Por Reinaldo Azevedo, 30/06/2015,
www.veja.com.br
Uma trilha sonora para Lula.
Oba! Agora vai! Luiz Inácio Lula da
Silva esperou que os gatos fossem aos EUA para ir a Brasília e se reunir com as
bancadas do PT da Câmara e do Senado. Foi lá passar instruções. Como se a sua
própria campanha em 2006 não estivesse sob investigação na Lava Jato, decidiu
pregar o que chamou “enfrentamento político” da operação. Quem traduziu, com a
habilidade habitual, o espírito da coisa foi o líder do governo na Câmara, José
Guimarães (PT-CE). Como o próprio Lula vinha criticando o partido e o governo
até anteontem, Guimarães resumiu: “Isso é página virada. Ele falou da necessidade
de a bancada atuar como um coletivo na defesa do governo e do PT, de enfrentar
a oposição com o mesmo radicalismo que eles nos enfrentam”.
Ah, entendi melhor. Lula acha que o que
está faltando ao PT é um pouco mais de radicalismo, um pouco mais de confronto,
um pouco mais crispação. Eu aplaudo! Acho que esse é caminho mais curto para o
partido se enterrar. E não serei eu a tentar evitar.
Lula tem a fórmula mágica para resolver
as dificuldades. Ciente de que ele próprio tem batido em Dilma e no PT, teria
dito aos parlamentares que é chegada a hora de “virar a página do ajuste
fiscal” e exaltar os aspectos que considera positivos da gestão: Plano Safra,
retomada do Minha Casa Minha Vida e o programa de concessões. Que pena que a
inflação está em 9%.
Ah, sim: se Paulo Paim (PT-RS) entendeu
direito o encontro, Lula também pregou a necessidade de o partido se
reaproximar dos movimentos sociais — alguém já ouviu isso antes ou não? Assim,
teria dito o chefão, “o PT tem tudo para ressurgir com força”. Paim só se
esqueceu de dizer como se opera isso quando o caixa está vazio. Nesta terça,
Lula toma café da manhã com Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado.
Imaginem uma radicalização à esquerda
do partido em São Paulo, por exemplo. Lula já era. Morreu politicamente e se
nega a reconhecer. A trilha sonora é “The Walking Dead”
Então
vamos ver
Eu não gosto do PT e acho que o partido, hoje, faz mal ao país e o conduz ao atraso. Espero que seja batido nas urnas. Logo, quando seus líderes cometem erros no que diz respeito à economia interna da legenda, não ao país, eu aplaudo. Assim, petistas não precisam acreditar no meu juízo objetivo.
Mas este segue sendo um juízo objetivo:
é evidente que Lula jamais poderia ter feito essas reuniões quando Dilma está
fora do Brasil. Quando menos, está tentando, e conseguindo, dividir com ela a
ribalta. E a troco de quê? De nada! Ele foi a Brasília dizer uma porção de
banalidades, que só serviram para desautorizar a sua sucessora.
Mais: há um vice-presidente da
República, presidente em exercício e também pessoa encarregada da coordenação
política. Ainda que possa alegar que foi lá cuidar de questões partidárias, é
claro que estava tratando também de temas relevantes para o governo. Lula não
tem a menor ideia de institucionalidade.
É ele o fundador dessa República da
bandalheira, ainda que fosse um santo. Entendam: quando escrevo isso, não estou
necessariamente apontando seu comportamento doloso — vamos ver o que diz a
Operação Lava Jato. Afirmo que o modo desassombrado com que atua no espaço
público estimula a informalidade, o voluntarismo e o improviso. E isso, meus
caros, resulta no que estamos vendo aí.
Pode não parecer, mas este senhor que
foi expelir regras em Brasília continua no seu esforço para dizer que não tem
nada a ver com a crise que vivemos. Enquanto Dilma se encontra nos EUA, ele se
oferece como a solução. Notem: ela está longe, e ele surge como a suposta
resposta. Até parece que o desastre em curso não é o desmoronamento de um
sistema de que é ele o criador.
O mal que este senhor faz ao país é
muito maior do que a gente pode perceber à primeira vista. The Walking Dead.
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