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Lula e Dilma, duas faces de uma mesma
moeda que vale cada vez menos na escala da credibilidade política, partiram
para o devaneio como arma de conquista. Nos últimos dias, mergulharam num
festival de declarações histriônicas e sem vínculo com a realidade, bem ao
estilo de quem pensa que pode ganhar qualquer disputa na base do grito. Lula
passou a debochar da Operação Lava Jato, considerada um “carrapato” que
incomoda, segundo sua classificação. “Isso incomoda como uma coceira. Já teve
carrapato?”, ironizou ele. “Eu duvido que se ache um empresário a quem eu pedi
R$ 10”. As investigações já acharam vários que declararam e demonstraram
demandas de auxílio ao ex-presidente. Mas as evidências não interessam a ele.
Muito menos os testemunhos que o colocam cada vez mais no centro do petrolão.
Lula almeja e busca com persistência embaralhar versões a seu favor. Arrota
valentia. Apela a digressões. De uns tempos para cá seus movimentos traíram a
couraça de destemido, deixando escapar sinais latentes de desespero. O líder do
PT tenta a todo custo escapar do cerco de Curitiba. Desqualifica o trabalho do
juiz responsável, Sergio Moro. Abarrota os escaninhos do Supremo com petições
pedindo o deslocamento de seus processos para outra esfera legal. O medo da
prisão iminente, dele e de seus familiares, o atormenta. Nos grotões do
nordeste, para onde seguiu na semana passada à procura de incautos que se
iludem com suas prosopopéias e caem em
crendices – como a de que os escândalos de desvios não passaram de armações
para destruir o PT -, Lula armou seu show. “Política é que nem uma boa cachaça,
você começa e não quer parar… se eles não sabem governar sem privatizar, eu
sei”, provocou. Em Juazeiro, na Bahia, Petrolina, Carpina e Caruaru, em
Pernambuco, chapéu de couro na cabeça a criar identidade com os locais,
desafiava como paladino da moralidade seus moinhos de vento: “se eles quiserem
reduzir os direitos do povo brasileiro a pó, eu digo, não me provoquem!”. Lula
alegou ficar “P.” da vida com seus detratores. Impropérios à parte, ele cantou
vantagens a torto e à direita. Disse que derrotar o impeachment está mais
fácil. Que o governo interino vai vender o patrimônio do País. Satanizou
adversários. Repetiu a tática da propaganda enganosa. Ali valeu de tudo.
Foi o script seguido à risca e no
mesmo tom pela pupila e presidente afastada, Dilma Rousseff. Quem recorda seus
antológicos deslizes verborrágicos e promessas vazias, sabe que ela não tem o
mesmo dom de convencimento do padrinho. Afinal, a confusão de ideias que já
ocupou suas análises sobre vento estocado, mandioca, mulher sapiens ou provas
nas nuvens, só não é maior que as lorotas que ela insiste em contar para se
manter no poder. Agora diz que será possível governar sem o Congresso. Que irá
passar emendas automaticamente, “sem precisar de projeto de lei”. Dilma afirma
que “mulher não cede, não renuncia”. Que Temer quer interromper o “Minha Casa,
Minha Vida”, o “Bolsa-Familia”, o Pronatec…, que o governo interino “é a cara
do Eduardo Cunha” e que “quando voltar” muita coisa vai mudar. Quem hoje dá
ouvidos ou crédito ao que ela alardeia? Dilma estabeleceu que a Câmara dos
Deputados tinha de votar em alguém que fosse contra o impeachment. Outorgou ao
seu ex-ministro, Marcelo Castro, a prerrogativa de concorrer com apoio da bancada
petista. Experimentou nova e fragorosa derrota. Mas, mesmo assim, sem
constrangimento, pregou que as pedaladas, por exemplo, são um problema menor.
No mundo real, o Ministério Público, em mais um front de ataque à dupla do
barulho, notificou Lula para que ele explicasse por que o Banco do Brasil
guardava objetos valiosos de sua propriedade. Dilma, por sua vez, teve que
amargar duras considerações do TCU e do MPF sobre seus crimes. Fatos que
seguem, apesar das tonitruantes negações de seus responsáveis.
Carlos José Marques é diretor editorial da Editora Três
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