesoureiros do PT Paulo Ferreira e João Vaccari Neto (um sucedeu ao outro no cargo) e do ex-vereador
petista Alexandre Romano, o Chambinho, que fechou acordo de delação premiada
com a Lava Jato e cujos depoimentos fundamentam a operação de hoje. De acordo
com as apurações, os três eram responsáveis por arrecadar dinheiro em nome do
partido. Os tesoureiros tiveram a prisão preventiva decretada, junto com a do
ex-ministro, pela 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo.
O objeto principal da operação é um Acordo de
Cooperação Técnica firmado entre a Consist e o Ministério do Planejamento, em
2010. A empresa em questão prestaria assessoria na gestão de empréstimos
consignados concedidos a servidores da pasta. Como taxa de administração, os
funcionários pagavam à Consist 1 real em cada parcela mensal, enquanto o custo
real seria de 30 centavos, conforme os investigadores. Esse sobre preço, que
teria alcançado a cifra de 100 milhões de reais entre 2010 e 2015, era
repassado para o bolso de políticos, como os ex-ministros Paulo Bernardo e Carlos Gabas, operadores do esquema e, principalmente, para o
PT, por meio de dezenas de empresas-fantasmas.
O dinheiro endereçado ao partido foi intermediado
inicialmente pela empresa de fachada CRLS Consultoria e Eventos, depois pela
PolitecTecnologia da Informação, e, por fim, pela Jamp - as três teriam sido
indicadas por Vaccari. Esta última é ligada ao lobista - e agora delator -
Milton Pascowitch, que já disse à Lava Jato ter entregue dinheiro em espécie na
sede do PT. Diretores da Consist relataram aos investigadores que "não
houve qualquer prestação de serviço" correspondente aos pagamentos. O
valor recebido por essas empresas foi de pouco mais de 10 milhões de reais em
prol do PT.
Segundo os autos, após deixar o cargo de
tesoureiro, Paulo Ferreira teria orientado Romano a "tratar do tema
Consist" com Vaccari Neto, que havia assumido o seu lugar. Um dos
argumentos que baseiam o pedido de prisão de Ferreira é que ele teria tentado
"interferir" no depoimento de Pascowitch à força-tarefa da Lava Jato,
"afinando [com ele] o discurso", o que caracteriza, portanto,
tentativa de obstrução das investigações.
Alexandre Romano, por sua vez, teria indicado para
os repasses as empresas NSG TI Solution, SWR Informática, Instituto João
Baptista Romano, Logix & Participações, Link Consultoria Empresarial, SX
Comunicação e Portanova e Advogados Associados. Segundo o inquérito, parte do
dinheiro era remetido a ele "por sua atuação como lobista junto ao Partido
dos Trabalhadores". Em coletiva, o procurador da República Andrey Borges
afirmou que 80% da propina destinada a Romano ficava com o PT. Não é possível
precisar o valor total do esquema recebido pelo partido, pois o dinheiro
passava pela conta de diversas empresas até chegar ao seu destino final.
Paulo Bernardo -- Em relação aos pagamentos feitos ao ex-ministro
Paulo Bernardo, as evidências colhidas pelos investigadores são mais claras. A
PF identificou, por meio de cerca de 100 notas fiscais apreendidas, um repasse
de 7.170.031,74 reais para o escritório do advogado Guilherme Gonçalves, que
prestava assessoria jurídica às campanhas da senadora Gleisi Hoffmann (PT-RR),
mulher de Paulo Bernardo. Oitenta por cento desse valor seria destinado a pagar
despesas do ex-ministro, como, por exemplo, a renumeração de um assessor, do
motorista e do próprio advogado.
Segundo a procuradoria, o acerto inicial era de que
Paulo Bernardo receberia 9,6% do total do faturamento da Consist. Quando ele
deixou o Ministério do Planejamento, em 2011, para assumir o das Comunicações,
a propina destinada a ele foi reduzida para 4,8%, e entre 2014 e 2015, diminuiu
novamente para 2,9%. Quem teria assumido o seu posto como mantenedor do esquema
foi o então secretário de Gestão do Planejamento, Valter Correia da Silva, também preso hoje, que no ano
passado deixou o cargo para ser secretário de Gestão do prefeito Fernando
Haddad (PT). Nesta quinta, ele pediu exoneração para se defender no caso.
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